domingo, 30 de dezembro de 2007

Um Novo Ano... Novo

Era noite de passagem de ano. O frio gelava os vidros da casa quente dos seus pais, e a lareira crepitava, brindando-lhe o olhar com o fogo que lhe faltava no coração. A mesa estava posta, recheada, à portuguesa, com os tradicionais doces espalhados, o champanhe gelado à espera de ser aberto. O bacalhau estava delicioso, a família estava unida pela segunda noite no ano. E o tempo aclamava por uma mudança definitiva, por um novo ano que trouxesse uma nova vida, por um tempo onde as diferenças apagassem as maldades das semelhanças, e onde as semelhanças trouxessem o alento que aniquilaria o azedume das diferenças.
Ela estava sentada, absorta, ausente, a ouvir tudo sem interpretar nada, a cabeça a rodopiar entre os doces, os frutos secos, as gargalhadas dos sobrinhos, o crepitar do fogo que aquecia a casa congelada nas janelas. Tudo aquilo em que acreditava estava longe, num sítio chamado distância, sem tempo ou espaço, sem crenças ou verdades. Só lhe restava esperança, as badaladas de um relógio interior, as doze passas de disciplina para agir e mudar a sua vida.
Cinco minutos para a meia noite. Todos se levantaram, o rebuliço para organizar mais uma viragem de ano, taças de champanhe a postos, as crianças com tachos e panelas prontas a fazerem o barulho infernal do costume, as tias, avós, primos a contarem e distribuirem as passas de mão em mão. A alegria, a família, o tempo, a mudança.
Tudo lhe parecia tão perfeito, tão seu, que por momentos perdeu a coragem de desejar mais do mundo.
Olhou com ternura o cão aninhado na lareira, imaginando os seus desejos, as suas resoluções de ano novo: que mais poderia ele querer se ela já lhe dava tudo o que podia? Pousou a taça, foi aninhar-se junto a ele, e podia jurar que nos seus olhos brilhantes de bicho que nada sabe do mundo, estava a certeza de toda aquela noite: 'Este será o teu ano'.
- Anda lá, faltam um minuto para a meia-noite, olha a tua taça!- berrou-lhe a mãe.
Levantou-se, foi para junto dos 'seus', e com o rebentar das horas, engoliu o mundo, embrulhado em passas e champanhe, engoliu a vida mergulhada nos olhos daquele animal que lhe ensinara com o olhar a sorver a vida num único trago.

Tudo aquilo em que acreditava, tudo aquilo que desejava.. Estava longe, não era seu, e ela tampouco sabia como conseguir que fosse seu, após tantas tentativas falhadas, tantas hesitações fora de tempo...
Naquela taça de champanhe estava a chave de ouro: tudo estava tão longe quanto o olhar do cão para os que não conseguiam compreendê-lo.

No fundo, era tudo uma questão de distâncias, de tempos, espaços... E de vida.


>Mariana Silva

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

É Natal... !

É quase Natal. O frio já enregela,congela, e é quase já o 'pão nosso de cada dia' eu receber mensagens como "saí agora à rua e congelei a retina" ou "vou parar de escrever mensagens, porque dói".
Por mais que nos agasalhemos, o frio é mais que muito, e o calor humano mais desejado do que nunca. A um dia da véspera de Natal, ou em bom português, da consoada, muitas são ainda as pessoas zombies que se passeiam pelos centros comerciais ou pelas apinhadas e encavalitadas ruas da baixa, em busca do presente perfeito para a pessoa adorada, ou do presente imperfeito para a odiada!
É estranho isto do Natal. Supostamente seria uma festa religiosa, mas está tão entranhada que, 2007 anos após o nascimento que estaríamos supostamente a festejar, já muito poucos o celebram, tendo antes adoptado a imagem de um velhinho vestido de vermelho que entrega presentes a quem se porta bem, viajando pelo mundo na noite da consoada! E todo o espírito de partilha e dádiva se transformou em puro consumismo, onde dar e receber é uma simples circunstância, e a frase 'O natal é quando um homem quiser' não faz sentido, simplesmente porque querer não tem qualquer força quando não há dinheiro para comprar eternos presentes...
Mas deixemo-nos de negativismo! Pensemos antes que em pleno século XXI o Natal é mais encarado como uma reunião de família do que como uma celebração religiosa. É a noite onde tudo acontece: pela festa, pela ansiedade e risos das crianças, pelos familiares que vemos vezes a menos, pelos doces da quadra, pelos programas televisivos e cambada de filmes que estreiam por estes dias, pela casa decorada e as luzes do pinheiro a brilharem-nos no olhar...
É a festa da família, das prendas por circunstância mas também das prendas que damos como significado das palavras 'pensei em ti'. Porque é, ou deveria ser, esse o espirito de Natal. Lembrarmo-nos dos que estão quase sempre longe e de quem gostamos tanto; lenbrarmo-nos dos que estão tão perto mas que nem tampouco conhecemos...
E por isso, por esse verdadeiro significado, o Natal deveria mesmo ser quando um homem quisesse...

Boas Festas!

> ao som de 'So this is Xmas - War is Over...'de John Lennon, um homem de convicções e de boas canções...
Para quebrar o gelo, acabar com 'as guerras' e acender as luzes do pinheirinho interior...

sábado, 15 de dezembro de 2007

Dependência Virtual




A ausência foi sentida? Não sei, mas eu senti falta de todos vocês, do teclado rude e das letras meias apagadas, do ecrã pálido a ganhar vida em forma de letras, das palavras a esvoaçarem rumo ao virtual mundo dos textos, a minha vida a ser a vida de todos vós e a vossa vida a ser um pedaço de mim...
No meu último devaneio falei-vos de um cantor que adoro, cujas músicas me envolvem numa doçura estonteante. Agora, falo-vos do pesadelo (!!!) que foi a minha última semana: sem internet.
Ahh pois é, esta nossa geração sem internet já não se aguenta! As linhas que separam real do virtual são tão ténues que sem elas não sabemos o que mais fazer. Dava eu por mim, dez e meia da noite, sentada na cama, a olhar as paredes, os livros (poucos, dada a finitude das aulas...) já separados para o dia seguinte, a toilette já escolhida (que tristeza..!), tudo arrumado, e restava-me a televisão, com os seus inúteis cinquenta canais, onde as galas de Natal da tvi me faziam ter pena de mim mesma.
Uma semana sem computador e, consequentemente, sem internet. Uma semana onde apenas me restou sentar-me no sofá, a explorar os canais, ou de telefone pendurado na orelha, a desabafar com primas, amigas, amigos, sobre a desgraça que então estava a viver! Um descalabro, um drama!
E acreditem que isto, vindo de quem só tem internet há meia dúzia de meses, é muito mau sinal... A dependência aguçada de quem encontra no ecrã espelhado o contacto com o mundo (e se lermos esta frase co espírito de quem nunca mexeu num computador, vamos considerar-nos, a nós próprios, a extrema ridicularidade da geração!), a tamanha felicidade e liberdade de nos sentarmos, envolvidos pelo calor do aquecedor - que o Natal já enregela...- e assolados por ideias de comentários a fazer nos respectivos Hi5, e-mails a responder, blogs para actualizar, pessoas com quem falar...
Porque em cada segundo tudo se transforma, e no mundo virtual a velocidade ganha outro significado. Eu estive uma semana fora e ontem aprendi que SECSY (sexy !!!) se escreve assim.
Esta nossa geração virtualóide, vai de mal a pior... Só nos resta ir com a maré, e mantermo-nos actualizados, para não fazermos má figura !


> Mariana Silva

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Primeiro dia do resto da nossa vida

Dormitavas com a tranquilidade de um bébe despreocupado, de respirar livre e angelical.
Contemplei-te maravilhado, e não pude deixar de sentir orgulho pela tua beleza. Admirei o teu inspirar fresco e o teu expirar que, visto com os olhos de quem ama, parecia quase um beijo. Descortinei uma certa tremideira nas pálpebras quando a minha respiração de batia na cara. Os teus lábios pediam companhia, como a areia lisa de um praia inexplorada, que espera os passos de alguém que a deforme.
Beijei-te levemente a face e suspirei-te qualquer palavra amorosa, na sua amada circunstância. Disseste-me, com a tua doce voz musical, o que eu mais desejo ouvir.
Pedi-te que me desses a mão sem olhares em redor. Pedi-te que me levasses às estrelas do teu céu, ao mar da tua praia, ao luar da tua noite, ao centro do teu mundo.
Acedeste ao meu pedido, num abraço carinhoso e beijos apaixonados.
Partimos daqui ao céu. E não voltaremos.

