terça-feira, 28 de outubro de 2008

this is not our last dance




We're giving
LOVE.



Saudações da Batata a todos.
Até um dia ;)

sábado, 25 de outubro de 2008

alma negra

O Diogo iniciou o seu vôo a solo, mas terá sempre este ninho à espera.
Porque um devaneio nao é devaneio sem duas partes da distintas da batata...

como já lá vai muito tempo, deixo aqui um poema :)
as vivencias universitárias ja começam a entranhar-se; há novas pessoas, novas situações, um novo mundo.
E para todos os que se trajam (e trajarão) de negro, aqui fica.

* * *



Engulo em seco.
nao sei o que fiz do tempo, tenho as mãos vazias.
no olhar encontro a verdade que as palavras camuflam - mas não deixo que escondam.

tenho os punhos cerrados. sinto crescer uma força que sei de onde vem
mas que, em conversa, nao me diz para onde vai.
(nem consigo olhá-la nos olhos para descobrir).

engulo em seco.
fico sem fala, sem raciocinio,
porque a alma ocupa todo o espaço,
usurpadora,
e choro, soluço, sem saber explicar a razão,
sentindo-a, ao extremo,
desta forma louca que o coração tem de interpretar
o que é racional.

quem me contou esta história foram as personagens;
fizeram-me desejar ser parte integrante do cenário,
sentir com sentimento de quem sente
isto que começo ja a sentir
não sabendo explicar o que sinto...
mas sei porquê.

sei a razão,
porque a experimento loucamente, desvairada,
e choro tão despida da vida com que aqui cheguei...
sou agora menos, mas sou tão mais
(e a jornada mal começou).
engulo em seco.
não sei o que fiz do tempo, tenho as mãos vazias.


[1 de Outubro de 2008]
DURA PRAXIS, SED PRAXIS

>> Mariana Silva

sábado, 4 de outubro de 2008

do que éramos e ainda somos



Do tempo em que éramos, sobrou o que somos agora.

Passou o Verão... e uma nova estação tapeteia a vida com folhas douradas e ressequidas.
Estamos velhos.
As responsabilidades já não deixam tempo nem sequer para pensarmos em que como era bom não ter quaisquer responsabilidades. Somos peças do puzzle.
No tempo que tem passado, as mudanças deixam apenas uma constante, resistente: somos amigos. E com a partilha das experiências, o desvendar das novas etapas, os sorrisos, as lágrimas, os textos que mais recentemente nenhum dos dois tem conseguido expôr aqui... Tudo é o pedaço inanimado de nós, deste coração uníssono, desta certeza que ainda resiste.

Estamos grandes, nao é verdade?
Sim, olhar o bilhete de identidade começa já a provocar um friozinho na barriga. Porque sabemos que não podemos voltar para trás, nesta estrada que percorremos - cada vez com mais fervor, mais garra, mais vida.

A todos (os que ainda resistem) um muito obrigado.


Mariana e Diogo.
Diogo e Mariana.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Prémios





Dois prémios consecutivos.
Para quem não escreve, é obra!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Livro Aberto

Folheia-me a alma
e vem contar-me a história do que já passou
porque esqueci a cor das madrugadas,
a luz dos beijos,
o sabor das palavras.
Roubei ao tempo uma fatia
e fiz questão de adormecer sem horas
para despertar.

Mas
- e com isso eu não contava!-
(e com isso ninguém contava)
vieste embrulhado nor orvalho matinal,
enregelaste-me,
fizeste-me aquecer-me em ti,

enquanto sentiamos o mundo rodopiar
e nós
como livros deixados ao acaso,
com as páginas ao vento...


>>> Mariana Silva

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Garçon



Fixada neste olhar ficou a certeza de te ter.
Os lábios humedeceram-se
ao tocar a colher de chá
que trazia o qente que te ardia no peito...
E num instante de vida
fomos um do outro.

Ficaste a olhar-me ao longe,
como se a proximidade nos viesse roubar
a essencia que carregavamos.

Uma palavra, um sopro
e tudo teria mudado
se nós tivessemos mudado...
Mas não...

Fixada neste olhar ficou a certeza de te ter...
Entre os minutos em que tudo poderia ser real
preferimos eternizar o sonho,
Como se a proximidade nos viesse roubar
a essencia que carregavamos.


>>> Mariana Silva
[inspirado na legenda que a minha Mafalda atribuiu à fotografia ^^]

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Lê.

Lê as cartas em branco que te deixei debaixo da almofada.
Não tive nem coragem para tas entregar em mão, de tão violentas.
São feitas de gritos
de mortes
de azares.

Escritas com a falta de paciência
enjaulada na alma dura,
O seu papel dobrado com a raiva existencial
das estações mortas do ano,
O envelope selado com o beijo azedo
de quem não sabe o que é amar.

Lê.
Quero sentir o teu sangue
verter, verter, verter…
Em lágrimas
Pela face moribunda
de quem nunca esteve vivo
Para mim.



>>>Mariana Silva

terça-feira, 1 de julho de 2008

Sem Título



Sento-me na tijoleira fria e sinto o tecto rodopiar.
Perdi o chão, as paredes, o sentido.
Esqueci o caminho percorrido.
Desaprendi de caminhar.

A minha sombra ri-se.
Que é feito da coragem, da audácia?
Que é feito da vontade, do amor pelos momentos?
(As gargalhadas ecoam).

Perco as forças.
Deito-me ao comprido - medidas exactas do caixão.

Nada é levado até ao fim.
Os desejos,
Os medos,
Os sonhos...
A Existência a meio
cortada com a faca do pão seco -
até pão fresco desisti já de comprar.

Esta é a carta que não te escrevi,
a carta que não quero que leias,
a carta que carrego há demasiado tempo -
como peso pesado deste meu mundo sem centro.

Não vás, assim, breve;
Nao fiques, assim, eterno;

Mais do que corpos deitados na tijoleira fria -
queria que fossemos mais do que corpos deitados na tijoleira fria.
(Assumo que te sentes como eu, que tolice!)

Mas a minha sombra ri-se.
Quando olho, tu já foste, assim, breve...
E eu fiquei, assim, eterna.


>>> Mariana Silva

sábado, 28 de junho de 2008

Como ludibriar todo o metro sem tremer as pálpebras

Num mundo cheio de adversidades, mesmo das mais pequenas, uma pessoa tem de ter os seus truques na manga para os fintar, por interesse ou conveniência, ou simplesmente por capricho. Essas artimanhas envolvem também uma grande parte de seriedade, experiência e engenho. Repito, até os mais módicos não devem ser levados com leviandade.
A paragem de metro mais perto de minha casa ainda fica a uns cinco minutos a pé. A subir. Ao fim do dia, a ideia de custosamente subir uma íngreme avenida a andar assusta. De tal modo que eu teria de fazer algo para que não tivesse de repetir o ritual todos os dias. Acontece que o metro, depois de parar no terminal, dar largo tempo para os passageiros abandonarem o veículo e fechar sonoramente as portas, ainda vai subir um bom bocado a avenida, de modo a poder dar depois a volta para seguir no sentido contrário, quando for hora disso e quando outro metro for a subir. É o ciclo, é uma incansável dança de veículos que, fazendo lembrar gigantes cobras amarelo-metálicas, podia quase ser vista como um ritual de entre os bichos, tal é a coordenação.
Ora acontece que eu, que – perdoem-me a imodéstia – consigo aliar uma singular manha a uma colossal preguiça, teria de tirar partido daquela subida pós-viagem do metro, que se aproxima, na sua fase final, muito de minha casa. Ocorre-me o seguinte: finjo que adormeço, deixo toda a gente sair do veículo à vontade, ignoro a mecânica voz da mulher que expressamente me diz que a saída é obrigatória, deixo as portas fecharem, e aí sim posso abrir o olho, esperar que o metro chegue ao seu destino, e aí saio calmamente, sozinho, à porta de casa, sem ter de subir, sem ter de me cansar, já de chave da mão e sorriso de dever cumprido.
Ah!, como me vou lembrar por muito tempo da primeira vez que concretizei este plano. Estava nervoso, confesso. Temi não dar a ideia de sono profundo, porque tremia demasiado as pálpebras, e guiava-me cegamente pelos sinais sonoros, a indicação das paragens, as portas a abrirem-se e a fecharem-se, a conversa rumorosa dos outros passageiros. Tinha finalmente chegado à última paragem e senti o estômago a apertar, não sei bem porquê, provavelmente o que mais me deixou impaciente foi a perspectiva de que, caso aquela artimanha falhasse, lá teria eu de subir toda aquela distância até finalmente me recostar no sofá. As pessoas começaram a sair. Aos poucos, eu ouvia. E mal as portas se fecharam, abri um olho, não vi ninguém; abri o segundo, voltou a não surgir vivalma. Pude finalmente descontrair o diafragma, suspirar de alívio, levantar-me, deambular pelo metro vazio, e pela minha saúde que não dancei lá dentro por acaso. Um metro vazio para quem, como eu, é calcado setenta e duas vezes a caminho da escola, é um sonho tornado realidade. Vi dois rapazes do lado de fora a subir a avenida que, sabendo que este último percurso do veículo não deveria ser frequentado por passageiros, me olharam com deslumbramento. Quem lhes dera estar lá comigo. Na vida esgotante de estudante, esta situação seria como se eles estivessem a subir a Serra da Estrela debaixo de tempestade de neve e eu passasse de carro sem lhes dar boleia. Eu sorri-lhes, orgulhoso do estatuto que obtivera. Era um herói.
Claro que com o tempo esta técnica se vai apurando e se vai descobrindo novos níveis desta arte. Por exemplo, consigo saber o tempo que está a fazer lá fora, de olhos fechados do suposto sono profundo. Se ouvir fechos éclair a subir, ou está frio ou muito braguilhas estavam abertas. Se ouvir guarda-chuvas a abrir ou gente a comentar “chiça!”, é porque chove bem. Considero-me já o Ellery Queen dos invisuais. Poirot, de olhos cerrados, não faria melhor.
Mas há um senão neste meu estratagema: os outros passageiros. Já por várias vezes, algum imbecil lembra-se de me «acordar» antes de sair do metro: «olhe, desculpe, é a última paragem». Irado, consigo simular um sorriso ao mentecapto que arruinou a minha estratégia. Alguns, acredito que por boa vontade; outros são apenas pessoas medíocres que mais nada têm para fazer do que meterem o nariz onde ninguém os chamou. Alguns, até, serão movidos pela inveja, também eles queriam acompanhar-me até onde qualquer humano que não tivesse crachá do metro alguma vez chegara. Ainda por cima, tive o azar de ser o pioneiro deste plano de desviar as contrariedades impostas pelos intocáveis percursos dos transportes, num pais e numa cidade onde só parece ser cidadão quem meter a colher na sopa do vizinho. Então se eu estava a dormir tão bem no meu canto, por que cargas de água me haverão de estar a acordar? Chegarão de consciência pesada a casa se não o fizerem? Chegarão realizados a casa caso o façam? Em Londres, onde a frieza das pessoas corta mais do que a matutina neblina, este plano seria perfeito. Sem qualquer falha, erro de cálculo, qualquer contra a apontar.
Seja como for, este esquema funciona com irrepreensível regularidade. Se alguém está a pensar experimentá-lo, não o faça. Uma pessoa ainda passa. Mas alguém há-de estranhar um metro cheio de gente a ressonar e de pálpebras a tremer.


