segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Pré-Paizão

Toda a gente tem um momento decisivo na vida, aquele ponto de viragem dos rotineiros principios existenciais que pululam nomadamente durante as nossas semanas e voltam teimosamente na segunda feira. Eu tive esse momento no dia em que, como que se estivesse escrito nas estrelas, me perdi de amores por uma rapariga amorosa, que desde então me tem preenchido a vida de tal maneira que quase me esqueço que tenho realmente uma vida própria. Esqueço-me porque não necessito de vida própria quando tenho uma vida com ela...
Mas a verdade é que me aguarda - e eu aguardo por ele - um ponto verdadeiramente decisivo no meu percurso: o nascimento do meu primeiro filho.
Eu imagino-me pai. Mas mais que pai imagino-me "pré-pai", um pai "Pré-Natal", que quando o filho ainda for uma sementinha já tem uma bola de futebol para estrear em casa, um guizo que pela altura em que o bebé nascer já nãoo funciona, um baby-grow que já se sabe que não vai servir - um baby-grow que vai decidir o sexo do meu filho, já que, com o azar que não me falha, se comprar cor-de-rosa será menino e os amigos bebés vão-lhe bater no infantário; se comprar azul será menina e jogará futuramente futebol com os meninos.
Imagino-me a acordar às quatro da manhã, com o toque da minha mulher, a apetecer-lhe um chocolate Ferrero em pleno Verão. E vou eu de carro até ao Leste, onde o tempo é frio e o Ferrero não sai do mercado. E sei que vou voltar a casa e a minha mulher não vai comer o chocolate todo, vai deixar metade e vai-lhe apetecer abacate.
Imagino-me a escolher um nome para o filho, de "O Grande Livro dos Nomes" na mão, sublinhando uns, rindo-me doutros, vomitando alguns.
Imagino-me na sala de espera do Hospital - com o azar que eu tenho, será cesariana e eu não poderei assistir - fumando todos os cigarros que tenho evitado ao longo da vida, perdendo uma semana e meia de existência só naquele tempo que estou à espera de notícias. E a parteira vir-me dizer "Já nasceu, é um rapagão!" ou "Já nasceu, é uma linda menina!" e "Estão ambos bem!". E eu corro para o quarto onde repousa o meu rebento, pequenino, frágil, vermelhíssimo, feio como qualquer outro, mas tão especial. "Tem os olhos da mãe", dirão. "Como é que sabem se ainda não os abriu?", responderei. "Herdará o nariz do pai?", perguntarão. "Espero que não", responderei. "E o corpo, será do pai?", insistirão. "Virem essa boca para lá!", implorarei.
Farei planos para ele. "Será um craque a jogar futebol, uma mistura explosiva da impulsão de Cristiano Ronaldo e a técnica de Deco. Será óptimo aluno, empenhado, inteligente e muito educado. Será lindo e terá resmas de raparigas atrás dele, esperemos só que não engravide nenhuma, nem idade tenho para ser filho, quanto mais para ser avô... Conquistará milhares de amigos e simpatizantes pela sua simpatia, bondade, sorriso encantador e íncrivel capacidade que herda do pai de conseguir fazer barulhos com o pulso". Tudo bem que a ordem das prioridades não é exactamente esta, mas que o meu filho será isto tudo e muito mais tenho eu a certeza. Bem, se jogará muito bem à bola, isso tenho que acreditar nas palavras do meu avô que afirma que no seu tempo era um virtuoso da bola e rezar para que os genes desporivos o meu filho os herde dele.
Até lá, aproveito para dormir. E quanto vou sonhar com estes momentos de repouso quando acordar a meio da noite, não com o desejo de abacate da minha mulher, mas com o desejo de algo lactícinio do meu insuportável filho.

Diogo Hoffbauer

3 comentários:

Anónimo disse...

Este texto derreteu-me...
...e vai certamente derreter quem o ler.
É sem dúvida alguma o teu melhor texto...e o tema é também o mais bonito de todos.
E é evidente que vais dar um excelente pai...
Grande Diogo...as 21:42 da noite conseguist fazer-me suspirar... :p

Rita M.

Anónimo disse...

Tão comovente...Ta mm mto fofo^^ e concordo k é o melhor tema de todos. Pelo k escreves-te notasse k vais ser 1 "super Pai babado"

Parabens, ta lindoo =)

Just_me

Anónimo disse...

Obrigado por este texto, filhote. É delicioso e deixa-me que o leia duma forma egoísta, ficando a pensar que, além das costelas que se conseguem contar à vista desarmada e ao apêndice nasal, ainda mais alguma coisa houve em que saiste a mim...