Diogo Hoffbauer

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Devaneio Canadiano

Esta não é a primeira vez (nem será a última, perdoem-me os entediados pelo tema!) que falo de música aqui no 'devaneio'. Gostava então de partilhar convosco um gosto pessoal, uma paixoneta musical que me assola não ha muito tempo, mas com alguma intensidade!
Os que me conhecem saberão do que falo, e terão até estranhado que não tenha falado antes dela (dele?).
Apelidaram-no já de novo Frank Sinatra, sendo ele poeta de outras vozes, intérprete de músicas de báu. Charmoso, criador de música que renasce das cinzas a par com a sua voz doce e meiga, o canadiano é também ele compositor de grandes êxitos mundiais, "Let me go hooooome... I'm just too far from where you are, I wanna go home.." que terão passado tão despercebidos quanto o próprio, neste nosso Jardim-à-beira-mar-plantado...
Chega de mistérios, porque se que quero realmente promover o senhor mais me vale dizer de uma vez o nome dele! Falo, então, de Michael Bublé, nascido em Vancouver - Canadá, actualmente com 32 anos, comprometido (BOLAS!) e cujo último albúm, Call me Irresponsible, lançado em Maio passado, atingiu tops mundiais nos EUA, na Austrália, em países europeus como Itália e Alemanha e, claro está, na sua terra natal, Canadá.



Este intérprete conta já com três álbuns lançados, a par com um mini-álbum, se assim lhe podemos chamar, com clássicos de Natal. A música que o catapultou para a fama foi o single "Home",composto pelo próprio e que tocou nas rádios durante o ano de 2005, chegando mesmo a ser um dos temas principais da telenovela 'América' dos nossos companheiros brazucas. Este ano o tema que ecoa é "Everything", tema também composto pelo próprio para a actual namorada (BOLAS!)e que seduz muitas jovens ladies de coração palpitante..
O seu estilo Presley-Sinatra faz faísca nos palcos mundiais, a par com a sua humildade, o seu bom-humor e o talento de compositor-intérprete de boa música. Desde jovens adolescentes a avózinhas, avôzinhos!, Bublé cativa, Bublé fideliza, Bublé apaixona.
Confesso que muitos devaneios já ele me provocou (BOLAS!) e que nas suas músicas revivo clássicos esquecidos e até desconhecidos (já que eu não sou do tempo deles...!), revendo nas letras e melodias um romantismo energicamente doce... Desde os ritmos quentes de dança de salão, como sambas ("It Had Better be Tonight"), rumbas ("Tell me quando, quando, quando") e cha-cha-chas ("Sway" e "Save the Last dance for me"), passando por clássicos como "I've got you under my skin" ou "Fever" e "I'm your Man", Bublé é tanto amado como criticado, pois se para uns ele revive o passado, para outros ganha crédito com músicas dos "verdadeiros músicos".
A mim nada disso me interessa. Porque na voz de Bublé é tudo "sweetie pie", como ele próprio canta numa 'réplica', sigo de perto a carreira e ouço fervorosamente os albuns... Pena tenho que o mais próximo de Portugal por onde Bublé passou, na sua Tour Europeia deste Outono, tenha sido Paris..

A ver se converto mais uns quantos leitores do 'devaneio', para o senhor (senhor? tem 32 anos!) saber que há fãs aqui à sua espera, deixo-vos o 'hit' do momento "Everything" , uma minha recente descoberta de um dueto com o brasileito Ivan Lins, na música "Wonderful Tonight" e, o clássico "Let it Snow" - já que o Natal está aí á porta!
A ver se me sai um Bublé no sapatinho... :)


"So la la la la la la la ..."



> Mariana Silva






sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Um Almoço no Café...



Queres olhar para mim e dizeres-me o que sentes? Olhar para mim um dia e descarrilar todos os sentimentos abafados, todos os desejos reprimidos? Podes fazê-lo. Deves fazê-lo.
Aliás, deixa-me dizer-te que é meu sentimento abafado e desejo reprimido que tu me olhes e encontres no meu centro tudo aquilo que é para os demais invisível, pois acredito que os teus olhos têm um qualquer radar capaz de ver tudo aquilo que em mim existe.
Porque eu, eu amo-te, e sem esse descarrilamento nunca poderei saber se me amas de verdade, tu, quieto como uma coruja sábia, sempre austero e respeitador, nunca dando importância às minhas birras e provocações, e ignorando todas as investidas que tento evidenciar para te trazer a mim.
Deixa-me aconchegar-te nos meus braços de arco-íris, saborear a tua alma e polvilhá-la com as especiarias que o meu mundo comporta, enraivecer-te, contraplacar-te contra a estante desses livros desinteressantes que a tua inércia cultural mantém poeirentos mas que a tua consciência continua a comprar compulsivamente.
Revolta-te. Preciso d sentir que tens vida dentro dessa caixa de ossos ambulante, que sangras por dentro quando alguém te pisa, que sentes realmente uma vontade de possessão e que és animal por milésimos de segundo, quando almoças, no café da esquina, e enquanto o guardanapo limpa os molhos esquecidos ao acaso nos teus lábios, uma mulher se bamboleia…
Não sou mulher de alma firme ou espírito tranquilo, mas acredito que também não o sejas, que também te sintas linha torta de um equador desequilibrado, que anseies por um abraço que embale os teus medos, e que me queiras contigo...
Não estou aqui para te salvar, nem tampouco quero que me salves! Quero, antes, se assim o tiver de ser, que nos afoguemos juntos neste oceano perdido de mentiras e segredos ondeando entre os humanos…
Por isso, espero ainda entrar no café onde almoças e bambolear-me à tua frente, enquanto tu sentes uma vontade avassaladora de me possuíres e, não sabendo como lidar com ela, deixas sair em catadupa tudo o que sentes, sem abafares ou reprimires o desejo de que saiamos do café de mãos dadas, rumo a um sem fim gostosamente desconhecido…



>Mariana Silva

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O Donut de Eros

Hoje, duas pessoas me chamaram "amor": a minha mais-que-tudo e a mulher que me vendeu um donut no café da Trindade.
Isso fez-me questionar acerca do verdadeiro sentido e conotação da palavra "amor", a sua deturpação, a sua repetição, a exaustão da sua musicalidade.
A mulher do café, feia que nem um bode, dá-me o donut a correr, eu agradeço e ela diz-me, numa despedida ao nível de um dramático filme romântico: «Adeus, amor».
Cheguei a questionar-me acerca da identidade daquela mulher. Será a minha verdadeira mãe? Será que, numa noite de bebedeira que já esqueci, me envolvi com aquela mulher e ela apaixonou-se pelos meus incríveis ossos? Não saberei.
A verdade é que a mulher disse "amor" com as mesmas quatro letras com que Camões a chorou, Shakespear a dramatizou para Romeu a gritar; a mulher disse "amor" com a mesma musicalidade concreta com que Eros a criou.
Se este uso exaustivo da palavra "amor" se propaga, que significação terá quando eu a disser? (eu digo, quando eu a disser a alguém que me faz sentir feliz, e não a alguém que me compre um donut...).
Eu corro o risco de ainda ser vivo no dia em que alguém diz "amor" como forma de cumprimento.
Já ouvi dizer "amor" em troca de sexo. Mas em troca de um donut?...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Confissão



Vontade de correr, pelo mundo das horas tortas e das pressas desenfreadas, de te encontrar num canto escondido da cidade descampada, de te tocar, de te agarrar a mão quente a contrastar com o meu gelo natural, e poder sussurrar ao mundo – sussurrar sim, que eu nunca fui muito espalhafatosa – que és meu e eu sou tua, que realmente nos entregamos, a medo, nas mãos um do outro que nos completa...
Quero crescer e levar-te comigo no bolso, eu dentro do teu e tu dentro do meu, passearmos-mos, exploradores, dentro um do outro, a amarmo-nos, a conhecermo-nos, a sermos nós com medo de que outro não seja ele, a sermos outros com medo de que o outro seja realmente ele próprio.
Quero poder caminhar com a certeza de que alguém me espera no outro lado da rua, na extremidade da estrada, do lado de lá da tempestade, e que a vela que eu carrego acesa, nas minhas mãos abertas, cautelosas, não se apagará.
Quero certezas incertas e promessas parvas, quero beijos no pescoço e cócegas desses mesmos beijos, quero soluços imparáveis e choros e risos cómicos, e palermices ditas com bebedeiras.
Quero que me prometas o mundo de mãos vazias, e que eu acredite mesmo sabendo que as tuas mãos nunca o poderiam carregar.