Diogo Hoffbauer (o regresso)

sábado, 21 de junho de 2008

Pressentindo o Futuro

Acabaram as aulas.
Passaram os exames.
Agora, aguardam-se as notas,
tomam-se as últimas decisões,
crescem-se os últimos centímetros.

É tempo de relembrar os últimos anos,
é tempo de esperar pela maioridade,
é tempo de ansiar pela nova fase da vida que se aproxima.






Passado o Verão já terá passado o tempo de esperar
e seremos adultos a caminho da faculdade.
Yupi hey!


>>>Mariana Silva

quarta-feira, 18 de junho de 2008

E o tempo disse ao tempo...



No tempo em que nós tínhamos tempo
Eu não sabia o que era ter tempo.

Depois, quando deixaste de ter tempo
para me dar tempo
Eu fiquei sem saber o que fazer,
quando se fica sem tempo!

Então, resolvi-me por aquilo que todos fazem
quando precisam de tempo: aprendi a viver sem tempo.

Agora
percebo que só na dispensa dos sonhos
onde não há relógios nem tic tacs
é que se pode ser dono das horas.

Não podemos manipula-las,
não podemos acelera-las,
não podemos retarda-las,
não podemos apaga-las.

E mesmo quem construiu o tempo
anda sempre com relógio.



>>> Mariana Silva

domingo, 15 de junho de 2008

de outros...


«Seja como a fonte que transborda
e não como o tanque
que contém sempre a mesma água»


in Veronika Decide Morrer,
de Paulo Coelho



>>Mariana Silva

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Devaneio Musical

Seguindo a sugestão da Teresa - e porque, realmente, o calor é muito intenso, a vontade de estudar muito pouca, e os exames muito próximos...- resolvi deixar-vos uma musiquinha...

Esta não é, de facto para qualquer ouvido - e digo isto nao no sentido de ser boa de mais ou de menos, mas sim porque não é fácil gostar dela, tão peculiar é a voz da cantora. No entanto, eu deixei-me seduzir pela letra, que mentalmente traduzo sempre que ouço a dita música - sendo que a letra é, para mim , a parte mais importante de uma música... Mas isso são outros carnavais.

Esta música, além de parte integrante na banda sonora da (re)conhecida série Grey's Anatomy, faz também parte do actual reclame da cerveja Superbock e foi, aliás, através do mesmo que eu fiquei a conhecê-la. Quanto à cantora, sei apenas que é Norte Americana e tem 28 anos, sendo a sua música de um estilo que ronda o pop rock e o country alternativo (mas podem ficar a saber mais através do site http://www.brandicarlile.com ).

Enjoy ;)


BRANDI CARLILE - 'The Story'



o dito reclame da Superbock... ;)




All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am
But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them to
It's true...I was made for you

I climbed across the mountain tops
Swam all across the ocean blue
I crossed all the lines and I broke all the rules
But baby I broke them all for you
Because even when I was flat broke
You made me feel like a million bucks
You do
I was made for you

You see the smile that's on my mouth
It's hiding the words that don't come out
And all of my friends who think that I'm blessed
They don't know my head is a mess
No, they don't know who I really am
And they don't know what
I've been through like you do
And I was made for you...

All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am
But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them to
It's true...I was made for you
* * *


>>> Mariana Silva

domingo, 8 de junho de 2008

A nossa cidade

As paredes sem textura,
Os tectos alheios à gravidade,
tudo flutua na certeza de existir
tudo remoínha nas janelas do futuro
na nossa cidade...

Onde tudo era calmo, apaziguante
Onde tudo era vivo, electrizante
As noites viravam dias sem o tempo perceber
E tudo era eterno sem ter existido sequer...!

E nós sabíamos, oh sabíamos
Que naqueles segundos em que éramos um só
Dávamos de nós o que nem sabíamos ter...

E os outros viam, oh viam,
o retrato feliz de uma tristeza complacente
o sorriso amargurado de quem muito sente...

E hoje, ao olharmos o passado
em jeitos de futuro, das janelas da nossa casa
sem paredes nem tecto,
nem existência nem gravidade...

Sabemos que não fomos mais que dois pedregulhos
com demasiada força para flutuarem, despreocupados.
Na nossa cidade de papel

que acabei por construir sozinha,
e ver arder.



>>> Mariana Silva

quinta-feira, 29 de maio de 2008

2+2=4

Desde míúda sempre me disseram que eu falava demais, e à medida que fui crescendo, como não encontrava ninguém com paciência para me ouvir, aprendi a falar para o papel. Desta vez, o texto que aqui vos deixo é, provavelmente, a minha primeira viagem séria ao mundo da escrita. Após alguns poemas melodramáticos, influenciados pela minha leitura (precoce?) de Florbela Espanca, estava eu um dia a arrumar a roupa no armário e surgiu-me a metáfora de um casal tão diferente mas que, ainda assim, resultasse na perfeição, tal qual equação matemática. Ora bem, como nunca fui muito amiga dos números, decidi simplificar a coisa e fiquei-me pelo simples '2+2'...
Apresentei o texto à minha professora de português da altura, ela chamou-me à parte a perguntar se eu estava bem. No ano seguinte, o meu décimo ano, primeiro na área de línguas, mostrei o texto à minha actual professora de português, que durante semanas me apontava como 'a menina do 2+2 são 4', esquecendo até que eu provavelmente tinha um nome...!
Não há amigo ou colega meu que nunca tenha lido ou ouvido ler este pedaço de qualquer coisa. Ainda hoje, ainda há quem me diga que este é o meu melhor texto - mas eu prefiro acreditar que este foi apenas o primeiro de muitos e que é isso que o torna tão especial para mim.



DOIS E DOIS SÃO QUATRO

Essa tua vida precisava de uma reviravolta, precisava de acção.
O teu gosto pela Angelina Jolie e por futebol preenchia-te os dias rotineiros de casa-emprego e emprego-casa, em que não bebias mais do que um copo de vinho à refeição pois podia acusar se o polícia te mandasse parar e tu tivesses de soprar o balão.
Nunca correste riscos, sempre te mantiveste preso nessa tua carapaça de caracol enervado com os que são doidos, mas acabaste por te apaixonar por mim, cigarra que canta sem medo de que o inverno chegue.
Lógico como és, planeaste toda a nossa vida, esquecendo que quando a vida é planeada não tem piada, porque a vida vai estragar todos esses planos e é trabalho deitado ao lixo.
Mas é lógico que tu não pensas nessas coisas que eu gosto de chamar “sonhos”. Tu pensas em conforto, segurança, estabilidade financeira, normalidade, rotina.
E lá apareci eu na tua vida, de malas e bagagens para o teu T1 e a arrastar comigo o meu gato que largava pêlo em todo o lado.
As minhas tangas espalhadas na gaveta, os meus cremes e batons em cima da cómoda, a cama por fazer ao fim-de-semana... Odiavas tudo isso, tu, que tinhas as cuecas ordenadas por cor na gaveta e os teus «produtos masculinos» arrumados num lugar escondido.
Mas no início lá fazias a cama às escondidas, para depois te deitares em cima dela e a desmanchares de novo. E eu lá te continuava a fazer o pequeno-almoço com Chocapic, enquanto tu murmuravas um «ó querida, tu sabes que eu tomo café» e me deixavas a olhar para a taça, a ver os cereais flutuarem.
Ambos fomos benevolentes, enquanto nos roíamos por dentro, na esperança de que o outro mudasse.
Explodimos, mas discussão atrás de discussão foste percebendo que eu não podia mudar, porque eu sou um texto com erros, um problema sem solução, uma «não-lógica». E eu também percebi que tu não mudarias, porque tudo é certo nessa tua vida ordenada por cores e sabores, com frascos etiquetados e livros arrumados por autor.
Eu não mudo porque gosto de ser assim e tu não mudas porque não sabes ser de outra maneira.
Deixa-me despentear-te esse cabelo, vamos voar deitados, vamos ser selvagens no sofá, vamos beber leite com Nesquik ao sábado, enquanto vemos o Nemo. Dá-me a mão e corre comigo pela praia, vai buscar o jornal de chinelos, come frango sem usar talheres, bebe cerveja pela garrafa.
Ensina-me a tirar as nódoas da roupa, ordena-me os livros por ordem alfabética, vamos combinar a roupa por cores e tecidos. Vamos a museus, vamos ler jornais americanos, vamos ver o canal História e discutir política. Vamos jantar a restaurantes caros, vamos comprar champanhe para nem sequer o beber.
Porque quando eu te conheci tu eras um adulto sério, vem ser agora um adulto brincalhão, com vontade de pintar a vida a cores alegres e de atirar pipocas no cinema.
Porque quando eu te conheci era uma adulta destrambelhada, vou tentar ser mais séria e convencional e respeitar um compromisso, enquanto escolho um bom vinho e falo do Hitler.
Porque sozinhos representamos mundos diferentes, vamos unir-nos e formar um novo mundo, enquanto tu despenteias e eu penteio o cabelo.
Vamos ser rebeldes e sérios, vamos ser um só, vamos mudar e aceitar mudanças, vamos partilhar e guardar segredos, vamos comer caviar e batatas fritas.
Porque dois e dois só pode dar quatro.


Mariana Silva
[25 De Fevereiro 2005]

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Homo ignorantis

De todas as três ou quatro gerações que compõem a sociedade, o bode expiatório é sempre a juventude. E como poderia não ser? O que o comum do cidadão vê destes jovens são notícias de agressões, insolência, vandalismo. É desta geração os jovens que partiram tudo em Lloret del Mar. É desta geração a rapariga que quase atirava uma professora ao chão, facto que só escandaliza o mais céptico, pois pior já aconteceu há muito, esta bomba só rebentou pela coragem – chamemos «coragem» ao atrevimento – do aluno que filmou e incendiou o rastilho. É esta geração que combina suicídios colectivos pela internet. São desta geração as jovens que metem os dedos goela abaixo para vomitarem o que comeram e o que não comeram, saindo orgulhosas das suas costelas. São desta geração os eremitas no novo século, que cortam qualquer vida social, escondem-se debaixo dos lençóis, chorando um mundo que fosse em tudo igual àquele que eles vivem quando fecham os olhos ou quando ligam o computador. É esta a geração que repete até à exaustão as piadas do Gato Fedorento sem lhes entenderem a verdadeira paródia. Foi esta geração que respondeu Não sei às perguntas do inquérito apresentado na Universidade Católica, que fez Cavaco suspirar e abanar a cabeça. É esta geração que não lê, que vomita os Lusíadas. É esta geração que não sabe somar de cabeça. É esta geração que, na altura das decisões, vai para Letras para fugir da Matemática e acaba por reprovar porque não sabe ler; que vai para Ciências porque não sabe ler e acaba por reprovar a Matemática. Esta é a geração que só exercita o dedo polegar a escrever SMS, e o mais perto que está do desporto é a discuti-lo com os amigos.
Pobre Descartes, quando disse que a juventude se alimenta da ilusão. Esta juventude alimenta-se de tudo menos de realidades putativas. A única ilusão que têm é de que são o centro do mundo. E deixa de ser ilusão quando, por uma aluna tirar o telemóvel a uma professora, o mundo pára; passa a ser realidade. O seu frio na barriga provém da roupa que usará do dia seguinte, de não encontrar o carregador do telemóvel, do perfil do hi5 da namorada do ex-namorado. Não há noção de longo-prazo, de potencialidades, de futuro. Não há patriotismo excepto para pôr uma bandeira – muitas delas ao contrário - na varanda, com a intenção de mostrar o apoio a um monte de tipos que, salvo excepções, dá meia dúzia de pontapés na bola porque um brasileiro manda.
Falta maturidade. Falta perceber que a política é a diferença entre a selva e a sociedade. O pseudo-anarquismo que envolve a sua pseudo-irreverência não lhes permite compreender que respeito à evolução foi o que permitiu deixar-mos de viver em cavernas e ter-mos hoje telemóveis que os professores nos possam tirar nas aulas. Seguindo esta teórica regressão, e confiando na evolutiva teoria de Darwin, não faltará muito até que sejamos símios rodeados de computadores, telemóveis e televisões plasma para podermos ver bem os outros tipos a dar pontapés na bola e inspirarmos as nossas mentes primatas nas rebeldias moralmente incorrectas, didacticamente muito ricas dos personagens dos Morangos com Açúcar.
Os jovens em geral causam repulsa por parte das pessoas. Há professores a pedir a reforma, abdicando do seu dinheiro para deixar de aturar energúmenos, os velhos fogem de quem usa demasiado gel e tem as cuecas à vista.
Isto tudo é uma bola de neve. O jovem cresce a ver o irmão a deixar os poucos livros que tem a apodrecer na prateleira; que vontade pode ter ele de pegar num Camilo, num Júlio Dinis, ou internacionalmente num Dumas, num James Joyce, num Dostoiévski? Tem telemóvel aos oito anos, computador desde sempre, vai falar com os amigos num linguagem infestada de kapas e xises ou vai ler um D. Quixote de la Mancha sem kapas e onde o “x” só aparece no nome do protagonista?
Na TV, vão ver a novela ou vão ouvir o Ministro da Economia na Grande Entrevista? Vão ligar a RTP2 ou vão ligar a SIC Radical? Vão perder tempo a aprender quem foi Ramalho Eanes ou a jogar consolas?
Esperem até os pelos começarem a ser mais frequentes, as caudas começarem a crescer e começarmos a cheirar os rabos uns dos outros que sentiremos Salazar a remexer-se no túmulo, o fantasma de uma juventude promissora que não foi nem deixou outros o serem.


