quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

É fácil, é Barak e dá milhões

Hillary Clinton e Barak Obama protagonizam uma das lutas mais bizarras da história dos Estados Unidos da América. Porque a crua verdade é esta: o próximo presidente do país de Washigton e Jefferson ou será uma mulher ou será um tribal.
Do lado de Obama está a vantagem de ser um homem. Do lado de Clinton está a vantagem de se parecer com o seu homem. Em tudo. Reparem que até no sorriso forçado.
Eu até já imaginei a cara de Obama como a quinta no Mount Rushmore e até fica engraçado, ali mesmo ao lado do Lincoln. Se bem que por respeito aos pobres coitados ali esculpidos deviam construir a cara de Hillary, porque eles bem devem estar a precisar de uma companhia feminina passados tantos anos em que o mais feminino que tiveram foi o cabelo de George Washington.
Mas eu - pasme-se - encontro uma vantagem em vontar em Clinton. Se repararem, com uma mulher no poder, os Segredos do Estado norte-americano seriam do domínio público. Era num instante que, Clinton, do seu escritório, admirando-se com algo do domínio estritamente governamental, telefona ao marido e diz: "Honey, nem imaginas o que é que eu descobri aqui! Não é que o...", "Eu sei, filha, era a mesma coisa há dez anos atrás quando eu estava aí nessa tua cadeira", "Não, sweetie, nesta não estavas, que esta mandei eu instalar e tem massajador", "Massajador, hein? Se eu soubesse tinha sido bom para mim e para a menina Lewinsky", "Não ouvi, Billy, diz lá?, "Nada filha, bom trabalho!".
É perciso referir que o famoso caso de adultério de Bill Clinton com Monica Lewinsky - tem mesmo nome de judia a mulher! - também deve ter tido influência na sanidade mental de Hillary, porque nunca cai bem no goto uma traição, nem que seja por uma questão de orgulho. E eu penso que o orgulho poderá falar mais alto, e Hillary pode estar aqui à procura de uma oportunidade para se vingar. Esperará que, sendo eleita presidente, terá um secretário jeitoso. E cego, para as hipóteses existirem. E pimba! A vingança servida fria!
Mas como eu dizia - e porque é importante não perder o fio à meada - Hillary Clinton telefona ao marido e, não lhe tendo podido dar novidade, vai telefonar à melhor amiga. E quem diz melhor amiga diz as amigas. E quem diz amigas, diz o carteiro. Há essa necessidade de dar à lingua, de contar tudo. Se Bush fosse uma mulher, a invasão ao Iraque e os seus mais ínfimos pormenores em dois dias que seriam do conhecimento aqui do chinês que tem uma loja na minha rua. Positivo, portanto.
Uma coisa que eu não apreciaria era mais uma família de poder. Num contexto distinto, temos os irmãos Castro. Temos os Bushes. E agora, depois de Bill, candidata-se a mulher. Qualquer dia candidata-se o cão. E eu antes votava no cão.
Uma nota: penso que em Portugal nunca seria possível termos uma mulher como Presidente da República. Porquê? Pelo assombroso número de pessoas que ainda diz a palavra "presidenta". Enquanto não se aprender que "presidente" é uma palavra neutra - ou "unisexo" para quem se dê melhor com a palavra - nunca teremos uma mulher no poder. Nesse aspecto, os americanos levam vantagem por terem uma lingua bem mais facil. E mesmo assim Bush Jr. a complica, diga-se.
E baixando a poeira, quem ficará de pé? É facil, Obama. Primeiro, porque sim. Segundo, porque Obama é do Quénia, e sabe bem como domar as feras como Clinton.