Porque não tens tu uma vontade de correr pelo mundo de horas tortas e das pressas desenfreadas, correr para mim, sussurrar-me a mim, amar-me a mim, ser meu e eu ser tua, sermos simplesmente?
Porque não sou eu tudo e ainda mais tudo o resto que tu desejas para ti?

Queria tanto crescer dentro do teu bolso, aprender a ser o que tu desejas, aprender a ser o que tu não desejas, voar sem asas e perceber que não tirei sequer os pés do chão – simplesmente porque não é necessário. Sentar-me à tua frente, querer ter-te mas dizer simplesmente que o desejo de ser salva aumenta a cada noite solitária...

Salva? De mim mesma…

Terei horas, terei pressa? Não devia, mas tenho. Porque vivo neste mundo de horas tortas e pressas desenfreadas, e não no teu bolso, e tu no meu…


Mariana Silva

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Mendigar

Incrível esta história da chuva. Toda-poderosa, rearranja vidas e reformula horários de forma imperiosa. Obriga-nos a correr molhados pelo nosso percurso, encharcados de desculpas forçadas. Purifica-nos a alma com as suas lacrimejais gotículas, lava-nos o corpo das impurezas causadas pela falta de moral e de condição que acaba sempre por ser o rigor pontual, ou a falta dele.
Abrigo-me desta tirana realidade no toldo do teu abraço. Sinto o aquecimento do bater do teu coração, no sangue que te adoro ver a correr nas veias quentes, as labaredes que infundem do teu olhar vivo e flutuante. Refugio-me na passadeira das tuas mãos, mendigo eterno das ruas da tua circustância. Deambulo pelas passeiras que traças com os teus passos, aqueci as gélidas mãos no forno da tua alma, e deitei-me. Aninhei-me no cobertor da tua pele. Recostei-me na almofada da tua língua aconchegadora.
Reconfortei-me em ti e adormeci, ao som da chuva e do sussurar de um beijo teu.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Sem pressa para as palavras...



Ontem vi um poeta.
Podem achar estranho escrever sobre alguém que apenas vimos, e não conhecemos, mas quantas vezes também acontece conhecermos alguém sem o vermos realmente?
Pois entrei eu num café, perdida nos meus pensamentos que, ainda que muitos, ultimamente não têm andado muito profundos - falta de paciência para os desenvolver, creio eu; sentei-me numa mesa ao canto, mais aconchegada, que o frio já enregela os ossos e os problemas, tornando-os mais firmes e insuportáveis, quando deparei com um poeta ao meu lado.
Um poeta, austeramente simpático, chapéu negro, escondendo o cabelo ou a falta dele, óculos grandes, vibrantes, fixados na página, o tempo marcado nas mãos que bailavam com mestria no salão de papel, rugas vincadas nos anos das palavras. Era, deveras, um poeta.
Vê-lo ali, a viver para as folhas em sua frente, fez-me pensar na verdadeira entrega a que a vida nos obriga, ao compromisso diário que, ainda que inconscientemente, temos para connosco e para com outros que nos fazem ser nós. Vê-lo ali fez-me pensar, pretensiosamente, como estarei eu, daqui aos muitos-poucos-muitos anos que a vida me reserva: se estarei eu a viver das folhas e da tinta, se estarei eu ainda a respirar este mais-menos-mais que nao sei explicar e que é tão meu como eu sou dele...
E o poeta continuava ali, compenetrado nas suas palavras, nos seus versos, na sua escrita, e nem mesmo os burburinhos de café, os arrufos dos empregados, as bandejas que passavam, furtivas, de um lado para o outro, a correria da vida a acontecer... Nem mesmo tudo isso alheio a ele o fazia distrair-se, quanto mais alhear-se!, de si mesmo, das suas palavras, dos seus versos, da sua escrita...

Ontem vi um poeta.
Os que me conhecem pessoalmente poderão estranhar este texto dedicado a 'um poeta' que nunca saberá, sei lá eu!, que este texto foi escrito; ainda mais estranharão se considerarem que estou rodeada de 'poetas', de 'amigos poetas', de 'colegas poetas'.
Mas este era um 'estranho poeta', que após considerar terminada a sua tarefa, se levantou, arrumando os papeizinhos numa capa a transportar debaixo do braço, pagou o seu cafézinho e saiu, a passo lento de quem vive extasiadamente sem pressa para as palavras.
Porque este poeta que eu vi, era, antes de poeta, mestre do tempo, das horas mortas e das agonias desmaiadas, cujos ponteiros paravam sempre à mesma hora, naquele café, para que voasse de si a vida, para o ninho de papel...

Foi ontem, hoje? quando?, que eu vi um poeta...



Mariana Silva

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Devaneando... porque é tudo mais um sonho...

Fala-se de sonhos como se nascessemos já com os bolsos recheados deles, como se brotassem em nós abrindo caminho, meio a medo, sem medo, corajosos. E assim o é, de facto.
Abrimos os olhos às circunstâncias, aterrando na vida como se de uma cama fofa se tratasse, ensaiando as sestas para dormir depois o grande sono.
E é sempre tudo mais um outro sonho, bom ou mau, mais uma outra miragem, mais um sorriso, um olhar furtivo, uma palavra simpática, um beijo suave, um sim, um não, um grito, uma gargalhada, um pôr de sol, uma nuvem, um par de mãos dadas, um acordar feliz, uma poça de água, um bom chocolate, a maresia envolvente, um gelado dividido, um amor partilhado, uma chapada em face alheia, um elogio, uma discussão feroz, uma coca-cola, um toque, um livro, uma crítica arrojada, uma lágrima, um bolo de aniversário, um momento, muitos momentos, uma vida, muitas vidas...
E vamos acordando, durante a jornada, batendo com a cabeça na parede ao virarmo-nos para o outro lado, cansados já de dormir para o lado em questão, voltando a virar-nos de seguida, caindo da cama, levantando-nos carrancudos, enterrando a cabeça na almofada fofa...
E vamos crescendo: aprendemos a não errar ou, pior, a como errar de novo; aprendemos a sermos nós ou a sermos outro que escolhamos; aprendemos que o mundo fez as pessoas, assim como foi e é feito por elas, a cada minuto, a cada vida que nasce, a cada vida que parte.. A cada sonho «que brota, a cada pesadelo que se entranha, a cada gesto salvador, a cada condenação de vidas alheias ou da própria.

É tudo uma questão de tempo, de circunstâncias, não tendo o 'sim' e o 'nunca' qualquer valor senão o efémero que lhe damos; é tudo uma questão de percebermos que para dependermos dos outros também alguém terá de depender de nós; é tudo uma questão de percebermos que além de sermos alguém no mundo, temos de viver como se o fossemos de facto, ajudando, sendo ajudado, fazendo progredir, progredindo, plantar para também crescer.


Porque é tudo mais um sonho...