Diogo Hoffbauer

pseudo.poema II

Podias ter-me dito
que serias a parte mais ruim de mim!
Tu que sabes tudo
(fazendo pouco dos sabichões do eterno nada)
podias ter-me dito que a nossa eternidade
seria a sombra do efémero.

Assim
a felicidade seria um sorriso rasgado a medo
como as cartas que não mandaste
como as fotos que não temos
como os planos que não escrevemos.
E ainda bem.

Varri-te pela janela
do quarto andar da minha casa térrea
E colei a tua sombra
ao tecto do meu terraço.

És meu.
Podias ter-me dito.



>>> Mariana Silva

terça-feira, 13 de maio de 2008

DEVANEIO MUSICAL - de devanear e chorar por mais

Fiquei boquiaberta.
Não é novidade nenhuma que existem crianças prodígio, mas é novidade - pelo menos para mim - que uma criança consiga, em tão tenra idade, imprimir um cunho pessoal numa canção, interpretando-a com tanto sentimento como se tivesse atrelada a si uma carruagem de sentimentos e vivências profundas.




A menina que vos apresento chama-se Connie Talbot e foi finalista do programa do Reino Unido 'Britain's got Talent' (o equivalente ao nosso 'Aqui há talento')no ano passado. Eu, com muita pena minha, só recentemente descobri este 'talento'. Com apenas seis anos, Connie conseguiu comover jurados, plateias e toda uma Nação que se rendeu aos encantos desta 'little princess'. Agora, com oito anos a completar em Novembro, esta pequerrucha tem já um Cd gravado, intitulado 'Over the Rainbow' - uma alusão ao clássico com que brindou Inglaterra e, graças à internet, também o mundo.

Senhoras e senhores: Connie Talbot.





['Over the Rainbow' e 'What a wonderful World' - Connie Talbot]



>>> Mariana Silva

segunda-feira, 12 de maio de 2008

de malas e bagagens



Porque é que não me deixas em paz?
Porque é que não desapareces sem deixar rasto, levando contigo as memórias boas e más, para que não possa haver nem sequer saudade do tempo que passou?

Leva tudo contigo, não me deixes nada, pois agora nada és e nada somos. Não me interesso pelas cartas que escreveste, pelas fotos amachucadas nos cantos de tanto serem remexidas, pelos bilhetes dos filmes, concertos, peças de teatro a que assistimos, nem tampouco me interesso pelos pacotes de açúcar das tardes passadas no café, quando saíamos das aulas e a chuva era tão forte que a cafeína era o nosso único refúgio.
Nada disso me interessa.

Leva tudo contigo e não deixes ficar nem a tua sombra esquecida nas paredes brancas, pálidas de falta de tacto, nem deixes ficar no soalho o ranger dos teus passos largos, nem nos lençóis o cheiro inodoro, que não sai por muito que seja lavado, tão impregnado que está na cama onde jaz o meu corpo que foi outrora teu.
Leva tudo contigo, diz-me que levas tudo e que não deixas ficar nada esquecido em nenhuma gaveta de mim, diz-me que tens já as malas feitas e que nelas coube tudo o que te pertencia. Porque eu já não quero nada, eu já estou exausta de tanto querer…
Leva, leva tudo, as manhãs, as tardes e as noites, os beijos, as carícias e os abraços, leva as palavras doces e os sussurros, as gargalhadas e os olhares rasgados, os tremores de excitação e o nervoso miudinho que trepa no fundo da barriga. Leva, leva tudo atrelado ao teu corpo que agora vejo partir sem sequer olhar para trás, sem tentar travar a última batalha até cair rendido, agitando a bandeira branca…

Porque é que insistes em partir deixando comigo pedaços do teu ‘eu’ desfeito? Eu não o quero, não o posso querer mais, não consigo, estou exausta de esperar por um tempo que não chega, por uma altura oportuna, por um momento esparso, rodopiante, em que tudo volte a ser perfeito, em que eu volte a acreditar na perfeição sabendo perfeitamente que ela não existe…

Estou quebrada, sem asas, atada ao chão que me deste, árido, seco, onde nada cresce, onde apenas sinto esvoaçar os grãos da areia em que outrora arrastávamos os passos, num compasso sonante e com sentido…
Agora? Agora não és nada e nada somos, por isso leva tudo, leva, leva tudo contigo, não me deixes ficar nada, porque nada me interessa, já nem eu me interesso, leva-me também, perdida nesses olhos e sorriso, nesse corpo que sempre soube como cavalgar sem mapa pelas dunas da minha mente… Mas que agora se perdeu numa tempestade de deserto, e já não sabe o caminho de volta.

Dá-me a mão e larga-a de uma vez, com a rapidez com que se tira um penso rápido, para que tudo doa menos e para que o sabor do adeus seja simples, como os cafés das tardes chuvosas do tempo em que éramos um só.

Porque é que não vais?
Eu já não consigo aqui ficar.


>>> Mariana Silva
[14 Abril 2008]

sexta-feira, 9 de maio de 2008

pseudo.poema

Arrastas contigo a insignificância
E até me dói saber que fomos um do outro.


Pesas-me no centro do corpo
E sinto-me tombar
Pender para o lado esquerdo,
O lado mais ruim.


És tu a sombra do que fui
Porque sem ti não mais o sou.
(Sim,
as pessoas mudam.)


Corto as amarras do teu porto
E deixo-me navegar sem rumo
até se confundirem
as noites com os dias
e os dias com as noites;
a pressa com a eternidade
e a juventude com a idade.


E só pararei
Quando já não souber voltar pra casa.



>>> Mariana Silva

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Eu e tu, tu e eu

Peço desculpas pela ausência, mas realmente a minha inspiração andava muito em baixo. Agora voltou! Como expliquei ao Diogo (por falar nisso, alguém sabe por onde é que ele anda? :p) estar isolada é o meu combustível literário!
Deixo-vos um texto que escrevi hoje mesmo - e nem devia ter trabalhado, por ser o feriado que é... Enfim.. o que eu não faço por vocês...! :D

* * *


Faço a cama, desfazes a cama. Começo a lavar a louça à mão, pegas nela e encafua-la na máquina de lavar “para tirar as manchas”, dizes tu. Abro as cortinas para entrar sol, fechas as cortinas para os vizinhos não espreitarem. Proponho jantar fora, queres alugar um filme e ficar por casa. Proponho ficar em casa e só queres sair porta fora, à descoberta da noite. Digo que sim, dizes que não. Berro que não, gritas que sim. Eu quero e tu não me dás, eu dou-te e tu não queres. Peço e não consegues dar-me, posso dar-te e tu não pedes. Não digo nada para não discutirmos, e tu discutes por eu não ter dito nada. Se adormeço, querias que tivesse ficado acordada a conversar. Se me apetece conversar, és o primeiro a querer dormir. Ponho num canal de tv, mudas porque não te apetece ver e desconfio que mesmo quando nos apetece aos dois ver a mesma coisa, a birra já está implícita. Sim e não, não e sim. Eu e tu, tu e eu.
Somos nós, poderosos, detentores de vontade individuais e de uma comum, superior, a de ficarmos juntos ‘no matter what’.
Vontade de não conhecer as unidades de tempo que regem a vida dos humanos, de quebrar relógios e desperdiçar horas fazendo nada, juntos, simplesmente porque o tempo não dura mais só por ser acumulado.
Vontade de chorar, rir, fazer caretas e dar mimos, cada coisa em seu lugar, em seu momento, sabendo sempre a que momento pertence o quê, descodificando as necessidades no olhar do outro, no jeito do outro, na alma do outro.
Vontade de fazer cócegas e embalar medos, sonhar acordados nas manhãs de domingo, com o pequeno-almoço na cama e os desenhos animados na televisão.
Vontade de trocar sms’s, atender telefonemas só para sentir perto a voz de quem está longe, rever na mente momentos gravados a canivete, como nos filme americanos fazem os casais, marcando as árvores.
Vontade de termos o nosso espaço, os nossos livros, a nossa música, as nossas fotos, os nossos filmes, as nossas saídas, as nossas idas e os nossos regressos, os nossos momentos, os nossos segredos, a nossa privacidade e a nossa vida social, de termos tudo e darmos-lhe valor porque sabemos que o podemos perder a qualquer momento.
Vontade de vermos o tempo passar, o tempo que desejamos por vezes quebrar e, por outras, acelerar... Vontade de termos um rancho de filhos, nada de jogadores de futebol ou misses, de comprar uma casa enorme, com quintal e uma casota de telhado vermelho, um cachorrinho pronto a saudar-nos ao entrarmos em casa, com um nome moderno e de pessoa, o que nós queremos é humanizar o bicho, nada de Ticos, Bobbys e afins.
Vontade de fazer escapadinhas de fim-de-semana, montanha, praia, selva ou deserto, enfiarmo-nos num avião com destino de sonho e cansarmos o corpo com projectos irrealizáveis.
Vontade de sair sem rumo e ficar na cama por preguiça, vontade de ter tantos momentos para partilhar que chegamos mesmo a sentir que a eternidade não chega.

É isto o amor. Mas, e isso ambos sabemos e de certeza concordamos, não sobrevive de vontades.


>>> Mariana Silva

sábado, 26 de abril de 2008

BUBLEmania

Não tenho andado inspirada. Reformulo: nada inspirada.
E, sinceramente, quando não há inspiraçao não sai mesmo nada, por muito mau que seja...!