Diogo Hoffbauer

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Mais que o necessário

O que eu precisava era que me trouxesses sossego
Numa bandeja de prata…
Que me estendesses na mão um sem fim de soluções
Para os problemas que não tenho!
Que calasses a voz de pássaro morto
Que quer voar para abraçar o infinito negro…

Precisava que te deitasses ao meu lado, em silêncio
E que contasses comigo as estrelas que há muito desapareceram de vista…
Que me sussurrasses que o tempo é uma metáfora
E que a eternidade são segundos indiscutíveis!

Precisava que cantasses comigo as músicas de uma infância longínqua
Mas tão presente que as letras ainda bailam na memória…
Precisava que debaixo do braço trouxesses o jornal
Com todas as notícias que não são novidade,
E que falasses e me ouvisses, e me ouvisses e falasses.

Precisava de chorar, de largar gotas de alma no teu ombro
E de sentir a tua mão pesada de homem leve
A afagar as torturas do pedaço amargurado
Que carrego no peito.

Precisava que uma gargalhada tua me devolvesse as manhãs
E as noites e as tardes em que tudo era perfeito
Porque ninguém nunca ouvira falar de perfeição antes
E todos julgavam que era possível…

Precisava, acima de tudo, que me olhasses, que me visses
E que encontrasses em mim o que há muito eu procuro…
O que há muito todos desistiram já de procurar…
O que ninguém pensaria ser possível encontrar um dia…

Precisava de ti para mim, mas sem seres meu
Como um corpo desnudo estendido numa praia deserta
Que as ondas beijam suavemente, sempre que se enrolam na areia,
Simplesmente porque desejam fazê-lo.

Precisava, e queria, queria muito, que no teu colo houvesse a paz
Das manhãs em lençóis quentes e sem relógios que despertam o mundo louco…

Queria, queria muito, e precisava, que estivesses aqui agora.
Porque se fosses a sombra do momento
Eu não estaria só
Escrevendo palavras soltas numa branca folha fugidia...


>>> Mariana Silva

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A vida são dois dias e um deles é feriado