Mariana Silva

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Pré-Paizão

Toda a gente tem um momento decisivo na vida, aquele ponto de viragem dos rotineiros principios existenciais que pululam nomadamente durante as nossas semanas e voltam teimosamente na segunda feira. Eu tive esse momento no dia em que, como que se estivesse escrito nas estrelas, me perdi de amores por uma rapariga amorosa, que desde então me tem preenchido a vida de tal maneira que quase me esqueço que tenho realmente uma vida própria. Esqueço-me porque não necessito de vida própria quando tenho uma vida com ela...
Mas a verdade é que me aguarda - e eu aguardo por ele - um ponto verdadeiramente decisivo no meu percurso: o nascimento do meu primeiro filho.
Eu imagino-me pai. Mas mais que pai imagino-me "pré-pai", um pai "Pré-Natal", que quando o filho ainda for uma sementinha já tem uma bola de futebol para estrear em casa, um guizo que pela altura em que o bebé nascer já nãoo funciona, um baby-grow que já se sabe que não vai servir - um baby-grow que vai decidir o sexo do meu filho, já que, com o azar que não me falha, se comprar cor-de-rosa será menino e os amigos bebés vão-lhe bater no infantário; se comprar azul será menina e jogará futuramente futebol com os meninos.
Imagino-me a acordar às quatro da manhã, com o toque da minha mulher, a apetecer-lhe um chocolate Ferrero em pleno Verão. E vou eu de carro até ao Leste, onde o tempo é frio e o Ferrero não sai do mercado. E sei que vou voltar a casa e a minha mulher não vai comer o chocolate todo, vai deixar metade e vai-lhe apetecer abacate.
Imagino-me a escolher um nome para o filho, de "O Grande Livro dos Nomes" na mão, sublinhando uns, rindo-me doutros, vomitando alguns.
Imagino-me na sala de espera do Hospital - com o azar que eu tenho, será cesariana e eu não poderei assistir - fumando todos os cigarros que tenho evitado ao longo da vida, perdendo uma semana e meia de existência só naquele tempo que estou à espera de notícias. E a parteira vir-me dizer "Já nasceu, é um rapagão!" ou "Já nasceu, é uma linda menina!" e "Estão ambos bem!". E eu corro para o quarto onde repousa o meu rebento, pequenino, frágil, vermelhíssimo, feio como qualquer outro, mas tão especial. "Tem os olhos da mãe", dirão. "Como é que sabem se ainda não os abriu?", responderei. "Herdará o nariz do pai?", perguntarão. "Espero que não", responderei. "E o corpo, será do pai?", insistirão. "Virem essa boca para lá!", implorarei.
Farei planos para ele. "Será um craque a jogar futebol, uma mistura explosiva da impulsão de Cristiano Ronaldo e a técnica de Deco. Será óptimo aluno, empenhado, inteligente e muito educado. Será lindo e terá resmas de raparigas atrás dele, esperemos só que não engravide nenhuma, nem idade tenho para ser filho, quanto mais para ser avô... Conquistará milhares de amigos e simpatizantes pela sua simpatia, bondade, sorriso encantador e íncrivel capacidade que herda do pai de conseguir fazer barulhos com o pulso". Tudo bem que a ordem das prioridades não é exactamente esta, mas que o meu filho será isto tudo e muito mais tenho eu a certeza. Bem, se jogará muito bem à bola, isso tenho que acreditar nas palavras do meu avô que afirma que no seu tempo era um virtuoso da bola e rezar para que os genes desporivos o meu filho os herde dele.
Até lá, aproveito para dormir. E quanto vou sonhar com estes momentos de repouso quando acordar a meio da noite, não com o desejo de abacate da minha mulher, mas com o desejo de algo lactícinio do meu insuportável filho.

Diogo Hoffbauer

sábado, 10 de novembro de 2007

outro textinho para vos deprimir...!

Olho pelo canto do olho, a ver se uma qualquer faisca surge, já entoncedida de tão planeada, desejada, esperada.. Mas não, não vês, não ouves, e pior de tudo, não sentes. O meu tudo, que deposito em tuas mãos, neste momento, é nada, é pó baço de areias longínquas, é vento silencioso de um interior revoltado, e todas as certezas incertas não são nada nesta certeza de ser...
Dá-me vontade de te abanar, de fazer com que sejas mais do que és agora, de fazer-te explodir para me dizeres tudo, tudo isso que o teu olhar não mais diz, baço, perdido, como as areias do deserto que me roubaste...
E tu foges, continuamente, nessa fuga doida de menino perdido, de amante solitário, e eu fico a pensar se és realmente aquele por quem me apaixonei, aquele que aqueceu as noites perdidas do calendário moribundo, aquele que trouxe o mundo nos bolsos e que me deu diamantes em bruto para talharmos os dois, à nossa maneira, ao nosso sabor.. Fico a pensar se serei eu a sombra pesada que te assombra, que assombra o nós que eu queria talhar, qual diamante precioso.. E tu não vês, não ouves e pior, não sentes..
E tudo sempre o mesmo, sempre esta espiral tonta que me entontece, e és sempre tu esse que tal, és sempre tu a sombra de mim, da minha sombra, e tudo gira em torno do nada que é o meu chão...

Vê, ouve, sente.. estou aqui..
E a noite é tão fria...




Mariana Silva

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

poema melancólico, porque também é preciso!



O que dirias,
ao ver as lágrimas que tombam queimando o asfalto, volvendo a terra fria...

O que dirias,
ao tocares a face dos meus medos,
ao sentires-me pulsar em ti,
ao perceberes que os carris prosseguem para o infinito lado a lado...

O que dirias,
entendendo o desespero, o medo,
a pouca vida a tentar sobreviver,
os beijos a ganharem força
para voar em direcção a ti...

O que dirias, diz-me, o que dirias,
se soubesses que te escrevo nas frias noites deste verão eterno,
e que as paredes se encolhem
e me embebedam,
me enlouquecem!

O que dirias se visses o todo de mim que se esconde dos espelhos,
se enfrentasses o monstro de mim que assombra castelos,
se conhecesses o pedaço de mim que anseia plantar estrelas
no céu vazio da escuridão
destas frias noites deste verão eterno...

O que dirias, diz-me, o que dirias,
se soubesses, se sentisses,
que és tu quem pulsa tudo o que resta,
que conquistaste o teu espaço,
que plantaste a tua vida,
o que dirias?

E o que diria eu se tu dissesses finalmente?

Serias ainda tu...?



>Mariana Silva<

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Antigamente...

Hoje lembrei-me de como era ser 'eu' há uns anos atrás. Olhei para mim e vi-me, antigamente, tanto quanto é possivel ser antigo na minha idade.

Lembro-me das preocupaçoes com a hora dos desenhos animados, do Dragon Ball ou da Sailormoon, irritando toda a gente cá de casa, com as minhas urgências infantis. Lembro-me de como não enfiava uma única colher de sopa à boca, como a minha mãe me perseguia paciente, pois era desumano deixar-me sem comer, e muito mais humano era esperar que eu desse uma volta de triciclo entre cada colherada!
Lembro-me do primeiro cd que me ofereceram, pois a minha música era sempre ouvida em cassetes, esse bicho extinto do qual apenas vemos fósseis hoje em dia, e de esse mesmo cd ser o primeiro cd da menina que originou um dos meus primeiros posts, Miss Bitchney Spears.
Lembro-me da primeira peça de teatro em que participei, nervosa, com um fato de joaninha simpática, no qual tinha apenas uma fala, em inglês, dizendo: 'I can't help you, I'm a Ladybug' da forma mais convinente que conseguia, visto estar a falar para um coelho que era mais pequeno do que eu...
As roupas coloridas e desconexadas dos anos 90, que ainda vivem nas fotos e das quais os meus 'filhos' (?) provavelmente se irão rir um dia, se já eu o faço. As dezenas de Barbies, com os seus milhares de acessórios, as suas casas e casotas, carros e carruagens de princesa, os seus maridos, amantes, filhos e animais de estimação... Os filmes da Disney, essa minha colecção escrupulosamente guardada num armário exclusivo, onde moravam os maiores clássicos dos desenhos animados. As histórias que o meu pai contava, a ver se eu adormecia, e eu a corrigi-lo, pobre pai!, a ensinar-lhe a história que eu queria ouvir..E ele, já derrotado, acabava por adormecer primeiro do que eu, entre as cotoveladas e evidentes 'Paaai!' que o atordoavam.
Lembro-me disto e de tanto mais, que um post não chega para dizer de tudo o que me lembro do antigo 'eu'. Mas sérá ele mesmo antigo? Ou serei eu, seremos nós, uma constante lagarta em metamorfose?
Borboleta? Ok, não me importo, se bem que sou mais a favor de joaninhas.. :)
No entanto sei, bem lá no fundo, que nunca abandonarei o casulo...