Mas como a Batata não pode ficar às moscas muito tempo (além de lhe tirar todo o aconchego, só demonstra uma certa negligência por parte dos seus progenitores..)eu resolvi partilhar mais um devaneio musical.
O Diogo quando vir isto vai desejar bater-me. A assídua comentadora Rita vai ficar contente. E os demas leitores, se forem fãs, não vão ficar muito chateados. Caso contrário, vão começar a ler só os textos do Diogo, em forma de protesto.

Até à próxima. Espero eu não ter de continuar a 'entupir-vos' de música...
Deixai vir a mim a inspiração! :-p




[Michael Bublé, Me and Mrs Jones]

Me and Mrs. Jones
We got a thing going on
We both know that it's wrong
But it's much too strong
To let it go now

We meet every day at the same cafe
Six-thirty and no one knows she'll be there
Holding hands, making all kinds of plans
While the juke box plays our favorite songs

Me and Mrs. Jones
We got a thing going on
We both know that it's wrong
But it's much too strong
To let it go now

We gotta be extra careful
That we don't build our hopes up too high
'Cause she's got her own obligations
And so do I

Me and Mrs. Jones
We got a thing going on
We both know that it's wrong
But it's much too strong
To let it go now

Well, it's time for us to be leaving
And it hurts so much, it hurts so much inside
And now she'll go her way and I'll go mine
But tomorrow we'll meet
The same place, the same time

Me and Mrs. Jones
Same place
We both know that it's wrong
Same time
Every day at the same cafe
Same place
We got a thing going on
We know it's wrong
Same time



>> Mariana Silva

domingo, 20 de abril de 2008

Consciência reciclada

Este texto foi escrito num domingo à noite para ser entregue numa segunda-feira de manhã. Perdoem-me, portanto, a eventual insanidade. Até porque não me deu na cabeça para escrever sobre problemas ambientais, era mesmo o tema de um acontecimento no clube literário, no qual participei precisamente com a leitura "dramática" deste texto. Espero que gostem.


Confesso. Ambientalmente falando, sou um pecador. Parece-me óbvio que trinta ave-marias e cinquenta pais-nossos não vão fazer desaparecer as chicletes que já cuspi para o chão, os papeis que já deitei para o passeio, que vai recuperar a água que já desperdicei enquanto lavava aos dentes. Mas ainda assim me confesso, porque, convenhamos, que atire a primeira pedra quem já não pediu sacos de plástico no supermercado.
No outro dia, mantive a mais acesa discussão com a minha própria consciência. O meu senso comum – raios os partam, as vezes que ele já me tramou – tratou de aparecer à hora errada, quando eu estava prestes a atirar ao chão o plástico do meu Bolicao.
«Hum… Muito bonito…»
«Eu não diria bonito, tenho a minha piada, mas escusas de te atirar a mim porque eu não estou interessado…»
«Deixa de ser parvo!»
«Eu, deixar de ser parvo? Alguma vez pediste ao Cavaco para deixar de ser feio? Há coisas que não mudam, amigo.»
«Estou a referir-me à embalagem do Bolicao. Vais atirá-la ao chão?»
«Não me chateies. Está longe o caixote do lixo!»
«Faz um esforço…»
«Olha, vai lá tu levá-la. Aproveitas a ficas por lá, para ver se te reciclam as ideias»
«Olha que vais por uma orelha!»
«Está bem…»
A minha consciência consegue ser muito persuasiva, eu falo por conhecimento de causa. Cada vez que levo os dentes e deixo a torneira aberta enquanto os escovo, parece que a ouço tossir, viro-me, está ela de braços cruzados, a bater o pé, à espera que eu lá feche a torneira para ela poder ir embora e eu ter alguma privacidade, ou não se passasse toda esta cena num quarto de banho.
Imagino que todas as consciências de todas as pessoas do mundo tenham reuniões mensais – presididas pela Mãe Natureza - para terem novos valores incutidos, fazerem o balanço dos pecados cometidos pelos seus donos, terem workshops de poder de persuasão. Também das reuniões fazem parte o Buraco do Ozono – que é tão grande que tem de ficar do lado de fora da porta – e representantes de animais em vias de extinção – o panda é muitas vezes o escolhido.
Diz a minha consciência o seu depoimento: “Ai, aquele Diogo… Eu já lhe disse para começar a fazer a reciclagem… Parece que é surdo!”
Sim, batam-me. Não faço a reciclagem. Mas façam o que eu digo, e não façam o que faço. Até porque é bem provável que eu comece a reciclar assim que os irritantes miúdos do EcoPonto deixem de passar na televisão. Antes disso, acho difícil. Só me apetece é atirar o lixo à cara deles.
Bem… Podemos sempre ir viver para a lua, não é?



Diogo Hoffbauer

domingo, 13 de abril de 2008

O curto-circuito dos slogans JÁ!

Ia eu sossegada a caminho do ginásio, com as minhas companheiras das horas de suor (e tudo o mais.. :D ), quando passa um esgaziado (perdoem-me o termo, mas acho que é o que melhor o descreve) a pedir dinheiro para apanhar o metro, JÁ!
Não fosse o facto de estarmos as três sozinhas nas traseiras de um prédio, eu tinha-me literalmente 'escancarado' a rir. Em vez disso, continuamos a andar e ri-me mais à frente no caminho.
Tudo porque me lembrei, na altura, da insubordinada aluna do Carolina Michaelis, que queria o telemóvel JÁ! Ora bem, eu acho que o vídeo deve ter funcionado como publicidade, porque o slogan já pegou e está irritantemente na moda, quase como o 'PORQUE NO TE CALLAS?' do rei Juan Carlos.
É verdade: estas 'catchy phrases' são totalmente irritantes. Isto porque mesmo quem não fica viciado nelas à partida, acaba por ficar de tanto ver os outros repeti-las. Bem me lembro das vozinhas irritantes 'Há coisas fantásticas, não há?' , ou até mesmo um simples 'Até Já!' com um tom de voz que remete sarcasticamente para a empresa de telecomunicações.
Eu confesso que até acho piada. Mas isso sou eu que para não me irritar, começo por achar piada a tudo. Depois cansa. E quando me canso fico com ar lunático. Not good.
Até tremo só de pensar na influência que isto poderá ter nas gerações mais jovens. Qualquer dia, nesse dia longínquo em que provavelmente eu terei uma cria de trazer bem perto, os diálogos de 'infantário' serão terrivelmente assustadores:

- Oh não, acabou Brise-toque e fresh casa de banho! - diz o menino número um.
- Não te preocupes, com evax sentes-te limpa, sentes-te bem!- diz a menina número dois.
- Não, não... com UZO é descomplicado! - diz o menino número três.
- Nada disso! com OPTIMUS segues o que sentes! - diz, já irritado o menino número um.
- O quê?! Tens noção do que estás a dizer? Já comeste fruta hoje? - diz com ar superior, a menina número dois.
- Não, porquê? - responde o menino número um, com ar de desafio.

Entretanto começa a briga, e corre o menino número dois a explicar à educadora.
- O que se passa? - pergunta ela.
- E puf, fez-se o chocapic! - explica o menino número dois.


- Porque no te callas? - perguntam-me vocês.

[Vou só explicar que apenas numerei as crianças para dar um ar sinistro á coisa.]
Já acabei.


>>> Mariana Silva

sexta-feira, 4 de abril de 2008

devaneio musical.. (já lhes perdi a conta...! )

Quando a inspiração nos falha, há que tentar encontrar nas palavras dos outros o reflexo das palavras que não nos saem.


Sendo já o meu vício musical sobejamente conhecido, deixo aqui (MAIS?) uma musiquinha...

Doce, calminha.. Apaixonante.







[KATE NASH - Nicest Thing ]

All I know is that you're so nice,
You're the nicest thing I've seen.
I wish that we could give it a go,
See if we could be something.

I wish I was your favourite girl,
I wish you thought I was the reason you are in the world.
I wish my smile was your favourite kind of smile,
I wish the way that I dressed was your favourite kind of style.

I wish you couldn't figure me out,
But you always wanna know what I was about.
I wish you'd hold my hand when I was upset,
I wish you'd never forget the look on my face when we first met.

I wish you had a favourite beauty spot that you loved secretly,
'Cos it was on a hidden bit that nobody else could see.
Basically, I wish that you loved me,
I wish that you needed me,
I wish that you knew when I said two sugars, actually I meant three.

I wish that without me your heart would break,
I wish that without me you'd be spending the rest of your nights awake.
I wish that without me you couldn't eat,
I wish I was the last thing on your mind before you went to sleep.

All i know is that you're the nicest thing I've ever seen;
I wish that we could see if we could be something...
I wish that we could see if we could be something...



>>> Mariana Silva

terça-feira, 1 de abril de 2008

Depuralina


Parece que, afinal, a Depuralina faz mal.
Para averiguar à reacção do público a esta notícia, acabei por dar a um fórum online que me permitiu chegar a muitas conclusões.
Por exemplo, uma prestigiada senhora, elevadamente qualificada para tratar do assunto, que dá pelo nome de "nokinhax" e tem como imagem de apresentação um urso, diz o seguinte:

«a minha mae toma á 3 meses e tem-lhe feito mt bem pois ela faz retençao d likidos e isso ajuda mt...
mas eu ao ver a noticia fikei assutada pk eu tinha tomado uma vez kd pouco depois comecei com diarreia (15dias) e depois fikei com os vermelhoes e empulada...fikei a pensar "será k foi disso?"...»


Hum...será? É capaz de ter sido um iogurte que lhe caiu mal. Seja como for, dá para destacar deste excerto, além do fantástico português, como a rapariga toma ervas da mãe, tem diarreia durante quinze dias, começa a ficar com vermelhões e repara que está empolada e ocorre-lhe a inimaginável conclusão de que, às tantas, será das ervas. Já diria o do cachimbo: «Elementar, meu caro Watson...»
Outra senhora, também ela claramente dentro do assunto, que se intitula «PATeLI»
diz o seguinte:

«eu por acaso não tomo,mas se tivesse a tomar não deixava.há pessoas que tomam há muito tempo e não têm queixas.as pessoas são diferentes.»
Bonito. Mas não mais bonito do que a conclusão:

«é o que eu acho.não estou contra nem a favor de ninguém.só acho que devemos ter a nossa própria opinião.»

É uma pacifista. Às tantas andou a fumar as ervas em fez de as tomar.
A páginas tantas, surge no fórum a voz da razão. Uma tal de "CmdfC" - que deve a sigla de "Consumi Muito, Depois Fiz Cócó" - afirma veemente:

«Sim, é verdade que esse produto vai ser retirado do mercado,
não é nenhuma mentirinha do 1º de Abril. Já ouvi na rádio hoje de manhã.»


