quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A disFUNÇÃO PÚBLICA

Riscadas. Sujas. Inabitáveis.
A empregada da limpeza foi chamada, pois achou-se por bem alertá-la de que não tinha sido a turma em questão a sujar a sala previamente imunda.
A empregada veio, sorridente, e desatou a lançar postas de pescada, do alto da sua baixa estatura e pose, como quem possui a razão do mundo na barriga anafada de comum mortal. «Ai filha, isso agora eu quando me der vontade limpo, talvez lá para o Natal...». As bocas abriram-se num unissono silencioso de espanto e incapacidade de raciocinio. Natal??? «Sim, sim, ou até para a Páscoa... O Patrão paga o mesmo, não é doutora?» - esbracejava a funcionária, espalhando um riso bêbedo nas bochechas carrancudas, cotucando a professora, também ela incrédula, como os restantes alunos, sem saber como reagir.

O pior de tudo, e dirão vocês que não é de surpreender, é que o dito «Patrão» é o nosso querido (ini)amigo Estado Português, que por não saber ou fingir que não sabe - estas politiquices são uma encruzilhada... - continua a permitir que os seus funcionários, funcionários públicos, prestem uma não-prestação de serviços, mantendo-lhes a fama de «Parasitas do Sistema».
E são-no de facto, organizando-se na sua desorganização, cada um por si. É vê-los nas Finanças a dormitar rabugentos, matando os cidadãos com o interminavel tempo de espera pior que os intervalos da TVI, e despachando-os assim que atingem o balcão, como encomendas para Timbuktu... Ou é vê-los também no Centro de Saúde, a fazer malha ou tricô, ou a ler jornais desportivos como se de uma Bíblia se tratasse, por detrás do balcão de Atendimento, balbuciando respostas que ninguém entende, e comentando a vida de outros que nem eles próprios entendem...

O problema maior é que toda esta benevolência e privilégio seria como manteiga em biju quente para todos os outros trabalhadores do sector privado. E agora dizem vocês: isso nunca aconteceria! Pois esperemos bem que não...
Havia de ser bonito, uma pessoa na fila do Continente e a menina da caixa, lima na mão direita a limar a esquerda, frasquinho de verniz aberto na pontinha do balcão, chiclet a rebolar entre os dentinhos, balbuciando um «registo quando me der vontade», deixando incrédulos todos os clientes da gigantesca fila já formada. E entao aí, mais uma vez sem nada fazer para o contrariar, uma qualquer voz acabaria por concluir, abanando a cabeça, num tique já centenário para qualquer país como o nosso Portugal, com alma grande e braços curtos: onde este país chegou!



Mariana Silva

4 comentários:

Anónimo disse...

"Limpo no Natal... na Páscoa... ou mesmo nas férias grandes... o patrão paga o mesmo!!"

Naquele momento a sala inteira soltou um "Ahh?" mudo em uníssono...

Parece mentira mas infelizmente é verdade... o que não é de todo normal:
"Eu não me quero estar a chatear como os meus colegas lá de baixo... não tenho paciência para andar atrás dos alunos!"
Estou espantada como é que pessoas como estas ainda se dão ao trabalho de saír de casa se lá podiam estar, confortavelmente, a fazer as tais palavrinhas cruzadas, se o que estão a fazer no emprego (sim emprego... não é trabalho!) e nada é tudo o mesmo.
Poderiam estar a receber o apoio do Estado... porque afinal, fazendo o livrinho de palavras cruzadas inteiro ou deixá-lo para fazer nas férias grandes, quiçá, é o mesmo... O PATRÃO PAGA O MESMO!!!

Afonso Reis Cabral disse...

Abaixo a classe!

Anónimo disse...

Coitada da D. Rosa!
As condiçoes que o seu posto lhe oferece nao sao prometedoras o suficiente para que as mesas sejam devidamente limpas a tempo e horas...
A classe operária tem destas coisas...

Rita M.

Anónimo disse...

Oh! Nunca tiveste aulas ca na ESCOLA BASICA E SECUNDARIA DE CANELAS.

E uma ma experiencia.

Alias a ma formaçao das funcionarias e flagrante! JA ME CHAMARAM LESBICA por meias palavras... sim, foi um escandalo escolar daqueles.

E viva a tudo aquilo que isto reflecte do nosso 'jardim a beira mar plantado'


~~> MafaldaRego