Mariana Silva

Jesualdo, tira a camisola!

Hoje no jogo do Porto, além de me ter exaltado com os dois golaços com pronúncias árabe e espanhola, e de ter gelado com aquele que soou a francês, reparei num pormenor bastante interessante que é a reacção das pessoas ao facto de que estão a ser filmadas.
Há vários tipos de pessoas neste campo. Em primeiro lugar, queria destacar precisamente aquelas que não dão conta de que têm objectivas a focá-las. Continuam a fumar, a falar, a coçarem-se. E neste caso queria fazer uma observação: cuidado! Eu reparei que nem sempre estou com atenção, quando vou ao Dragão, ao ecrã gigante, onde aparecem as pessoas que são filmadas. Eu sei que me sento sempre na bancada superior, que as câmaras não focam, mas supunhamos que acontece que alguma camera-woman, encantada comigo e com os meus ossos salientes, me foca. Eu tenho portanto que estar atento a essa possibilidade, não vá eu ser apanhado a fazer algo que não será propriamente para ser visto por milhões de pessoas. Não que eu o costume fazer, não costume, mas suponhamos que me apetecia, por acaso, nesse momento. É sempre algo chato.
A ida ao estádio é, portanto, um Big Brother em ponto grande. É um Gigantic Brother. Com a única diferença de que não há expulsões. Quer dizer, há. Mas só para os vinte e dois macacos lá em baixo. E também não há prémio no fim do jogo. Quer dizer, há. Mas só para os vinte e dois macacos lá em baixo. Para os restantes milhares, é a gastar nos bilhetes. Ou no meu caso, ir enfardar-me no McDonalds para ganhar bilhetes e ir à bola com o meu amigo Fábio.
O segundo tipo de pessoas que são filmadas são aquelas que cumprimentam a câmara. São pessoas bem formadas, bem educadas, polite people. Normalmente são mulheres que o fazem, curiosamente. Ou são mulheres bonitas acompanhadas de uma amiga feia que agarram a feia pelos cabelos e obrigam-na a mostrar o reluzente aparelho para todo o mundo com um alegre "olá"; ou é uma mulher feia acompanhada do marido que está ali para ver a bola e já não lhe bastava a maçada de ter uma esposa feia como também é obrigado por ela a mostrar ao mundo que não tem dentes.
Depois há uma terceira categoria: aqueles que levam cartazes e nem sequer estão a ver o jogo. Estão sempre a olhar para o ecrã à espera de aparecerem para poderem elevar o ser cartaz. Mas quando o vão a fazer, já a câmara baixou e eles já perderam a oportunidade. Talvez devessem tentar ir ao wrestling, aí é que elevam cartazes até não se sentir os braços. Contudo, há alguns cartazes que se conseguem vislumbrar: há aqueles que são do género "fulano de tal, dá-me a tua camisola", que me fazem duvidar da masculinidade daqueles que vão ao futebol. Vão para ver a bola ou vão para ver os jogadores? É que, de facto, a rapaziada quer é ver os suadíssimos vinte e dois macacos lá de baixo de tronco nu. Inclusivamente, houve uma que me intrigou: "Raúl Meireles, dá-me a tua camisola!". Meireles? Aquele magricelas? Era a mesma coisa que me dizerem: "Diogo, faz um strip!".
Resumindo: sempre que forem à bola, tenham um olho na bola, outro no ecrã e se precisarem de mais olhos para micar o pacote de pipocas, arranjem-se. Não podem é deixar o ecrã descompensado.

Diogo Hoffbauer

domingo, 4 de novembro de 2007

A primeira viagem rumo a ti

Já me chamaram "grande maluco". Já me chamaram "looool". Já me chamaram "demais". Já me chamaram "altamente". Já me chamaram "idiota". Tudo devido aos textos que supostamente contêm um humor que põe a gente doida. Desde já agradeço os "elogios". Mas eu também sei escrever textos sem uma pinga de humor. E provo-o hoje, com um poema da minha autoria para a rapariga da minha vida e dedicado ao nosso primeiro contacto... Ela sabe quem é, vocês não têm de saber.



Abraço o teu cheiro de uma envolvente melodia de aromas doces. Deixo-me levar, triunfante, confiante, pela corrente dos teus lábios de um tumultuoso mar de palavras imortalmente amorosas. Fito o cheio brilho dos teus olhos de maresia aberta.
Estendem-me uma passadeira à minha chegada à costa. Uma passadeira vermelha de ser desejada, receptiva, louca da espera. Piso-a devagar, saboreando o meu andar, avanço em direcção ao desconhecido. Sem pressas, sem receio mas também com algum nervosismo, tal foi o tempo que durou a viagem. Foi viagem suada, desventurada, duradoura, simultaneamente sofrida e feliz.
Recebe-me o vento do suspirar das tuas palavras e a chuva das lágrimas já derramadas. Escorrego no tempo que já lá vai, corro em direcção ao tempo que vem. De mãos dadas contigo, por uma praia inexplorada nas quais as primeiras pegadas são dadas pelos nossos lábios apaixonados.
Mergulhamos no mar, refrescados do sol que chateia. Beija-mo-nos encharcados de sal e vontade, corremos em risos acompanhados pela música do sussurrar das bocas.
Senti-mo-nos a tremer num terramoto em que o epicentro está nos nossos lábios.
Deixa-mo-nos levar por um buraco negro tão alegre, tão esperado, tão feliz.
Afastam-se os lábios. Fito os teus olhos brilhantes, verdes de jardim estival.
De mãos dadas contigo, ainda sinto o sabor da chiclete que mascas.
Amo-te com as mãos, com a boca, com os olhos, com o coração. Pronto para mais uma viagem.

Diogo Hoffbauer

sábado, 3 de novembro de 2007

O Novo Look da Batata

Como devem ter reparado, desde há uns dias que a Batata tem um novo look. Peço mais uma vez desculpas à Batata pela ausência de um post em sua honra e do esforço que ela fez para ficar mais bonita e aprazível aos leitores, mas a falta de tempo, inspiração, paciência (ou o que lhe quiserem chamar) dominou-me e não deixou executar essa minha obrigação moral.
Mas olhem então bem para a Nova Batatinha que se apresenta, ela que dê uma voltinha para vocês poderem apreciar os pormenores e graciosos detalhes da sua constituição. Sim, porque digam o que disserem, o visual, o look, é tudo nos dias de hoje, e ainda que em termos de interior a Batata estivesse e esteja em alta (!!!), o seu exterior pode e deve ser sempre melhorado. Porque a Batata é vaidosa, porque a Batata merece!
Aproveito desde já para agradecer ao 'Consultor de Imagem' Afonso Reis Cabral, que desde sempre apoiou esta Batata em crescimento, e que agora lhe deu o seu toquezinho de bom gosto, renovando-lhe o look. Sim porque de blogs percebe o ARC, e ele sabe o quão dificil é um blog impôr-se no seu meio, criar raízes, arranjar leitores fidedignos. E é sempre bom para um blog sentir-se cortejado por outros blogs, fazer amigos cibernéticos, arranjar uma vida social.
Por isso, parabéns à Batata pela sua imagem, e nem sequer precisou de ir ao Doutor Preciso de Ajuda para lhe fazerem todas as plásticas e mais algumas.
O que imperou foi a boa vontade e o companheirismo. E o resultado está à vista: a Batata é já o nosso 'spot' de devaneios, tem uma imagem cativante para que outros devaneiem connosco e já travou amizade com o 'Janelar'...