Pronto. Se ouviu na rádio, é verdade. E ninguém se atreva a desmentir!
Amiga... se o que desse na rádio fosse verdade o Mourinho estava a treinar o Benfica.
Depois, uma "Geraldina", um pouco atrasada, chama a atenção com um titulo alarmante "Cuidado Meninas!". Eu cheguei a temer o pior. Mas não, dizia apenas:

«Sempre ouvi muito falar deste produto...
Hoje deparei-me com a notícia que foi suspensa a venda de Depuralina devido aos problemas registados em pessoas que utilizaram este produto...
Espero ter ajudado»


Ajudaste, "Geraldina", ajudaste. Adiante.
Mas pena, pena, tenho de uma tal de "pipokinha" . Diz a coitada assim, dirigindo-se a outra participante no fórum, uma "Aninha Rochinha":

"alguém sabe o que se pode tomar para cortar esta ansia de comer doces ando numa fase parece que ando tola"

Um testemunho impressionante de um "pipokinha" desesperada. Se alguma alma caridosa quiser ajudar esta jovem, deposite o seu contributo na Conta nº 444444 ou mande um mail para nao_consigo_cagar@depuralina.com. Ajude-nos a salvar a "pipokinha"...
Seria de pensar que esta exposição pública de problemas de várias ordens, desde as intestinais às conjugais, fosse partir um pouco o fórum, afastar as pessoas. Mas não! Pelo contrário, parece que as atrai. Diz a "Carla Miranda":

«Vamos aderir ao jantar no norte?

É uma óptima oportunidade para nos conhecermos pessoalmente e trocarmos ideias e confidências...»


Já não bastava falarem de cócó na net, ainda o querem fazer à mesa...

Aqui fica o link para quem estiver interessado em participar neste prestigiado debate: http://onossocasamento.pt/forum/25022

Se alguém participar, mande beijinhos meus e as melhoras à "pipokinha".



Diogo Hoffbauer

terça-feira, 25 de março de 2008

Pontualmente Obcecada...!

Foi, simplesmente. Não perguntes como ou quando, nem sequer porquê. Não sei responder a esse tipo de perguntas, fico nervosa e tremem-me os joelhos, como na véspera de um exame, sabes que odeio exames, não sabes? Devias saber pelo menos isso, alguma coisa devias saber sobre mim. Mas não, sei que não sabes, não sabes quem sou e não saberias reconhecer o meu cadáver se te chamassem à Morgue, quando eu morresse. Não, não faço intenções de me matar, foi só um exemplo , não te assustes! Mas que mania das pessoas ficarem escandalizadas quando se fala da morte! Não me vou matar, a sério, até gosto da minha vida, se bem que podia ser melhor.

E sabes o que a tornava melhor? Se tu não ligasses às rapariguitas que usam calções que mostram as nádegas mesmo no mais frio dos invernos – sim eu vejo-te a sorrires-lhes no metro – , se tu não gostasses tanto dessas saídas para sítios que eu não conheço e se tu não fosses tão diferente de mim ao ponto de não notares sequer que eu existo. Mas, a sério, se tu ligasses menos a essas coisas podes ter a certeza de que, num beco sem saída, me irias encontrar, encolhida, com frio – mas não por causa dos calções que mostram as nádegas – à tua espera, à espera desse abraço forte que apaga os monstros e limpa as teias de aranha.

Eu preciso de ti, não entendes? Não se nota que eu passo por ti todos os dias, às oito e quarenta e dois, quando apanhámos o metro para o estádio do Dragão? E eu vejo-te sair na Casa da Música, com a tua pasta de executivo bem sucedido e eu, de roupas descontraídas, sigo para a Baixa, para a minha loja de bugigangas onde ninguém entra e que está prestes a fechar.

E porque é que não me lanças um sorriso, se isso poderia deixar-me mais feliz e alimentar-me a alma durante uma semana? Porque é que ages de forma indiferente e apenas pedes desculpa quando me pisas, e não me convidas para um café, um chá, um jantar, uma saída? Vamos ao cinema, está um filme óptimo em cartaz, um dramalhão, aposto que íamos chorar os dois; mas ok, se não queres podemos ir ver uma comédia, aposto que te ias rir mais do que eu, esse sorriso lindo, dentes perfeitamente brancos, lábios carnudos e rosados, covinhas nas bochechas.... Tens uma pele que deve ser muito sedosa, sim senhor, eu nem trinta anos te dava por causa da pele que está muito bem conservada, mas o teu amigo, sim aquele baixinho e careca que não deve estar com uma mulher há anos, ele deu-te os parabéns no outro dia, fazias trinta e dois, nunca mais me esqueci do dia: vinte de Março. Apeteceu-me fazer-te festinhas e dar-te beijinhos na ponta do nariz, dar-te os parabéns e gritar a toda a gente no metro que vivia em função do teu amor e que só sabia o teu primeiro nome, que não sei porque te amo, nem como ou quando começou, mas não consigo parar, não consigo mesmo, acho que és a minha droga, o meu refúgio.

Por favor não te esqueças mais de mim, experimentei um penteado novo e nem sequer olhaste, pensei até em rapar o cabelo só para te escandalizar, para te fazer reparar em mim! Diz-me que eu sou bonita! Mas que mal é que eu te fiz? Eu sou uma mulher tão interessante, até me dizem que é uma pena eu estar sozinha!
Vá, anda aconchegar-te comigo frente à lareira que tenho na sala, sou especialista a fazer pipocas e tenho uma invejável colecção de DVD’s! Qualquer coisa, mas anda, por favor, não aguento mais passar os dias a personificar-te no meu gato! O pobre do bicho já me foge e o pêlo dele em nada se parece com a tua pele... Vá, não me deixes verter nem mais uma lágrima, sei que és tu que vais livrar a minha vida do abismo e a minha alma da fogueira, sei que és aquele por quem tenho esperado...

Vá, não te atrases mais, tens de chegar! Olha que vais perder o metro, não vês que já são oito e quarenta e dois? Onde é que te meteste, porque é que não estás aqui hoje, para onde foste? Nem sequer vejo o teu amigo baixinho, para onde foram os dois? Não me digas que és gay? Mas que desperdício! Ai não, o teu amigo vem aí, conseguiu entrar no metro! Mas onde é que tu estás? Ele vem vestido de preto, não me digas que morreste? Bestial e agora o que é que eu faço? Óptimo mesmo, vou perder o dia todo a prestar depoimentos, a identificar o teu cadáver e a explicar às pessoas que a minha vida acabou porque tu desapareceste e eu não sei como, quando ou porquê, mas comecei a amar-te e não consigo parar!

Ah, afinal já vens aí, mas olha, agora lixas-te e apanhas o próximo metro porque neste já não entras, provavelmente vais chegar atrasado e vais ouvir do patrão... Que falta de pontualidade, valha-me Deus, fica uma pessoa assim toda preocupada e vens tu todo descontraído...



>>> Mariana Silva
[Abril 2006]

domingo, 23 de março de 2008

Chocolate Ultra-Congelado, no sítio do costume


Devo confessar que a minha visão da Páscoa é aquela que a maioria das pessoas tem: férias e doces. Para mim, Páscoa significa poder ficar acordado até tarde e ter na televisão, ao despertar, um reclame do Pingo Doce a umas amêndoas “de grande qualidade”, logo seguidas de uvas sem grainha, e tudo a preços mais convidativos do que os produtos em si. Páscoa é ficar a chupar os dedos depois de encontrar chocolates roubados em qualquer canto da casa da minha avó, é arrumar por detrás das montras os aliciantes do dia dos namorados e lá pôr quaisquer coisas que estejam relacionadas com coelhos, ovos, amêndoas e outras coisas com corantes. A Páscoa é não poder ir comprar leite a um mini mercado sem quase nos sentirmos obrigados a levar connosco um ovo gigante de chocolate da Kinder. É deitar-me no sofá depois de comer – a bem dizer, enfardar – cabrito seguido de leite-creme com amêndoas (estas, sem cobertura), baba de camelo, gelatinas variadas, frutas e um ovo de chocolate para desenjoar.
A Páscoa é, para muita gente, um período de reflexão espiritual. Por isso, decidi também reflectir. Mas parece-me que há uma diferença entre mim e os outros pensadores: eles têm questões e pensam tentando chegar a respostas; eu não tenho questões, começo a pensar e então que, de repente, elas surgem. E o pior é que não chego às respostas.
Por exemplo, uma coisa que me deixa indignado é o facto de um coelho dar ovos. Na minha reflexão, ver um coelho a dar ovos é a mesma coisa que assistir a uma galinha a parir. Estamos perante um fenómeno raro, que acontece uma vez por ano, que é um coelho – ainda por cima macho – a pôr ovos. E um coelho que, pelos anos que já deve ter, já devia ter chegado à menopausa (ou andropausa? A minha confusão aumenta). Mas não há nada de lógico num coelho masculino que põe ovos de chocolate. Só pode ser um mutante ou uma vítima de algum acidente nuclear.
Mas este invulgar acontecimento, o de um coelho a produzir ovos de chocolate, não é caso único em termos de coisas bizarras características da época. Parece que há uns anos – dizem-me fontes seguras – ressuscitou um homem chamado Jesus, que tinha morrido na anterior sexta-feira. Morreu na sexta, ressuscitou no Domingo. É estranho que ainda ninguém tenha avançado com a possibilidade de que Ele possa apenas ter adormecido. Eu pessoalmente já dormi sestas que duraram quase tanto tempo. E nenhum coelho anda a cagar ovos só porque eu dormi tempo demais.
Depois, falta à Páscoa um grande espírito que é injectado em qualquer ser humano que se preze, como acontece no Natal. Um mês antes do Natal, já andam todas as pessoas a desejar “Feliz Natal” umas às outras. Se eu, há um mês, andasse a desejar “Feliz Páscoa” ou “Come muitas amêndoas”, ou me mandavam internar ou me escondiam um calendário no folar. “Feliz Páscoa” só a partir da Quaresma, e é para quem se lembra. E nessa questão de espírito, a Páscoa sai muito a perder em relação ao Natal. Na Páscoa, ninguém põe coelhos gigantes a subir aos telhados, e coisa que não existe é “A Páscoa dos Hospitais” ou “A Páscoa das Prisões” – o que até é um ponto a favor da Páscoa – não há gorjetas maiores que o habitual, o dinheiro ganho pelos pedintes não sobe em flecha, as crianças não andam pela casa à procura dos ovos, nem as mais novas se escondem nem fazem uma chinfrineira porque o coelho entrou; em vez de dar o “Sozinho em Casa” cem vezes, dá o “Ben Hur” apenas cinquenta, não há emissões de quatro horas para uma árvore gigante com lamparinas em cima.
Falta, portanto, espírito à Páscoa. E como se chamaria um eventual espírito? Espírito Pascoal? Pascoal só me faz lembrar o bacalhau. E o bacalhau come-se quando? No Natal.
É inevitável. O Natal ganha.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Paixão




Debaixo da chuva, dos olhares sem mar,
Abraçada pelas luas dos dias finitos...
Sinto quebrar o já quebrado
Sinto roer o já roído
Quero chamar o nunca chamado
E render o nunca rendido...

Nas horas mortas dos ponteiros vivos,
Nos silêncios cortados das amarras eternas...
Ouço dizer o nunca antes dito
Ouço verdades nunca verdadeiras
Prendo beijos do amante maldito
E estrelas, cometas... galáxias inteiras!

São momentos, são impulsos, são paixões
Como cartas, risos, fotos ou canções...
De luares, mil sóis e dias por haver!
E é tudo sempre o mesmo, tão diferente...
Que sinto, quero, ouço e prendo.. tanta gente!
E no fim só tu me tens, sem eu te ter...