Há perguntas tão clichés em entrevistas e coisas do género que me dá vontade de responder para mim sobre mim, não vá o diabo tecê-las. Assim, quando eu for famoso por ter inventado um comprimido que permite às pessoas não dormir durante a noite sem adormecer no lavatório de manhã, e for entrevistado, e me for colocada uma dessas questões que parecem pragas comuns a todas as entrevistas, já estarei preparado e surpreenderei com uma responta previamente expontânea.
A pergunta que mais vezes detectei foi provavelmente "O que mudaria em si se tivesse oportunidade?", claro que a par de "Quais são os seus planos para o futuro?", "Qual é o seu maior medo?" ou "Onde acha que está a Maddie?".
A hipocrisia quase obrigatória de quem responde a perguntas com a consciência de que as pessoas que lerão aquela entrevista formarão muitos juízos sobre a sua personalidade, e a imagem custa muito a formar como nós a queremos - que é com os defeitos maquilhados e as qualidades carregadas - empurra os entrevistados para o habitual "Nada, sou feliz como sou". Balelas. Bullshit. Normalmente esta pergunta é feita em termos físicos, e como tal podemos dividir os entrevistados em duas categorias: os feios e os bonitos.
Os feios optam pelo conformismo, dizendo que gostam de ser como são. Os bonitos - espécie rara, e consequentemente resposta menos ouvida - dizem que mudam tudo e mais alguma coisa. Um toquesinho de modéstia. Tanto o conformismo como a modéstia ficam sempre bem. Ou pelo menos sabem bem a quem não os realmente possui.
Eu decidi responder a esta pergunta. E cheguei à conclusão de que o que mudava em mim
era com certeza a minha preguiça. Depois de diminuir o nariz, tornar o meu corpo mais atlético, fazer alguma coisa em relação ao meu cabelo e tornar-me inteligente o suficiente para ganhar um jogo de Cluedo à minha mãe e poderoso o suficiente para fazer a Maria de Lurdes Rodrigues ser internada - como quem me conceder o poder de alterar algo em mim terá certamente também o poder de evitar que Maria de Lurdes Rodrigues seja internada, torçamos para que a alma caridosa que hipoticamente que daria tais poderes fosse jovem estudante e tivesse aulas de substituição às oito e meia.
Mas depois disto tudo, era a preguiça.
Não me entendam mal! Como português que sou, eu adoro a minha preguiça! Ai, o prazer que não é passar um domingo de pijama a consolar as mágoas de não ter a namorada por perto com futebol todo o dia na TV, dormir até tarde, e só me levantar para ir buscar de comer ao frigorífico ou ir ao quarto de banho, porque é assim o ciclo. Eu tenho orgulho desta minha faceta. E como vêm, exponho-a sem pudor, e a isto não ajuda só o orgulho mas também a desfaçatez.
Há uma parte de mim que mal pode esperar por expôr orgulhosamente a minha barriga de cerveja.
Mas por outro lado, é algo que me faz esconder a cabeça de vergonha. Na sociedade portugesa em que vivemos, os preguiçosos são cada vez mais postos de lado. E ironicamente o nosso lado - dos preguiçosos - fica cheio. E do outro lado estão meia-dúzia. E nenhum deles é português.
Mas a verdade é que um preguiçoso é um inútil.
Vantagem: "Vamos dar este trabalho ao Diogo?", "Não, ele é preguiçoso, ao fim-de-semana não faz nada de certeza. Fico eu encarregue!". Muito bom, é menos uma coisa para fazer no fim-de-semana, tenho agora -1 coisas para fazer.
Desvantagem: "Convidamos o Diogo?", "Oh, é fim-de-semana, provavelmente ainda está a dormir! Vamos ver o Porto nós!". Felizmente isto nunca aconteceu. E uma vez que
aconteça, nunca mais na vida me esperguiço.
Alguém muito sábio disse uma vez que "pessoas inteligentes são preguiçosos". Deve ter sido um estampador de camisolas que o disse - porque é de facto uma excelente prenda - mas era um sábio com certeza.
E que mal tem um pouco de preguiça? Deixem-me aproveitar o deleite do pecado! Toda a gente sofre de pelo menos um pecado capital. O único problema em mim é mesmo ter dois, e em peso: a famigerada preguiça e a gula.
E dava jeito cortar pelo menos uma, para não parecer mal. Falta saber é qual cortar e como.
Hum...
Let me sleep on it...

Diogo Hoffbauer

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Poema (antiguinho já...)



Lágrimas.
Quantas lágrimas chorei
nesse rio que edificaste
tijolo a tijolo
beijo a beijo
palavra a palavra...

E hoje, após o rio ter secado,
seguro o cair de mais um pedaço
de alma
de tijolo
de beijo...

Porque as palavras, essas !, tão fáceis
Queimam em segundos
O dificil morrer do tempo...


>>> Mariana Silva

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Humanos



Aprendemos a caminhar. Aprendemos a falar. Aprendemos a ter uma rotina.
Aprendemos a tratar de nós, a evitar doenças, a cuidarmos do corpo, a cultivarmos a mente. Aprendemos a divertirmo-nos, aprendemos a ser simpáticos, aprendemos a sermos educados, aprendemos a ouvir calados e a falar sem escutar... Aprendemos a gostar do mundo e a reclamar dele, aprendemos a fazer algo por nós e a devanear como fazer algo pelos outros. Aprendemos a ser um e a ser todos, e a ser todos sem ser um.

Aprendemos muita coisa.

Mas continuamos, após anos de aprendizagem, a não saber ter sonhos, a não saber dar sem no fundo esperar receber, a não saber como sorrir sem embaraço nem chorar sem ser em silêncio. Continuamos sem saber que rumo seguir apesar de sabermos caminhar, continuamos sem saber o que dizer apesar de sabermos falar, continuamos a querer quebrar o tempo apesar de há muito termos aprendido uma rotina...
Continuamos a não saber como tratar de nós da melhor forma, continuamos a passear pelo mundo vendo a paisagem sem saber como fazer parte dela e invejando quem supostamente o consegue...