Diria eu que neste mundo de quinze minutos de bom comportamento e brilho, a Batata vai já bem lançada na sua existência de quase duas semanas de devaneios.
Até já a Batata Casada a quer cortejar, esquecida das Barbies plásticas que outrora a assediavam... :)


Mariana Silva

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Nacionalidades

Voltei.
Eu sei que a minha demorada ausência provocou muitos desgostos em milhares de leitores assíduos, e desde já as minhas desculpas. Mas é que realmente não me tem apetecido, e quando há falta de vontade em questões de escrita são raras as vezes em que isto resulta em esterco literário. Para isso, não vale realmente a pena. Para escrever o meu querido e característico esterco literário, faço-o com vontade.
Ora bem, eu hoje vou-vos falar da Rússia. Ambas as batatas têm uma colega russa, chama-se Olena ou Ilhena ou Helena ou Alona, nunca vou saber ao certo, mas também não interessa. Ora esta colega foi quem me contou de uma lei incrível em vigor na Ucrânia, um dos cerca de três milhões países visinhos da Rússia, que decreta o seguinte: se uma pessoa estiver ausente do país mais que 7 anos perde a nacionalidade ucraniana; se algum cidadão estrangeiro estiver a viver na Ucrânia mais que 7 anos, tem de ser só ucraniano. Eu acho que esta lei leva ao extremo o sentido patriótico: eu por exemplo já fui tanto ao Algarve que já era inglês por agora. Alguém ucranino vai às compras no país vizinho, atrasa-se no trânsito, quando chega a casa já é russo. Alguém que vá passar férias a Angola, volta para a Ucrânia e já é preto. Algém vai visitar um familiar à África do Sul e já volta pedófilo. Alguém vem a Portugal e já volta de bigode.
Mas a verdade é que esta lei teria feito o maior sucesso no nosso país. Reparem que se esta espatafúrdia lei estivesse em vigor aqui no nosso Portugal, os McCann por esta altura já eram mais portugueses que o Camões, dado que estiveram cá - curiosamente - até o calor se despedir. Ora isto queria dizer que estariam sobre as nossas leis, e como tal não seriam protegidos pelo governo inglês, porque é certo e sabido que os ingleses não protegem ninguém que não tenha nascido em terras de Sua Majestade. Teria sido de facto mais eficaz.
Acabei por me desviar do tema "Rússia",espero que me desculpem.
Para acabar, uma frase sobre a Rússia:

A Rússia é grande.

Diogo Hoffbauer

domingo, 28 de outubro de 2007

Devaneio Musical

Como boa Batata que sou, ou pelo menos tento ser, tenho os meus devaneios acerca das mais pequenas coisas, pois são as mais minúsculas que interferem nas nossas vivências... Por isso, venho confessar-me adepta de ouvir música, muita música, e quem me conhece sabe que o MP3, a moda da nova geração, não me sai do bolso ou dos ouvidos. Por isso hoje revolvi falar-vos de música, sem querer parecer que vos impinjo os meus 'pobres' gostos musicais, no sentido em que são só meus e que essa 'pobre' exclusividade me deixa feliz :).
Para muitos, a música serve de escapatória da realidade, das banalidades rotineiras, no sentido em que nos tele-transporta para um novo mundo sonhado, cenário da vivência musical que então ouvimos. Para outros, a música é ritmo, é movimento, é vibração de um outro pulso dentro do nosso, que faz correr o sangue com uma nova energia... E há ainda aqueles que sentem a música como perfeito equilibrio de tudo o que existe, desde o ritmo á mensagem, ao sentimento, á vida.
Eiiii que exagero, Batata! Pois, até pode ser, mas a verdade é que eu não conheço ninguém que não ouça nenhum tipo de música e que não tenha uma única vez arriscado trautear uma qualquer cantiguinha, quiçá para mal de muitos ouvintes... :)

Por isso, acho que todos concordamos ao dizer que a música faz parte de nós.

Agora deixo-vos com uma pequena parte de mim (Sim, esta treta toda foi só pa ter uma desculpa pa pôr aqui uma musiquinha...!), uma música revelação de uma menina-british de apenas vinte aninhos, que se dá pelo nome de Kate Nash e cujo primeiro album, 'Made of Bricks' se revelou um pequeno grande achado. A sua música, politicamente incorrecta, com letras despreocupadamente sinceras e nada pretensiosas, revela ritmos frescos nas tabelas mundiais. Comparada a Lilly Allen (que sinceramente muito lhe fica atrás...), esta jovem já começou a angariar fãs e , espero, ainda dará muito que falar - e que ouvir...






Mariana Silva

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Gata em telhado de vidro?

Li hoje, na revista Selecções do Reader's Digest (até parece culto, vá lá...)do próximo mês, uma entrevista aos quatro membros dos Gato Fedorento, o grupo que foi buscar o nome a uma música intitulada 'Smelly Cat', cantada desafinadamente pela personagem pseudo-cantora Phoebe Buffay, da mítica série norte-americana 'FRIENDS'. Foi também este o grupo que conseguiu a proeza de começar a escrever textos humorísticos para Herman Jósé, para depois o ultrapassar em audiências e popularidade. E também o grupo que se iniciou num canal da tv cabo, com orçamento mais baixo do que o meu para almoçar diariamente, e que encabeça agora o horário nobre da estação pública, arrancando audiências aos domingos à noite.
Mas nãos se iludam: eles não agradam a toda a gente. Muitas são as pessoas que não apreciam o seu humor 'inteligente' , alegando que patetices não são humor, e muito menos uma crítica social. No entanto, há fãs assumidos que veneram as suas 'patetices', o seu programa de tv, também ele pateta, os seus patetas anúncios à PT comunicações que, desconfio, fizeram com que a PT perdesse clientes por falta de credibilidade...!
Mas eu não venho aqui em defesa dos Gatos, porque penso que gostar ou não deles é como assumir uma orientação sexual: inegável e imutável. Quero antes salientar um ponto interessante do seu sucesso: Ricardo Araújo Pereira, Zé Diogo Quintela, Tiago Dores e Miguel Góis iniciaram a sua 'carreira humorística' (que conta já com quatro anos) com um BLOG.



Como a bela entrevista ressalta, eles consideram-se apenas "uns gajos que são amigos, normais, juntam-se numa casa, jogam e depois inventam umas merdas" - e antes de mais, que fique bem esclarecido que a utilização da palavra começada por M não é uma constante do grupo (pelo menos não nos seus skecthes...). Ora eu acho isto fantástico! Quem me dera a mim poder ter, com quatro anos de 'carreira', o reconhecimento, e não esqueçamos o pilim, que estes felinos possuem!
Ora o primeiro passo está dado: o BLOG, O DEVANEIO DA BATATA!
A porca torce o rabo no seguinte: seguindo à risca a autodefinição do grupo, a fama está fora de questão para a minha pessoa. Primeiro porque não sou um 'gajo' como eles. Segundo, porque não me considero no topo da normalidade. E terceiro porque não é meu hábito 'jogar' seja ao que for. Assim sendo, existem apenas dois únicos pontos em comum entre a minha pessoa e os Gatos (o que se revela uma minoria desencorajante): junto-me por vezes com os meus amigos numa casa - de preferência não a minha...! - e inventamos umas... hmmmm...! (O que me leva a confidenciar-vos que foi precisamente no espírito pateta de uma conversa online com um grande amigo que surgiu o convite e a ideia para este blog...)

Ora falta afirmar uma coisa, pequeninaaa diferença, que penso que não terá sequer passado pela cabeça de nenhum dos leitores (!!) : eu não consigo, pelas falhas acima assinaladas, vamos crer que sim!, ter a piada ou a patetice, como lhe quiserem chamar, destes moçoilos.

No entanto, e que fique aqui bem claro, ainda não desisti, nem pretendo.
Na segunda feira têm-m à perna na escola, a apregoar desalmadamente pelos corredores: "OlhÓ KUNAMI FRESQUINHOO! " a ver se esta coisa se inverte e se consigo a faculdade paga...


Mariana Silva

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

fala youtube...!

> Coisas que se fazem em busca de fama?
> Coisas que se fazem para passar um bom bocado (!!!) ?
> Coisas que se fazem na inocência de não se saber para quem/onde se fazem?

Este vídeo fez sucesso no Brasil e também no restante planeta, incluindo o nosso Portugal... Muitas foram as pessoas que já viram a famosa (?) Sónia a tentar dizer 'www.youtube.com.br'
Será que ela conseguiu??! Ou será que é exactamente por não ter conseguido que este vídeo é um sucesso?

Assistam também e comentem a celebridade do vídeo youtubiano (bem como a fraqueza humana de nos rirmos do nosso - por vezes tao diferente - semelhante)...

>Mariana Silva



quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Bom dia! Então o nosso Porto...

