sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Um Almoço no Café...



Queres olhar para mim e dizeres-me o que sentes? Olhar para mim um dia e descarrilar todos os sentimentos abafados, todos os desejos reprimidos? Podes fazê-lo. Deves fazê-lo.
Aliás, deixa-me dizer-te que é meu sentimento abafado e desejo reprimido que tu me olhes e encontres no meu centro tudo aquilo que é para os demais invisível, pois acredito que os teus olhos têm um qualquer radar capaz de ver tudo aquilo que em mim existe.
Porque eu, eu amo-te, e sem esse descarrilamento nunca poderei saber se me amas de verdade, tu, quieto como uma coruja sábia, sempre austero e respeitador, nunca dando importância às minhas birras e provocações, e ignorando todas as investidas que tento evidenciar para te trazer a mim.
Deixa-me aconchegar-te nos meus braços de arco-íris, saborear a tua alma e polvilhá-la com as especiarias que o meu mundo comporta, enraivecer-te, contraplacar-te contra a estante desses livros desinteressantes que a tua inércia cultural mantém poeirentos mas que a tua consciência continua a comprar compulsivamente.
Revolta-te. Preciso d sentir que tens vida dentro dessa caixa de ossos ambulante, que sangras por dentro quando alguém te pisa, que sentes realmente uma vontade de possessão e que és animal por milésimos de segundo, quando almoças, no café da esquina, e enquanto o guardanapo limpa os molhos esquecidos ao acaso nos teus lábios, uma mulher se bamboleia…
Não sou mulher de alma firme ou espírito tranquilo, mas acredito que também não o sejas, que também te sintas linha torta de um equador desequilibrado, que anseies por um abraço que embale os teus medos, e que me queiras contigo...
Não estou aqui para te salvar, nem tampouco quero que me salves! Quero, antes, se assim o tiver de ser, que nos afoguemos juntos neste oceano perdido de mentiras e segredos ondeando entre os humanos…
Por isso, espero ainda entrar no café onde almoças e bambolear-me à tua frente, enquanto tu sentes uma vontade avassaladora de me possuíres e, não sabendo como lidar com ela, deixas sair em catadupa tudo o que sentes, sem abafares ou reprimires o desejo de que saiamos do café de mãos dadas, rumo a um sem fim gostosamente desconhecido…



>Mariana Silva

2 comentários:

Anónimo disse...

Mariana, isto não fica assim. Ai não fica, não!
Tanto quanto o meu tempo me permitir e os meus contactos me ajudarem, este blog vai sair do seu casulo mais depressa do que contas.
Para já, obrigado. Obrigado pelos agradáveis arrepios que a leitura dos teus textos me provocam e pela oportunidade que me dão de regressar a uma idade - e a todos os sentimentos e vivências a ela associados - a que já não posso regressar.
Viver ao lado do Diogo já é, para mim, como entrar numa cápsula e viajar no tempo. Ler os teus textos é o mais delicioso complemento dessas viagens.
Obrigado aos dois.

Anónimo disse...

Eu é que nao sei como lhe agradecer... :)

> Mariana Silva