Continuamos sem saber tanta coisa.

Mas continuamos, após anos e anos sem saber, a aprender que cada dia merece um sorriso e uma lágrima, e que cada minuto merece a nossa atenção e o nosso desprezo.
Porque somos humanos de duas faces... Ou mais! - quem sabe?


>>> Mariana Silva

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Promessa

Mostra-me os pozinhos mágicos com que polvilhas o meu coração e o fazes suspirar de saudades.
Conta-me os teus segredos, diz-me como consegues evaporar a chuva que cai quando tu não estás, com um beijo discreto, lá de longe, quando vou dormir.
Suspira-me ao ouvido as palavras mágicas e exploramos ambos, em conjunto, o seu sentido. Vivendo, de mãos dadas, sempre as mesmas mãos, mas que cada dia assumem um feitio e uma suavidade diferente, mais confortável.
Deita-te comigo um momento. Sim, um momento, porque nem que passassemos o resto das nossas vidas deitados juntos não passaria de um momento, breve como um suspiro. Deita-te sobre o meu peito, deixa.me sentir o teu corpo bem de encontro a mim, numa sensação perfeita de dependência mútua. Quero sentir o bater compassado do teu coração, em alternância com o meu, que grita por ti. Juntos, vão marcar o ritmo das nossas palavras, suspiros, desabafos, gritos que nunca entraram mas têm de sair.
E o teu andar...Quando vem na minha direcção, pareces correr em direcção aos meus braços... Quando te afastas, ainda te vejo mas já sinto saudade.
Eu adoro-te, e adoro como sou ao teu lado... Quando te tenho junto a mim, parece que sinto a capacidade de criar quadrados redondos. Nunca me peças para tentar, porque estarei demasiado ocupado a olhar para os teus olhos... Parecem pequenos cristais, orlas fugidas de florestas que encontraram refúgio na tua linda face...

Eu não escrevo estas coisas. Exponho-as. Elas já estão escritas, e não me lembro de ter sido eu. Mas encontrei o seu rascunho num canto do meu peito, que havia de jurar que estava vazio antes de tu apareceres...mas agora que apareceste, está repleto de palavras destas...
Dá-me a mão que eu levo-te lá a ver o resto das coisas que surgiram...

Diogo Hoffbauer

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

In the deep...

Em diálogo com o mundo. Era suposto ser esse sempre o nosso estado, diálogo, discussão positiva, progressiva, lucrativa. Devíamos poder dizer o que queremos, sem códigos, ideias pré-definidas, preconceitos. Mas o que vigora é a lei da sobrevivência na selva, e há regras a cumprir.

Por isso, nós pensamos que sabemos quem somos, mas não temos ideia.
Por isso vivemos supostamente protegidos, escondidos, atrás de uma parede, a evitar o toque, a exposição, a vida.
E lembrei-me de tudo isto a propósito de outro vício meu, outro, outro... 'Crash - Colisão' um dos melhores filmes de sempre, um dos mais bem conseguidos, um filme que fala despretensiosamente das relações humanas - ou mais propriamente, da falta delas.

"Sentimos tanto a falta 'desse' toque, que colidimos uns contra os outros, só para podermos sentir alguma coisa..." - é o conceito principal do filme que demonstra como as ideias pré-definidas, os códigos, os preconceitos, a ausência de diálogo... Tudo o que impusemos em nosso favor, está agora contra nós. Tudo o que criamos para vivermos melhor, está a impedir-nos de viver.


Aqui fica a música principal da banda sonora do filme, 'In the Deep' - Bird York...

'In the silence,
all your secrets, will
raise their worried heads.
Well, you can pin yourself back together,
to who you thought you were.
Now you're out there living...
In the deep...
'



>>> Mariana Silva