> Mariana Silva

quarta-feira, 12 de março de 2008

A história do 112 que ficou reduzido a décimais


Dizer parvoíces sobre ambulâncias não é novidade para mim. De facto, a minha primeira piada, de toda a minha vida, foi sobre uma ambulância. Estava eu em casa da minha bisavó, chamou-se uma ambulância agora não me lembro porque carga de água, e na altura - vejam lá aos anos que isto foi (sinto-me acabado...) - o número de emergência era o 115. Com a demora da ambulância, saio-me eu com esta: "Fogo (na altura "fogo" estava muito na moda), mais valia termos chamado o 114".
A minha mãe riu-se. O meu pai chorou de orgulho. A minha bisavó pediu-me para repetir. Ao início pensei que era por ter gostado, mas foi porque não ouviu. Seja como for, fui um sucesso. A partir daí, tomei-lhe o gosto e fiquei parvo.
Decidi agora escavar fundo na imundície dos alicerces da minha imbecilidade. O que me fez recordar isso foi a notícia da ambulância que foi albaroada por um comboio numa passagem de nível. É catastrófico pensar que um veículo que salva vidas aos magotes pode ser também o transporte para a última viagem da vida, quando tanto quanto sei os utentes estavam a fazer fisioterapia. É como um barco salva-vidas a transformar-se em poucos segundos num navio-expresso para Aqueronte.
Agora a questão é o porquê da tomada do risco, e isto é sério, é a cidadania dos condutores que nos podem guiar à biforcação entre a vida e a morte. A condutora era uma mulher, portanto não foi por exibicionismo. Não foi pela gravidade dos utentes, que parece que só tinham problemas nos ossos (podia fazer aqui uma piada macabra, mas hoje faço meses de namoro e devo a integridade à minha namorada). Tudo não passou de uma mera fraqueza humana de querer superar barreiras. O homem não gosta de barreiras. Detesta limites. E eu incluo-me. Quando as folhas do meu caderno têm aquelas linhas vermelhas verticais, só me apetece ultrapassá-las, nem que tenha o caderno todo disponível. Eu posso nem sequer me lembrar que tenho chocolates, mas mal a minha mãe me diz para não os comer porque já vamos jantar começo logo a roer-me todo.
No fundo, este acidente não passou de mais uma tentação inacta de pecar por gosto.
E quem culpamos? A falta de sinalização ou a maçã de Eva?

domingo, 2 de março de 2008

Paris

No ar pairava um cheiro a alfazema, a primavera-verão confusa no romance que lhe dourava os cabelos, à luz do sol parisiense. Sentados na mesa da esplanada, a toalhinha vermelhusca, as velhas, uma cena quase de desenho animado, se estivessem eles a partilhar almôndegas e se saísse do restaurante um cozinheiro gordo a tocar acordeão apaixonadamente… Ela gargalhava, ele não tirava os olhos da boca dela, que a menina humedecia em tom provocatório, de vez em quando. Riam os dois, nem sabiam bem de quê… Riam um para o outro, um do outro, embalados naquela Paris que embebedava os sentidos, deixando-se apaixonar sem medo, porque a cidade assim o pedia.
Passou-lhe pela cabeça que ele a levara ali para a pedir em casamento. Tantas histórias tinha já escutado, de namorados loucos que, no topo da torre Eiffel, a tremer de frio, a esconderem-se das alturas, sussurravam o mais romanticamente possível um pedido de união eterna… E claro que as namoradas respondiam afirmativamente, coitado do rapaz, tanto esforço…
Estava aterrada. Se isso lhe acontecesse, que faria? Não, ele não seria capaz… Estavam tão bem assim, tão descontraídos, sem nada que os obrigasse a partilhar seja o que fosse – partilhavam porque assim o que queriam. Diria que não, com certeza ela recusaria se ele lhe fizesse essa proposta… Pediria um tempo para pensar, como se vê nos filmes e nas telenovelas. Mas nestas coisas não se pensa muito: se estivessem prontos para casar, ela diria sim sem hesitar. Não… E daí…talvez tivesse de pensar… Sim, tinham sinceramente de pensar em conjunto para assentar ideias. Era a desculpa perfeita: temos de falar, amor! Onde morar, como pagar as contas, tanta burocracia no meio do amor, Jesus!
Entretanto, ele continuava a olha-la, a sentir a brisa de Paris, a sentir a sua brisa, a sorver-lhe o olhar e a dar-lhe o mundo num sorriso, e ela teve a certeza que não desejava estar noutro lugar senão ali, com ele, sem torres Eiffel, sem filmes ou telenovelas, sem burocracias no meio do amor.

Estavam ali juntos, rindo. Pairava no ar um cheiro de alfazema. E aquele fim-de-semana era para eles o primeiro de muitos, ao som de uma música inaudível para outros, nas alturas para eles … Estavam apaixonados, havia dúvidas?

Ela teve a certeza de que ele não diria nada. Estavam ali, e isso bastava.


>>> Mariana Silva

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

É fácil, é Barak e dá milhões

Hillary Clinton e Barak Obama protagonizam uma das lutas mais bizarras da história dos Estados Unidos da América. Porque a crua verdade é esta: o próximo presidente do país de Washigton e Jefferson ou será uma mulher ou será um tribal.
Do lado de Obama está a vantagem de ser um homem. Do lado de Clinton está a vantagem de se parecer com o seu homem. Em tudo. Reparem que até no sorriso forçado.
Eu até já imaginei a cara de Obama como a quinta no Mount Rushmore e até fica engraçado, ali mesmo ao lado do Lincoln. Se bem que por respeito aos pobres coitados ali esculpidos deviam construir a cara de Hillary, porque eles bem devem estar a precisar de uma companhia feminina passados tantos anos em que o mais feminino que tiveram foi o cabelo de George Washington.
Mas eu - pasme-se - encontro uma vantagem em vontar em Clinton. Se repararem, com uma mulher no poder, os Segredos do Estado norte-americano seriam do domínio público. Era num instante que, Clinton, do seu escritório, admirando-se com algo do domínio estritamente governamental, telefona ao marido e diz: "Honey, nem imaginas o que é que eu descobri aqui! Não é que o...", "Eu sei, filha, era a mesma coisa há dez anos atrás quando eu estava aí nessa tua cadeira", "Não, sweetie, nesta não estavas, que esta mandei eu instalar e tem massajador", "Massajador, hein? Se eu soubesse tinha sido bom para mim e para a menina Lewinsky", "Não ouvi, Billy, diz lá?, "Nada filha, bom trabalho!".
É perciso referir que o famoso caso de adultério de Bill Clinton com Monica Lewinsky - tem mesmo nome de judia a mulher! - também deve ter tido influência na sanidade mental de Hillary, porque nunca cai bem no goto uma traição, nem que seja por uma questão de orgulho. E eu penso que o orgulho poderá falar mais alto, e Hillary pode estar aqui à procura de uma oportunidade para se vingar. Esperará que, sendo eleita presidente, terá um secretário jeitoso. E cego, para as hipóteses existirem. E pimba! A vingança servida fria!
Mas como eu dizia - e porque é importante não perder o fio à meada - Hillary Clinton telefona ao marido e, não lhe tendo podido dar novidade, vai telefonar à melhor amiga. E quem diz melhor amiga diz as amigas. E quem diz amigas, diz o carteiro. Há essa necessidade de dar à lingua, de contar tudo. Se Bush fosse uma mulher, a invasão ao Iraque e os seus mais ínfimos pormenores em dois dias que seriam do conhecimento aqui do chinês que tem uma loja na minha rua. Positivo, portanto.
Uma coisa que eu não apreciaria era mais uma família de poder. Num contexto distinto, temos os irmãos Castro. Temos os Bushes. E agora, depois de Bill, candidata-se a mulher. Qualquer dia candidata-se o cão. E eu antes votava no cão.
Uma nota: penso que em Portugal nunca seria possível termos uma mulher como Presidente da República. Porquê? Pelo assombroso número de pessoas que ainda diz a palavra "presidenta". Enquanto não se aprender que "presidente" é uma palavra neutra - ou "unisexo" para quem se dê melhor com a palavra - nunca teremos uma mulher no poder. Nesse aspecto, os americanos levam vantagem por terem uma lingua bem mais facil. E mesmo assim Bush Jr. a complica, diga-se.
E baixando a poeira, quem ficará de pé? É facil, Obama. Primeiro, porque sim. Segundo, porque Obama é do Quénia, e sabe bem como domar as feras como Clinton.

Diogo Hoffbauer

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Mais que o necessário

O que eu precisava era que me trouxesses sossego
Numa bandeja de prata…
Que me estendesses na mão um sem fim de soluções
Para os problemas que não tenho!
Que calasses a voz de pássaro morto
Que quer voar para abraçar o infinito negro…

Precisava que te deitasses ao meu lado, em silêncio
E que contasses comigo as estrelas que há muito desapareceram de vista…
Que me sussurrasses que o tempo é uma metáfora
E que a eternidade são segundos indiscutíveis!

Precisava que cantasses comigo as músicas de uma infância longínqua
Mas tão presente que as letras ainda bailam na memória…
Precisava que debaixo do braço trouxesses o jornal
Com todas as notícias que não são novidade,
E que falasses e me ouvisses, e me ouvisses e falasses.

Precisava de chorar, de largar gotas de alma no teu ombro
E de sentir a tua mão pesada de homem leve
A afagar as torturas do pedaço amargurado
Que carrego no peito.

Precisava que uma gargalhada tua me devolvesse as manhãs
E as noites e as tardes em que tudo era perfeito
Porque ninguém nunca ouvira falar de perfeição antes
E todos julgavam que era possível…

Precisava, acima de tudo, que me olhasses, que me visses
E que encontrasses em mim o que há muito eu procuro…
O que há muito todos desistiram já de procurar…
O que ninguém pensaria ser possível encontrar um dia…

Precisava de ti para mim, mas sem seres meu
Como um corpo desnudo estendido numa praia deserta
Que as ondas beijam suavemente, sempre que se enrolam na areia,
Simplesmente porque desejam fazê-lo.

Precisava, e queria, queria muito, que no teu colo houvesse a paz
Das manhãs em lençóis quentes e sem relógios que despertam o mundo louco…

Queria, queria muito, e precisava, que estivesses aqui agora.
Porque se fosses a sombra do momento
Eu não estaria só
Escrevendo palavras soltas numa branca folha fugidia...