Profissão ingrata a de distribuidor de jornais no metro.
Até ver a sua cara de sono logo de manhã, enquanto tenta ser sorridente com um "Bom dia" disfarçadamente alegre, acho que tenho umas olheiras até aos pés. Depois de ver as dele, sobe-me o ego e começo a andar a olhar para a frente.
Sinto pena deste pobre coitado. Qual ardina do novo século, tenta acompanhar a rotineira pressa muitas vezes injustificada de centenas de pessoas que por lá passam, com rápidos movimentos de pulso e a metralhar "Bom Dia" em esforço.
De boné enterrado na cabeça, de um cor de laranja berrante, para chamar a atenção de algo que por si só já chama, que é alguém louco por cumprimentar educadamente as pessoas e tentar fazê-las vítimas do jornalismo gratuito só para ganhar umas coroas.
Aceito educadamente o "Metro" que ele me estende. Sopra o habitual "Bom dia" das quotidianas manhãs, com um olho em mim e outro já na mulher gorda que tenta desesperadamente correr para apanhar o transporte, mas que vai ser interceptada não tarda nada por este predador atento que é o homem dos jornais.
Às vezes penso seriamente em ficar na conversa com ele, fazer-lhe a companhia que ele merece, mandando assim ambos à fava os nossos deveres, os meus estudantis, os dele já mais profissionais, mas ainda assim prefeitamente dignos de serem de quando em vez abandonados. Poderíamos falar de qualquer coisa, porque o homem que distribui os jornais gratuitos deverá ficar com algum para ele para ler quando tiver tempo, mantendo-se assim informado das incidências internacionais.
Ele tem ar de quem gosta de futebol, será certamente portista: poderíamos discutir tácticas, opções técnicas, resultados, futebolistas em ascensão, treinadores que se deviam dedicar à pesca, foras-de-jogo mal assinalados e penalties por assinalar. Poderíamos especular em conjunto acerca do que terá acontecido à menina inglesa, eu a culpar os pais, ele a criticar a atitude redentora do governo português face à superioridade do inglês. Podiamos discutir política, alterar reformas especulativas, chamar nomes aos ministros, questionar palavras, criticar gestos, aplaudir atitudes. Podiamos falar de televisão, calar a Júlia Pinheiro com a fita-cola da opinião pública, enxovalhar novelas, comentar séries. Podiamos falar de tudo e mais alguma coisa.
Mas não falamos.
Ele estende-me o jornal, diz "Bom dia", coça a orelha com uma mão e com a outra já está a interceptar outro apressado peão.
Eu aceito,agradeço, leio a primeira página, valido, vejo as horas e penso na rapariga que me preenche os dias.

Diogo Hoffbauer

A disFUNÇÃO PÚBLICA

Riscadas. Sujas. Inabitáveis.
A empregada da limpeza foi chamada, pois achou-se por bem alertá-la de que não tinha sido a turma em questão a sujar a sala previamente imunda.
A empregada veio, sorridente, e desatou a lançar postas de pescada, do alto da sua baixa estatura e pose, como quem possui a razão do mundo na barriga anafada de comum mortal. «Ai filha, isso agora eu quando me der vontade limpo, talvez lá para o Natal...». As bocas abriram-se num unissono silencioso de espanto e incapacidade de raciocinio. Natal??? «Sim, sim, ou até para a Páscoa... O Patrão paga o mesmo, não é doutora?» - esbracejava a funcionária, espalhando um riso bêbedo nas bochechas carrancudas, cotucando a professora, também ela incrédula, como os restantes alunos, sem saber como reagir.

O pior de tudo, e dirão vocês que não é de surpreender, é que o dito «Patrão» é o nosso querido (ini)amigo Estado Português, que por não saber ou fingir que não sabe - estas politiquices são uma encruzilhada... - continua a permitir que os seus funcionários, funcionários públicos, prestem uma não-prestação de serviços, mantendo-lhes a fama de «Parasitas do Sistema».
E são-no de facto, organizando-se na sua desorganização, cada um por si. É vê-los nas Finanças a dormitar rabugentos, matando os cidadãos com o interminavel tempo de espera pior que os intervalos da TVI, e despachando-os assim que atingem o balcão, como encomendas para Timbuktu... Ou é vê-los também no Centro de Saúde, a fazer malha ou tricô, ou a ler jornais desportivos como se de uma Bíblia se tratasse, por detrás do balcão de Atendimento, balbuciando respostas que ninguém entende, e comentando a vida de outros que nem eles próprios entendem...

O problema maior é que toda esta benevolência e privilégio seria como manteiga em biju quente para todos os outros trabalhadores do sector privado. E agora dizem vocês: isso nunca aconteceria! Pois esperemos bem que não...
Havia de ser bonito, uma pessoa na fila do Continente e a menina da caixa, lima na mão direita a limar a esquerda, frasquinho de verniz aberto na pontinha do balcão, chiclet a rebolar entre os dentinhos, balbuciando um «registo quando me der vontade», deixando incrédulos todos os clientes da gigantesca fila já formada. E entao aí, mais uma vez sem nada fazer para o contrariar, uma qualquer voz acabaria por concluir, abanando a cabeça, num tique já centenário para qualquer país como o nosso Portugal, com alma grande e braços curtos: onde este país chegou!



Mariana Silva

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Esquecimento

http://www.janelar.blogspot.com/ - o blog do Afonso, actualmente já com um ano, e que tem feito grande sucesso, parece que até no Brasil! ;)

Afonso

Achei por bem fazer hoje uma referência especial a Afonso Reis Cabral, colega de turma das duas batatas que postam neste espaço.
Eu sempre aperciei bastante o Afonso - não ao nível físico, isso está reservado para os elementos do sexo feminino que já o consideram como tendo "o rabo mais jeitoso da turma" - pela sua erudição, interesse e conhecimento cultural, inteligência, atitude e genuinidade de carácter.
Porque o Afonso tem um perfil muito peculiar, principalmente vendo o Bilhete de Identidade: 17 anos feitos este ano, camisa, sapato, sempre de livro numa mão, DN ou "Público" na outra. Este Afonso que quer esquemas nas aulas, de mentalidade cívica e política mais que formada e que acorda às 6 da manhã para ler e se actulizar na blogosfera é o mesmo Afonso que se trancou na sala no 10º ano e quase teve uma participação disciplinar, é o mesmo Afonso que se sabe movimentar com duas cadeiras, uma com o rabo e outra com os pés, é o mesmo Afonso que se deixa cair ao chão e se segura com as mãos quando o nariz está quase a esbarrar com o solo, é o mesmo Afonso que, atordoado por 20 voltas à volta de um pau, embate contra um portão de ferro, é o mesmo Afonso que - com ameaça prévia, diga-se - apalpou uma colega em Educação Física.
Atenção! Não quero com estas últimas constatações denegrir a sua imagem! Pelo contrário: este contraste ainda faz do Afonso uma pessoa mais interessante.
Tem sempre uma opinião formada acerca de tudo e não cede um mílimetro nas suas crenças, naquele que é provavelmente o seu principal defeito: a temosia levada ao extremo. Mas esta teimosia é por si uma faca de dois gumes: um defeito pela mente demasiado fechada - e a partir de mentes fechadas nada se criou - uma virtude pela atitude de crença e príncipios.
Desde já um grande obrigado ao Afonso pelo grande favor que nos está a fazer, ao apoiar-nos na fase inicial deste blog recém-nascido, com conselhos, suporte publicitário e moral.

Obrigado, Afonso! Aposto que no futuro tu deixarás de ser conhecido pelo trisneto do Eça para o Eça passar a ser conhecido como o trisavô de Afonso Reis Cabral, o jovem poeta que aos 15 anos já tinha um livro publicado!

Abraço!

Diogo Hoffbauer

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O fenómeno 'Bitchney'




Ela voltou.

Voltou e, dizem, voltou em força. Solta um nada sensual 'gimme more', quiçá esperançosa de que seja esse o nosso pedido, enquanto se balança num poste rançoso de stripper malfadada, exibindo o que não tem de bom e tudo o que tem de mau.
Sim é ela, a Brit, a Britney Spears, ou como ela faz questão de dizer no inicio da sua 'canção' (???) "It's Britney, bitch!".
Nao sei o que passará na cabeça da moçoila. Não me cabe a mim comentar a vida que ela tem levado, mas posso simplesmente dizer que 'aquilo' não é vida. Não sei quem a anda a aconselhar, mas 'Bitchney' , se quiseres, pelo terço do que lhe(s) pagas, eu estou aqui por ti! - e se eu não fosse demasiado nova para ter entrado no mercado de trabalho há uns anitos trás, quem sabe se ainda agora não estarias com o Justin?!


