segunda-feira, 21 de julho de 2008

Garçon



Fixada neste olhar ficou a certeza de te ter.
Os lábios humedeceram-se
ao tocar a colher de chá
que trazia o qente que te ardia no peito...
E num instante de vida
fomos um do outro.

Ficaste a olhar-me ao longe,
como se a proximidade nos viesse roubar
a essencia que carregavamos.

Uma palavra, um sopro
e tudo teria mudado
se nós tivessemos mudado...
Mas não...

Fixada neste olhar ficou a certeza de te ter...
Entre os minutos em que tudo poderia ser real
preferimos eternizar o sonho,
Como se a proximidade nos viesse roubar
a essencia que carregavamos.


>>> Mariana Silva
[inspirado na legenda que a minha Mafalda atribuiu à fotografia ^^]

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Lê.

Lê as cartas em branco que te deixei debaixo da almofada.
Não tive nem coragem para tas entregar em mão, de tão violentas.
São feitas de gritos
de mortes
de azares.

Escritas com a falta de paciência
enjaulada na alma dura,
O seu papel dobrado com a raiva existencial
das estações mortas do ano,
O envelope selado com o beijo azedo
de quem não sabe o que é amar.

Lê.
Quero sentir o teu sangue
verter, verter, verter…
Em lágrimas
Pela face moribunda
de quem nunca esteve vivo
Para mim.



>>>Mariana Silva

terça-feira, 1 de julho de 2008

Sem Título



Sento-me na tijoleira fria e sinto o tecto rodopiar.
Perdi o chão, as paredes, o sentido.
Esqueci o caminho percorrido.
Desaprendi de caminhar.

A minha sombra ri-se.
Que é feito da coragem, da audácia?
Que é feito da vontade, do amor pelos momentos?
(As gargalhadas ecoam).

Perco as forças.
Deito-me ao comprido - medidas exactas do caixão.

Nada é levado até ao fim.
Os desejos,
Os medos,
Os sonhos...
A Existência a meio
cortada com a faca do pão seco -
até pão fresco desisti já de comprar.

Esta é a carta que não te escrevi,
a carta que não quero que leias,
a carta que carrego há demasiado tempo -
como peso pesado deste meu mundo sem centro.

Não vás, assim, breve;
Nao fiques, assim, eterno;

Mais do que corpos deitados na tijoleira fria -
queria que fossemos mais do que corpos deitados na tijoleira fria.
(Assumo que te sentes como eu, que tolice!)

Mas a minha sombra ri-se.
Quando olho, tu já foste, assim, breve...
E eu fiquei, assim, eterna.


>>> Mariana Silva