>>> Mariana Silva

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A vida são dois dias e um deles é feriado

Há perguntas tão clichés em entrevistas e coisas do género que me dá vontade de responder para mim sobre mim, não vá o diabo tecê-las. Assim, quando eu for famoso por ter inventado um comprimido que permite às pessoas não dormir durante a noite sem adormecer no lavatório de manhã, e for entrevistado, e me for colocada uma dessas questões que parecem pragas comuns a todas as entrevistas, já estarei preparado e surpreenderei com uma responta previamente expontânea.
A pergunta que mais vezes detectei foi provavelmente "O que mudaria em si se tivesse oportunidade?", claro que a par de "Quais são os seus planos para o futuro?", "Qual é o seu maior medo?" ou "Onde acha que está a Maddie?".
A hipocrisia quase obrigatória de quem responde a perguntas com a consciência de que as pessoas que lerão aquela entrevista formarão muitos juízos sobre a sua personalidade, e a imagem custa muito a formar como nós a queremos - que é com os defeitos maquilhados e as qualidades carregadas - empurra os entrevistados para o habitual "Nada, sou feliz como sou". Balelas. Bullshit. Normalmente esta pergunta é feita em termos físicos, e como tal podemos dividir os entrevistados em duas categorias: os feios e os bonitos.
Os feios optam pelo conformismo, dizendo que gostam de ser como são. Os bonitos - espécie rara, e consequentemente resposta menos ouvida - dizem que mudam tudo e mais alguma coisa. Um toquesinho de modéstia. Tanto o conformismo como a modéstia ficam sempre bem. Ou pelo menos sabem bem a quem não os realmente possui.
Eu decidi responder a esta pergunta. E cheguei à conclusão de que o que mudava em mim
era com certeza a minha preguiça. Depois de diminuir o nariz, tornar o meu corpo mais atlético, fazer alguma coisa em relação ao meu cabelo e tornar-me inteligente o suficiente para ganhar um jogo de Cluedo à minha mãe e poderoso o suficiente para fazer a Maria de Lurdes Rodrigues ser internada - como quem me conceder o poder de alterar algo em mim terá certamente também o poder de evitar que Maria de Lurdes Rodrigues seja internada, torçamos para que a alma caridosa que hipoticamente que daria tais poderes fosse jovem estudante e tivesse aulas de substituição às oito e meia.
Mas depois disto tudo, era a preguiça.
Não me entendam mal! Como português que sou, eu adoro a minha preguiça! Ai, o prazer que não é passar um domingo de pijama a consolar as mágoas de não ter a namorada por perto com futebol todo o dia na TV, dormir até tarde, e só me levantar para ir buscar de comer ao frigorífico ou ir ao quarto de banho, porque é assim o ciclo. Eu tenho orgulho desta minha faceta. E como vêm, exponho-a sem pudor, e a isto não ajuda só o orgulho mas também a desfaçatez.
Há uma parte de mim que mal pode esperar por expôr orgulhosamente a minha barriga de cerveja.
Mas por outro lado, é algo que me faz esconder a cabeça de vergonha. Na sociedade portugesa em que vivemos, os preguiçosos são cada vez mais postos de lado. E ironicamente o nosso lado - dos preguiçosos - fica cheio. E do outro lado estão meia-dúzia. E nenhum deles é português.
Mas a verdade é que um preguiçoso é um inútil.
Vantagem: "Vamos dar este trabalho ao Diogo?", "Não, ele é preguiçoso, ao fim-de-semana não faz nada de certeza. Fico eu encarregue!". Muito bom, é menos uma coisa para fazer no fim-de-semana, tenho agora -1 coisas para fazer.
Desvantagem: "Convidamos o Diogo?", "Oh, é fim-de-semana, provavelmente ainda está a dormir! Vamos ver o Porto nós!". Felizmente isto nunca aconteceu. E uma vez que
aconteça, nunca mais na vida me esperguiço.
Alguém muito sábio disse uma vez que "pessoas inteligentes são preguiçosos". Deve ter sido um estampador de camisolas que o disse - porque é de facto uma excelente prenda - mas era um sábio com certeza.
E que mal tem um pouco de preguiça? Deixem-me aproveitar o deleite do pecado! Toda a gente sofre de pelo menos um pecado capital. O único problema em mim é mesmo ter dois, e em peso: a famigerada preguiça e a gula.
E dava jeito cortar pelo menos uma, para não parecer mal. Falta saber é qual cortar e como.
Hum...
Let me sleep on it...

Diogo Hoffbauer

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Poema (antiguinho já...)



Lágrimas.
Quantas lágrimas chorei
nesse rio que edificaste
tijolo a tijolo
beijo a beijo
palavra a palavra...

E hoje, após o rio ter secado,
seguro o cair de mais um pedaço
de alma
de tijolo
de beijo...

Porque as palavras, essas !, tão fáceis
Queimam em segundos
O dificil morrer do tempo...


>>> Mariana Silva

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Humanos



Aprendemos a caminhar. Aprendemos a falar. Aprendemos a ter uma rotina.
Aprendemos a tratar de nós, a evitar doenças, a cuidarmos do corpo, a cultivarmos a mente. Aprendemos a divertirmo-nos, aprendemos a ser simpáticos, aprendemos a sermos educados, aprendemos a ouvir calados e a falar sem escutar... Aprendemos a gostar do mundo e a reclamar dele, aprendemos a fazer algo por nós e a devanear como fazer algo pelos outros. Aprendemos a ser um e a ser todos, e a ser todos sem ser um.

Aprendemos muita coisa.

Mas continuamos, após anos de aprendizagem, a não saber ter sonhos, a não saber dar sem no fundo esperar receber, a não saber como sorrir sem embaraço nem chorar sem ser em silêncio. Continuamos sem saber que rumo seguir apesar de sabermos caminhar, continuamos sem saber o que dizer apesar de sabermos falar, continuamos a querer quebrar o tempo apesar de há muito termos aprendido uma rotina...
Continuamos a não saber como tratar de nós da melhor forma, continuamos a passear pelo mundo vendo a paisagem sem saber como fazer parte dela e invejando quem supostamente o consegue...

Continuamos sem saber tanta coisa.

Mas continuamos, após anos e anos sem saber, a aprender que cada dia merece um sorriso e uma lágrima, e que cada minuto merece a nossa atenção e o nosso desprezo.
Porque somos humanos de duas faces... Ou mais! - quem sabe?


>>> Mariana Silva

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Promessa

Mostra-me os pozinhos mágicos com que polvilhas o meu coração e o fazes suspirar de saudades.
Conta-me os teus segredos, diz-me como consegues evaporar a chuva que cai quando tu não estás, com um beijo discreto, lá de longe, quando vou dormir.
Suspira-me ao ouvido as palavras mágicas e exploramos ambos, em conjunto, o seu sentido. Vivendo, de mãos dadas, sempre as mesmas mãos, mas que cada dia assumem um feitio e uma suavidade diferente, mais confortável.
Deita-te comigo um momento. Sim, um momento, porque nem que passassemos o resto das nossas vidas deitados juntos não passaria de um momento, breve como um suspiro. Deita-te sobre o meu peito, deixa.me sentir o teu corpo bem de encontro a mim, numa sensação perfeita de dependência mútua. Quero sentir o bater compassado do teu coração, em alternância com o meu, que grita por ti. Juntos, vão marcar o ritmo das nossas palavras, suspiros, desabafos, gritos que nunca entraram mas têm de sair.
E o teu andar...Quando vem na minha direcção, pareces correr em direcção aos meus braços... Quando te afastas, ainda te vejo mas já sinto saudade.
Eu adoro-te, e adoro como sou ao teu lado... Quando te tenho junto a mim, parece que sinto a capacidade de criar quadrados redondos. Nunca me peças para tentar, porque estarei demasiado ocupado a olhar para os teus olhos... Parecem pequenos cristais, orlas fugidas de florestas que encontraram refúgio na tua linda face...

Eu não escrevo estas coisas. Exponho-as. Elas já estão escritas, e não me lembro de ter sido eu. Mas encontrei o seu rascunho num canto do meu peito, que havia de jurar que estava vazio antes de tu apareceres...mas agora que apareceste, está repleto de palavras destas...
Dá-me a mão que eu levo-te lá a ver o resto das coisas que surgiram...

Diogo Hoffbauer

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

In the deep...

Em diálogo com o mundo. Era suposto ser esse sempre o nosso estado, diálogo, discussão positiva, progressiva, lucrativa. Devíamos poder dizer o que queremos, sem códigos, ideias pré-definidas, preconceitos. Mas o que vigora é a lei da sobrevivência na selva, e há regras a cumprir.

Por isso, nós pensamos que sabemos quem somos, mas não temos ideia.
Por isso vivemos supostamente protegidos, escondidos, atrás de uma parede, a evitar o toque, a exposição, a vida.
E lembrei-me de tudo isto a propósito de outro vício meu, outro, outro... 'Crash - Colisão' um dos melhores filmes de sempre, um dos mais bem conseguidos, um filme que fala despretensiosamente das relações humanas - ou mais propriamente, da falta delas.

"Sentimos tanto a falta 'desse' toque, que colidimos uns contra os outros, só para podermos sentir alguma coisa..." - é o conceito principal do filme que demonstra como as ideias pré-definidas, os códigos, os preconceitos, a ausência de diálogo... Tudo o que impusemos em nosso favor, está agora contra nós. Tudo o que criamos para vivermos melhor, está a impedir-nos de viver.


Aqui fica a música principal da banda sonora do filme, 'In the Deep' - Bird York...

'In the silence,
all your secrets, will
raise their worried heads.
Well, you can pin yourself back together,
to who you thought you were.
Now you're out there living...
In the deep...
'



>>> Mariana Silva

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

É de graça e eu ainda me queixo...

As pessoas devem manter-se informadas.
E eu sou uma pessoa que gosta de se manter ao corrente do que se passa aqui e ali. Pode acontecer dar-me uma vontade enorme de escrever neste espaço e depois não tenho sobre que falar. E hoje posso falar da minha maior fonte de informação: os jornais gratuitos.
São actualmente cinco os jornais gratuitos: Destak, Metro, Global, Meia-Hora e Sexta. É informação à pala, é isso é muito valioso. O facto de pagar por informação - já estando eu tão habituado a tê-la entregue na mão - já me é estranho. Quando me perguntaram se eu queria o jornal da escola, eu até gostava de ver o que lá estaria. Quando me disseram que teria de pagar, quase esmurrei o miúdo. Digamos que o comodismo dos jornais à borla estão-me a tornar uma pessoa sovina.
Muita gente se interroga se serão mesmo necessários tantos jornais gratuitos. Eu respondo que sim. E quem me dera ter vida para os conseguir ler a todos.
A primeira coisa que eu faço mal me sento no metro é abrir um dos jornais que tenho em minha possa. E a primeira página que abro é a da astrologia, que é uma arte que me fascina. Uma das vantagens de haver tantos jornais é que as previsões astrológicas são variadas. Isso intriga-me, já que as estrelas são as mesmas, as cartas são as mesmas, o alinhamento dos planetas é o mesmo, e ainda assim num jornal tudo isto junto diz-me que vou ter dores de barriga e o outro diz-me para tomar particular atenção ao coração. Só se as cartas forem como a poesia, todos lêm e cada um interpreta a sua maneira. E eu, usualmente, escolho o astrólogo que mais que convém nesse dia, que é normalmente aquele que diz "Amor - Precisa de mais afecto da pessoa que ama" («Vês paixão?...Preciso do teu afecto...»), "Saúde - Vai-se sentir preguiçoso e sonolento" («Ó stôra, são os astros que me põe assim, eu por mim até fazia o exercício») e "Dinheiro - Algumas dificuldades" («Posso pagar amanhã o café?»). Porque todas estas situações são - diga-se - frequentes no meu quotidiano.
Depois, passo para a secção meteorológica, ver o que o tempo me espera, que às vezes o clima é tramado.
Depois, "Desporto". Mais um golo do Cristiano Ronaldo, o Benfica quer contratar uma jovem promessa do Turquemenistão, o Quaresma fez birra, o Paulo Bento quer tranquilidade, o Scolari não quer bundas grandes, o Cardozo bateu com a cabeça num poste, o Benfica foi campeão. Calma! Exacto... "Benfica foi campeão regional de Badminton em juvenis femininos".
Depois, emociono-me dez vezes em jornais diferentes pela mesma enchente na Índia, pelos mesmos mortos no Iraque, pela mesma fronha da Ministra da Educação, que dá realmente pena.
Finalmente, a secção dos famosos, porque parece que a filha da Jessica Alba é na verdade do David Copperfield, que traiu o amigo Tony Parker ao ir para a cama com a Eva Longoria, que por sua vez parece que anda metida no alcool com a Briney, cuja prima se despiu para uma revista, muito lida pela vizinha da tia avó do Toy. É sempre bom saber.
Deixo o apelo: deviam haver mais jornais gratuitos.

