quarta-feira, 21 de maio de 2008

Homo ignorantis

De todas as três ou quatro gerações que compõem a sociedade, o bode expiatório é sempre a juventude. E como poderia não ser? O que o comum do cidadão vê destes jovens são notícias de agressões, insolência, vandalismo. É desta geração os jovens que partiram tudo em Lloret del Mar. É desta geração a rapariga que quase atirava uma professora ao chão, facto que só escandaliza o mais céptico, pois pior já aconteceu há muito, esta bomba só rebentou pela coragem – chamemos «coragem» ao atrevimento – do aluno que filmou e incendiou o rastilho. É esta geração que combina suicídios colectivos pela internet. São desta geração as jovens que metem os dedos goela abaixo para vomitarem o que comeram e o que não comeram, saindo orgulhosas das suas costelas. São desta geração os eremitas no novo século, que cortam qualquer vida social, escondem-se debaixo dos lençóis, chorando um mundo que fosse em tudo igual àquele que eles vivem quando fecham os olhos ou quando ligam o computador. É esta a geração que repete até à exaustão as piadas do Gato Fedorento sem lhes entenderem a verdadeira paródia. Foi esta geração que respondeu Não sei às perguntas do inquérito apresentado na Universidade Católica, que fez Cavaco suspirar e abanar a cabeça. É esta geração que não lê, que vomita os Lusíadas. É esta geração que não sabe somar de cabeça. É esta geração que, na altura das decisões, vai para Letras para fugir da Matemática e acaba por reprovar porque não sabe ler; que vai para Ciências porque não sabe ler e acaba por reprovar a Matemática. Esta é a geração que só exercita o dedo polegar a escrever SMS, e o mais perto que está do desporto é a discuti-lo com os amigos.
Pobre Descartes, quando disse que a juventude se alimenta da ilusão. Esta juventude alimenta-se de tudo menos de realidades putativas. A única ilusão que têm é de que são o centro do mundo. E deixa de ser ilusão quando, por uma aluna tirar o telemóvel a uma professora, o mundo pára; passa a ser realidade. O seu frio na barriga provém da roupa que usará do dia seguinte, de não encontrar o carregador do telemóvel, do perfil do hi5 da namorada do ex-namorado. Não há noção de longo-prazo, de potencialidades, de futuro. Não há patriotismo excepto para pôr uma bandeira – muitas delas ao contrário - na varanda, com a intenção de mostrar o apoio a um monte de tipos que, salvo excepções, dá meia dúzia de pontapés na bola porque um brasileiro manda.
Falta maturidade. Falta perceber que a política é a diferença entre a selva e a sociedade. O pseudo-anarquismo que envolve a sua pseudo-irreverência não lhes permite compreender que respeito à evolução foi o que permitiu deixar-mos de viver em cavernas e ter-mos hoje telemóveis que os professores nos possam tirar nas aulas. Seguindo esta teórica regressão, e confiando na evolutiva teoria de Darwin, não faltará muito até que sejamos símios rodeados de computadores, telemóveis e televisões plasma para podermos ver bem os outros tipos a dar pontapés na bola e inspirarmos as nossas mentes primatas nas rebeldias moralmente incorrectas, didacticamente muito ricas dos personagens dos Morangos com Açúcar.
Os jovens em geral causam repulsa por parte das pessoas. Há professores a pedir a reforma, abdicando do seu dinheiro para deixar de aturar energúmenos, os velhos fogem de quem usa demasiado gel e tem as cuecas à vista.
Isto tudo é uma bola de neve. O jovem cresce a ver o irmão a deixar os poucos livros que tem a apodrecer na prateleira; que vontade pode ter ele de pegar num Camilo, num Júlio Dinis, ou internacionalmente num Dumas, num James Joyce, num Dostoiévski? Tem telemóvel aos oito anos, computador desde sempre, vai falar com os amigos num linguagem infestada de kapas e xises ou vai ler um D. Quixote de la Mancha sem kapas e onde o “x” só aparece no nome do protagonista?
Na TV, vão ver a novela ou vão ouvir o Ministro da Economia na Grande Entrevista? Vão ligar a RTP2 ou vão ligar a SIC Radical? Vão perder tempo a aprender quem foi Ramalho Eanes ou a jogar consolas?
Esperem até os pelos começarem a ser mais frequentes, as caudas começarem a crescer e começarmos a cheirar os rabos uns dos outros que sentiremos Salazar a remexer-se no túmulo, o fantasma de uma juventude promissora que não foi nem deixou outros o serem.


Diogo Hoffbauer

8 comentários:

Anónimo disse...

Va lá, muita coisa é verdade,mas não nos vamos por todos no mesmo saco! --'

Rita M.

Anónimo disse...

Olha, o Di ressucistou --'
Voltou...

Rita M.

Mariana disse...

Um texto brilhante que dá que pensar.
O título está simplesmente genial, estando bem enquadrado no texto.

^^

ematejoca disse...

Querido Xuxu!
Cristo ressucistou passado tres dias, tu nao tiveste pressas.

Sabes o que eu acho mal da tua geracao?
È eu nao fazer parte dela.

O tempo de hoje nem é melhor nem pior do tempo em que eu era jovem.
É diferente.

Um grande beijindo de uma Tété muito orgulhosa.

Anónimo disse...

Ves, agora és o Xuxu da familia --'

Rita M.

ematejoca disse...

Querida meia-batata, nao te zanges por eu te ter roubado o nome. Mas tens de concordar que XUXU encaixa bem no nosso Didocas.
Este blogue cada vez está mais intimo.
Agora saudacoes para a batata Mariana! Tu que és perita nos devaneios musicais Também quero por no meu blogue "Tube" e já coloquei, mas só cá muito em baixo.
Acode-me!
Hoje tenho um texto muito bom no meu blogue. Gostava a opiniao dos tres.
Que bom a vossa geracao viver num Portugal moderno e democrático e sem guerras coloniais.

Nutze den Tag!

Anónimo disse...

Claro que nao me zango ^^

Eu acho o nome 1 delicia

Bjinho Teresa

Rita

Anónimo disse...

DIOGO HOFFCOISO! Vê lá se escreves mais mais mais! Nunca apanho nada novo teu...
[Olha, olha... também vou ter um blog. Shiiiu, e segredo]



MafaldaRego