Desde que resolveu ser 'bad girl' e deixar para trás a figura de menina mimada com que iniciou a carreira, Britney até já beijou Madonna numa actuação dos prémios MTV.
Trata-se simplesmente de saber fazer opções, e a rapariga está claramente perdida. Um mau casamento toda a gente pode fazer, mas ela bateu o record e além de ter conseguido anular o primeiro, que ocorreu em Las Vegas e teve a relampaga duração de dois dias, voltou a casar com um bailarino que lhe roeu a fortuna até ao tutano e ainda por cima põe videos da pobrezinha em tristes figuras íntimas no Youtube. Pois bem, dessa segunda sagrada união nasceram duas pobres crianças, que viram a mãe deixá-las cair ao chão, rapar o cabelo, entrar e sair de clinicas de reabilitação e, mais recentemente, viram-na ir-se embora já que o 'papá' ganhou a sua custódia - caso para dizer, venha o diabo e escolha!

No meio desta vida atribulada - que eu não almejo sequer comentar... - a Britney, que apesar destas andanças todas conta apenas com vinte e cinco aninhos, pensou (pensou?) que era altura de voltar ás luzes da ribalta abandonada há dois anos, quando decidiu formar a sua família feliz. A abertura dos prémios MTV VMA ficou a seu cargo, e o fiasco da noite também. Dizem que até lacrimejou, a rapariga, quando todas as páginas de jornais a aclamavam como pior actuação de sempre numa cerimónia MTV. Mas certo é que o seu single já está a tocar por aí, o seu videoclip ja passa na MTV e afins, e o seu novo CD, intitulado 'Blackout' está para chegar - esperemos que não aos tops... Jay Leno já brincou, afirmando que o título do album (=falha de memória) remete para o facto de Britney não se lembrar sequer de o ter gravado!
A princesa do Pop não deixa ninguém indiferente: no fundo, a rapariga até se quer mostrar letrada, e de há uns anos para cá está simplesmente a seguir a filosofia de Oscar Wilde: nao importa se falam bem ou mal, mas falem de mim.

Acho que já podes parar com as insinuações, 'Bitchney', ja todos percebemos o teu apelo...



Mariana Silva



O aparelho dos morangos

Hoje tive a infeliz disponibilidade para ver os novos "Morangos com Açúcar".
Estão cada vez mais amargos.
A primeira sensação que dá é que realmente os actor são absolutamente aberrantes, assassinam a arte da representação como eu assassino a língua ao dizer "aberrantes". Bem, isso não é novidade na série. Salvo raras excepções, os actores sempre foram uma grande bosta. Mas uma pessoa sempre podia pensar "Bem, são piores que o Nicolau Breyner - muito díficil de conseguir - mas são bonitos". Ora, estes morangos não são bonitos. A minha opinião puramente masculina permite-me analizar fisicamente as raparigas da série, e posso garantir-vos que não têm um pingo de beleza ou sensualidade. Pelo contrário: têm sinais em sítios estranhos, não sabem falar e um rapaz lá usa inclusivamente aparelho.
Eu há uns dias li uma coisa que me deixou de facto curioso por ver a série: um dos actores incendiou a escola, na vida real. Isto é integralmente verdade. E é um actor que faz de cego na série, é gozado pelo gajo que usa aparelho, que é irmão da que tem um sinal feio na cara, e ajudado por uma rapariga que nem é das mais feias. Ele pode não ver na série, mas podia-lhe ter cheirado a queimado. O miúdo tem 12 anos, incendiou a escola e participa nos "morangos". Vai acabar como stripper desempregado e gordo, solteiro e sem dinheiro para ir ao psiquiatra devido aos problemas piromaníacos.
A pior actriz das que eu pude observar é curiosamente aquela que mais se destaca também em termos de fealdade, uma mulata, estranhíssima, que mal sabe pronunciar as palavras e tem uma boca muito esquisita. Não tão esquisita como a boca do outro que não passa nos aeroportos por causa daquele metal todo, parece o caminho de ferro para quem está a chegar a Campanhã.
Uma coisa que me aborreceu bastante foi o facto de metade do tempo estarem mesmo a explicar matéria escolar! Um gajo chega a casa, liga a TV e está uma professora com cara de parva a falar de matemática e assusta-se! O que era suposto tornar a série mais didáctica é apenas para afastar as audiências, se é para ver aquilo toca a mudar para o wrestling, para a Sic Notícias ou para o Canal História.
Ponham o Dr. House em horário nobre....

Diogo Hoffbauer

domingo, 21 de outubro de 2007

o primeiro devaneio sério da batata

Selou-se um beijo na escuridão da noite.

Nenhum outro habitante do mundo terrestre o conhecia, era secreto, vulto do amor, pois só os amantes sabiam – ainda sem conhecer – o que então sentiam.
E todos os sinos na cabeça, todas as estrelas em rotação, o coração a pular fora do peito, iria isso fazê-los amarem-se ainda mais?
O limite desconhecido chegava com o fôlego quebrado, e tudo era mais um segundo daquela sede saciada… Só mais um, mais um pouco, quem sabe quantos mais, por quanto tempo…?
Desgrudarem-se não era sequer pensável, quanto mais executável. Todo aquele momento de momentos da noite fazia deles fugitivos do mundo, refugiados naquele amor, sede de universo.

Queriam-se mais do que a si próprios, selando os lábios com doces pedidos, como quem sela uma carta de palavras frias, qual noite que acaba, devolvendo os amantes à cama fria da casa dos progenitores…
Queriam-se mais do que podiam compreender naquele momento só deles, naquela hora perdida no espaço temporal, naquele momento de ausência do próprio mundo.Queriam, com certeza, mais do que podiam ter, mais do que qualquer outro alguém quisera, mais do que queriam realmente…

Mariana Silva

PORQUÊ?

Todos temos direito aos nossos devaneios, sejam eles sobre a nossa condição mortal, sobre os glaciares que ao derreterem farão elevar o nível das águas, ou mesmo sobre a melga que nos importuna no cantinho do ouvido quando tentamos escrever o primeiro post no nosso blog...!
Assim sendo, devaneio está definido no dicionário como 'sonho, fantasia, capricho da imaginação', e é disso mesmo que se trata: aqui, vamos dar à batata a oportunidade de ser levada a sério (!) de exprimir o capricho da sua imaginação, de contar o que lhe vai na alma, o que a importuna, o que a diverte, o que ela adora e o que odeia.
Porque no fundo, todos temos uma batata dentro de nós.
E, antes dos palitos, do puré, do pacote matutano, é hora de dar poder de palavra às batatas!


Mariana Silva

Declaro-vos Batato e Batata

Não concordo nada com a expressão "Teoria da Batata" para definir uma tese mal sustentada ou sem sentido por falta de alicerces argumentativos. Isto porque uma batata, apesar das naturais limitações a que é submetida pela sua condição de tubérculo, também sabe pensar.
Recordo com saudade o tempo em que gargalhava ruidosamente quando o Sr. Cabeça de Batata do filme "Toy Story 2" dizia a mítica expressão, quando assediado por uma Barbie: "Sou uma batata casada...sou uma batata casada!". E eu ria-me como um idiota. Bons tempos...já lá vai quase uma semana. Era portanto uma batata consciente da sua situação conjugal com a feiosa Sra. Cabeça de Batata. Ora esta consciência prova apenas que as batatas, antes de serem fritas e incluidas num McQualquerCoisa, são seres mais pensantes e responsáveis que os humanos.
Porque quase que aposto que nunca ouviram falar numa batata infiel. As batatas são seres capazes de resistir ao assédio da mais sensual Barbie e calar o João Kléber num qualquer progama da TVI.
Pensem duas vezes antes de substimar as batatas e pensem duas vezes antes de voltarem a trair a vossa cara-metade, porque se esta vos descobre a careca, faz-vos os miolos em puré. Mas não de batata.

Diogo Hoffbauer