Diogo Hoffbauer

Bolso, poiso, caixa...




''Trazer as pessoas no bolso'' é uma óptima metáfora para explicar a forma como carregamos connosco as vivências de uma vida e as pessoas de uma vivência..
Isto porque, ainda que usemos roupa sem bolsos, casacos sem bolsos, calças sem bolsos, ha sempre um bolsinho, um local, um poiso, onde descansamos as memórias e deixamos que a nossa vida vá correndo, a olhar para o trás e para a frente, olhos postos no passado e no futuro, no conseguido e no por conquistar.

Porque é tudo nosso, se uma série de factores se alhinharem e o 'tudo' acontecer.
Porque nada é nosso se nada acontecer.

E porque as conquistas de uma vida, de um momento, de um segundo, são nossas, do nosso bolso, do nosso poiso... E se forem como eu há sempre uma caixinha forrada onde já nada cabe, tantas são as provas de memórias que por vezes se escondem, se perdem no bolso, e voltamos a encontrar, radiantes ou chorosos, quiçá...
São as pessoas que movem o mundo, que movem os momentos, as vidas, e que enchem os bolsos, os poisos, as caixas.. Porque são as pessoas a mão que nos agarra à vida, que nos embala o choro e que nos castiga com uma palmada, que nos afaga os cabelos e nos mostra um não com o dedo indicador...
Porque as pessoas da nossa vida não fogem, ficam presas ao bolso, poiso, caixa das memórias e são nossas para sempre...
Porque tudo fica aguardado mesmo quando dizemos que já esquecemos, que já nada significa para nós, que se perdeu no tempo.. Porque o Destino é matreiro e assim como não apaga as coisas boas, também não apaga as más..

Resta-nos, então, ter vários bolsos, poisos, caixinhas, e seleccionar bem o que queremos reviver.
Afinal, é tudo uma questão de escolha.. de uma série de factores que se alinham para que o 'tudo' aconteça.


>>> Mariana Silva

sábado, 26 de janeiro de 2008

Aaah malandro... desde quando?

Já me questionei várias vezes: de que forma nasce um amor? Qualquer forma de amor, familiar, profissional, amizade, apaixonante, vocacional.. Como é que se dá o início dessa demonstraçao de sentimento, dessa palavra sem letras, que por mais que tentemos explicar não tem explicação?

Ora aí está, não tem explicação.
Por mais que tentemos definir a hora, o momento, o dia até, ninguem sabe dizer quando aconteceu 'o amor'. Porque é tudo uma questão de horas atrás de horas, de momentos atrás de momentos, de dias atrás de dias...
Mas quando temos aquele click mental 'eh pah, pera lá, eu amo-o (a) !' é inevitável pensar: 'e há quanto tempo é que eu sinto isso?'
Impossivel de definir. Apenas em casos quase obrigatórios, como os familiares, em que nenhum filho ingrato se pode dar ao luxo de não amar um pai ( se ele tiver sido pai com todas as letras, claro.. mas isso são outros horizontes!), ou nas vocacionais, em que amamos o que fazemos quase sem termos voto na matéria, porque sai de nós como ar que respiramos, e não o conseguimos impedir - apenas nestes casos sabemos que não nos coube a nós a tarefa de 'começar a amar'.
Fora isso, e às vezes isso não sai fora, a vida encarrega-se decidir o curso do amor, e não nos deixa saber quando o conhecemos, nem nos dá oportunidade de nos despedir-moos dele. Amigos que perdem contacto, empregos que vão á vida, namorados com quem a coisa não resulta... Ou então mesmo no fim da vida, 'where there's no turning back' .


Mas então, como será que o amor começa? Será que é so uma questão de circunstância, de empatia obrigatória e depois mais fluida...?
A questão surgiu mais uma vez devido a comentários em cadeia que recebi no hi5, 'amo-te' .. mas n imaginem coisas já, é amor de amizade, mas antes disso é amor familiar, amor de primas amigas, amor que supera os inevitáveis laços de sangue! Porque a coisa que mais prezo nesse amor, é o facto de apesar do factor obrigatório de nos encontrarmos em reuniões familiares - quanto mais não sejam em funerais ou casamentos! - , nós continuamos a encontrar-nos, mais do que quando pequenas, mas ainda assim menos do que o desejável, e o 'amor' existe desde sempre, acabamos por concluir.

Porque com seis ou sete anos, pequerruchas, ficavamos abraçadas durante minutos, os relógios dos pais num tic tac de pressa - que hoje, quase adultas, já bem compreendemos - e nós ali, naquele abraço forte forte e no choro sem voz, assim quase escondido para não enfurecer ninguém...


>>> Mariana Silva

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

SINCERAS DESCULPAS POR UM ESQUECIMENTO INESQUECIVEL

A batata vem por este meio mostrar o seu mais sincero e profundo arrependimento pelo esquecimento de Rita Machado, a mais assídua leitora deste blog, que tanto contribuiu para o desemperramento da ferrugem que já se instalava neste espaço, ao informar-nos de um tema que deu pano para mangas no nosso último post.
A maldade não entrou neste esquecimento. Não passa de um mal entendido, de uma distracção imperdoável de duas batatas despistadas, tontas, parvas e feias.
Isto não passou de um lapso quase tecnológico, já que a vontade de postar a novidade que nos foi fornecida era tanta que o corpo não obdeceu ao cerebro - nem ao coração, porque sabes que te amo pedacinho (L) - o que deu origem a toda esta celeuma.

Esperando que este esquecimento não afecte as relacões entre as batatas e a referida Rita M., e que continue a haver muita amizade da parte de uma das batatas, muito amor da parte da outra, e - no plano bloguístico - muita continuação de colaboração. Já com a promessa, evidentemente, de que no futuro este lapso não se repete.

Pedimos perdão...

Mariana Silva e Diogo Hoffbauer

2008 é o nosso ano !

Nós ja sabíamos.
Quando numa conversa madrugadeira (três da manhã, vá lá), entre risos e frases sem nexo, confidências aparvalhadas e assuntos sérios distorcidos, surgiu a pergunta 'então e se fizessemos um blog?', nós já sabíamos.
Digam o que disserem, caros leitores, vocês estão perante um fenómeno da natureza, uma verdadeira extravagância! Os jovens espíritos que dirigem este devaneio são, na realidade, uns verdadeiros visionários :)

Este blog foi criado em Outubro de 2007, e provou-se, ha escassos dias numa notícia online, o poder da nossa criação: o ano 2008 foi declarado como o 'Ano Internacional da Batata' pela Resolução 60/191 da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, de 22 de Dezembro de 2005.

A Resolução assinala que "a batata é um alimento principal na dieta da população mundial"; visa "focalizar a atenção mundial no papel que a batata possa ter para prover a segurança alimentar junto às populações pobres".

Pois a Batata é um alimento indispensavel, do corpo e da mente, do músculo e do intelecto! É fonte de vida, é fonte de força! É a batata, não ha mais a dizer!

Aliás há : diriamos nós que somos, até mesmo, profetas, que devaneiam, vagueando na web para entregar mensagens sem forma nem conteúdo, mas com alma, com visão alargada do que se passará no mundo ! No fundo, os nossos textos espelham o presente e o futuro - e isto é melhor que consultar cartomantes ou ler borras de café!
Aqui o futuro é certo, e a única coisa que pode correr mal é o mundo não concretizar o que prevemos.. Mas isso já não é culpa nossa, quer dizer, já muito fazemos nós em prever a vida dos outros...

E agora alguns acusariam este blog, principalmente a Mariana, de espalhar boas novas sem certezas, já que o enfermeiro não ganhou a Operação Triundo e, portanto, o crime não teve qualquer sentença... Calúnias! Puras calúnias, caros leitores! Afinal de contas, a vitória é relativa... :)


Só por causa das cócegas, aqui fica mais um...






Mariana Silva e Diogo Hoffbauer

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O CRIME (im)PERFEITO

Hoje tinha de escrever. Não sabia sobre que assunto, não sabia como começar, continuar, acabar. Mas tinha de escrever, porque cumpro sempre o prometido e prometi que não deixaria morrer a 'Batata' (quase parece aquele livro do Miguel Sousa Tavares, 'Não te deixarei morrer David Crocket', com a diferença de este meu 'livro' - meu e do meu companheiro Sr.Hoffbauer - ser virtual e ter muito mais admiradores do que esse tal David! ).
Portanto têm-m aqui hoje para dizer tudo acerca do nada. Sim, sim, sou uma mulher de palavra que escreve num portátil com teclado alemão, de pijama já vestido (novinho, tecido polar, em saldos, grande compra!), com a maquilhagem por tirar.. O o que me lembra uma frase espectacular que encontrei num qualquer hi5, sei lá bem...

' Gosto de lágrimas que borram maquilhagens porque não há crimes perfeitos, ainda.'

Ora eu gosto de cumprir as regras, gosto de sentir que faço parte integrante de uma sociedade, mas tenho os meus devaneios, os meus choros que borram maquilhagem, e tenho-os na solidão do meu eu, tenho-os comigo.
Porque eu sou eu comigo, eu sozinha, eu com outros. Tenho várias faces e um só corpo, varios reflexos e um só espelho, varias vozes e uma só alma. Sou a Mariana, gosto de chocolate, de dormir, de me sentir quente, tenho sempre as mãos frias e os caracóis ao vento - quando há vento, não pensem que tenho poderes para pôr o cabelo a esvoaçar sozinho..! - e vicio-me facilmente nas coisas - e essa é a real razão porque me impedi de levar a experiencia de fumadora para além de meia duzia de passas.
Vicio-me em musica, em batons, em séries de tv, em programas, em gelados, em sites de internet, em pessoas, em acessorios, em horas, em almofadas, em livros... Vicio-me e levo as coisas a um extremo insuportavel para outros - lá esta, o meu crime (im)perfeito de lagrima que borrata a face maquilhada.
Pois já aqui falei de um devaneio viciante, o 'meu' Michael Bublé (lá está o MEU, o vicio, ai ai ai ai..), aquela voz para me (en)cantar ao ouvidinho antes de adormecer. Mais recentemente descobri, num programa de tv, uma voz portuguesa que também não me importava que me aquecesse as noites frias do meu verão eterno.. ^^

(Lá vem a miúda falar do enfermeiro, já ninguém a pode ouvir, já se sabe que ele faz uns bons falsetes, que canta bem, que vai ganhar o concurso, lá a Operaçao Triunfo, que é muito simpatico e humilde e que é uma revelação na música portuguesa...!)


Aqueçam a alma se a tiverem gelada, congelem-na por segundos se a tiverem irracionalmente quente. Dêm um abraço, lancem um beijo no ar, bebam leite do pacote e lambam a colher com que barram a compota no pão... Façam como eu e cantarolem desafinadamente ao som de programas da televisão pública...! Porque cada dia pode ser o nosso último crime. E hoje eu tinha de cometer o meu.





> RICARDO COSTA, ENFERMEIRO, 21 ANOS, ALENQUER .::. concorrente da Operação Triunfo 2007 (RTP)



(SAY IT RIGHT e GOLDEN EYE com a colega concorrente Denisa)


(BARCELONA, com a professora da escola da OT - Helena Vieira)



>> Mariana Silva