segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A vida são dois dias e um deles é feriado

Há perguntas tão clichés em entrevistas e coisas do género que me dá vontade de responder para mim sobre mim, não vá o diabo tecê-las. Assim, quando eu for famoso por ter inventado um comprimido que permite às pessoas não dormir durante a noite sem adormecer no lavatório de manhã, e for entrevistado, e me for colocada uma dessas questões que parecem pragas comuns a todas as entrevistas, já estarei preparado e surpreenderei com uma responta previamente expontânea.
A pergunta que mais vezes detectei foi provavelmente "O que mudaria em si se tivesse oportunidade?", claro que a par de "Quais são os seus planos para o futuro?", "Qual é o seu maior medo?" ou "Onde acha que está a Maddie?".
A hipocrisia quase obrigatória de quem responde a perguntas com a consciência de que as pessoas que lerão aquela entrevista formarão muitos juízos sobre a sua personalidade, e a imagem custa muito a formar como nós a queremos - que é com os defeitos maquilhados e as qualidades carregadas - empurra os entrevistados para o habitual "Nada, sou feliz como sou". Balelas. Bullshit. Normalmente esta pergunta é feita em termos físicos, e como tal podemos dividir os entrevistados em duas categorias: os feios e os bonitos.
Os feios optam pelo conformismo, dizendo que gostam de ser como são. Os bonitos - espécie rara, e consequentemente resposta menos ouvida - dizem que mudam tudo e mais alguma coisa. Um toquesinho de modéstia. Tanto o conformismo como a modéstia ficam sempre bem. Ou pelo menos sabem bem a quem não os realmente possui.
Eu decidi responder a esta pergunta. E cheguei à conclusão de que o que mudava em mim
era com certeza a minha preguiça. Depois de diminuir o nariz, tornar o meu corpo mais atlético, fazer alguma coisa em relação ao meu cabelo e tornar-me inteligente o suficiente para ganhar um jogo de Cluedo à minha mãe e poderoso o suficiente para fazer a Maria de Lurdes Rodrigues ser internada - como quem me conceder o poder de alterar algo em mim terá certamente também o poder de evitar que Maria de Lurdes Rodrigues seja internada, torçamos para que a alma caridosa que hipoticamente que daria tais poderes fosse jovem estudante e tivesse aulas de substituição às oito e meia.
Mas depois disto tudo, era a preguiça.
Não me entendam mal! Como português que sou, eu adoro a minha preguiça! Ai, o prazer que não é passar um domingo de pijama a consolar as mágoas de não ter a namorada por perto com futebol todo o dia na TV, dormir até tarde, e só me levantar para ir buscar de comer ao frigorífico ou ir ao quarto de banho, porque é assim o ciclo. Eu tenho orgulho desta minha faceta. E como vêm, exponho-a sem pudor, e a isto não ajuda só o orgulho mas também a desfaçatez.
Há uma parte de mim que mal pode esperar por expôr orgulhosamente a minha barriga de cerveja.
Mas por outro lado, é algo que me faz esconder a cabeça de vergonha. Na sociedade portugesa em que vivemos, os preguiçosos são cada vez mais postos de lado. E ironicamente o nosso lado - dos preguiçosos - fica cheio. E do outro lado estão meia-dúzia. E nenhum deles é português.
Mas a verdade é que um preguiçoso é um inútil.
Vantagem: "Vamos dar este trabalho ao Diogo?", "Não, ele é preguiçoso, ao fim-de-semana não faz nada de certeza. Fico eu encarregue!". Muito bom, é menos uma coisa para fazer no fim-de-semana, tenho agora -1 coisas para fazer.
Desvantagem: "Convidamos o Diogo?", "Oh, é fim-de-semana, provavelmente ainda está a dormir! Vamos ver o Porto nós!". Felizmente isto nunca aconteceu. E uma vez que
aconteça, nunca mais na vida me esperguiço.
Alguém muito sábio disse uma vez que "pessoas inteligentes são preguiçosos". Deve ter sido um estampador de camisolas que o disse - porque é de facto uma excelente prenda - mas era um sábio com certeza.
E que mal tem um pouco de preguiça? Deixem-me aproveitar o deleite do pecado! Toda a gente sofre de pelo menos um pecado capital. O único problema em mim é mesmo ter dois, e em peso: a famigerada preguiça e a gula.
E dava jeito cortar pelo menos uma, para não parecer mal. Falta saber é qual cortar e como.
Hum...
Let me sleep on it...

Diogo Hoffbauer

3 comentários:

Anónimo disse...

Tens realmente de fazer alguma coisa ao teu cabelo!


I told ya!

Rita M.


Se a pessoas preguiçosas sao inteligentes, tas a chamar-me burra????

:S

Anónimo disse...

[palmas] nada mais

Just_me

Anónimo disse...

Diogo quem te dera ser tão intelegente como és preguissoso