domingo, 30 de dezembro de 2007

Um Novo Ano... Novo

Era noite de passagem de ano. O frio gelava os vidros da casa quente dos seus pais, e a lareira crepitava, brindando-lhe o olhar com o fogo que lhe faltava no coração. A mesa estava posta, recheada, à portuguesa, com os tradicionais doces espalhados, o champanhe gelado à espera de ser aberto. O bacalhau estava delicioso, a família estava unida pela segunda noite no ano. E o tempo aclamava por uma mudança definitiva, por um novo ano que trouxesse uma nova vida, por um tempo onde as diferenças apagassem as maldades das semelhanças, e onde as semelhanças trouxessem o alento que aniquilaria o azedume das diferenças.
Ela estava sentada, absorta, ausente, a ouvir tudo sem interpretar nada, a cabeça a rodopiar entre os doces, os frutos secos, as gargalhadas dos sobrinhos, o crepitar do fogo que aquecia a casa congelada nas janelas. Tudo aquilo em que acreditava estava longe, num sítio chamado distância, sem tempo ou espaço, sem crenças ou verdades. Só lhe restava esperança, as badaladas de um relógio interior, as doze passas de disciplina para agir e mudar a sua vida.
Cinco minutos para a meia noite. Todos se levantaram, o rebuliço para organizar mais uma viragem de ano, taças de champanhe a postos, as crianças com tachos e panelas prontas a fazerem o barulho infernal do costume, as tias, avós, primos a contarem e distribuirem as passas de mão em mão. A alegria, a família, o tempo, a mudança.
Tudo lhe parecia tão perfeito, tão seu, que por momentos perdeu a coragem de desejar mais do mundo.
Olhou com ternura o cão aninhado na lareira, imaginando os seus desejos, as suas resoluções de ano novo: que mais poderia ele querer se ela já lhe dava tudo o que podia? Pousou a taça, foi aninhar-se junto a ele, e podia jurar que nos seus olhos brilhantes de bicho que nada sabe do mundo, estava a certeza de toda aquela noite: 'Este será o teu ano'.
- Anda lá, faltam um minuto para a meia-noite, olha a tua taça!- berrou-lhe a mãe.
Levantou-se, foi para junto dos 'seus', e com o rebentar das horas, engoliu o mundo, embrulhado em passas e champanhe, engoliu a vida mergulhada nos olhos daquele animal que lhe ensinara com o olhar a sorver a vida num único trago.

Tudo aquilo em que acreditava, tudo aquilo que desejava.. Estava longe, não era seu, e ela tampouco sabia como conseguir que fosse seu, após tantas tentativas falhadas, tantas hesitações fora de tempo...
Naquela taça de champanhe estava a chave de ouro: tudo estava tão longe quanto o olhar do cão para os que não conseguiam compreendê-lo.

No fundo, era tudo uma questão de distâncias, de tempos, espaços... E de vida.


>Mariana Silva

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

É Natal... !

É quase Natal. O frio já enregela,congela, e é quase já o 'pão nosso de cada dia' eu receber mensagens como "saí agora à rua e congelei a retina" ou "vou parar de escrever mensagens, porque dói".
Por mais que nos agasalhemos, o frio é mais que muito, e o calor humano mais desejado do que nunca. A um dia da véspera de Natal, ou em bom português, da consoada, muitas são ainda as pessoas zombies que se passeiam pelos centros comerciais ou pelas apinhadas e encavalitadas ruas da baixa, em busca do presente perfeito para a pessoa adorada, ou do presente imperfeito para a odiada!
É estranho isto do Natal. Supostamente seria uma festa religiosa, mas está tão entranhada que, 2007 anos após o nascimento que estaríamos supostamente a festejar, já muito poucos o celebram, tendo antes adoptado a imagem de um velhinho vestido de vermelho que entrega presentes a quem se porta bem, viajando pelo mundo na noite da consoada! E todo o espírito de partilha e dádiva se transformou em puro consumismo, onde dar e receber é uma simples circunstância, e a frase 'O natal é quando um homem quiser' não faz sentido, simplesmente porque querer não tem qualquer força quando não há dinheiro para comprar eternos presentes...
Mas deixemo-nos de negativismo! Pensemos antes que em pleno século XXI o Natal é mais encarado como uma reunião de família do que como uma celebração religiosa. É a noite onde tudo acontece: pela festa, pela ansiedade e risos das crianças, pelos familiares que vemos vezes a menos, pelos doces da quadra, pelos programas televisivos e cambada de filmes que estreiam por estes dias, pela casa decorada e as luzes do pinheiro a brilharem-nos no olhar...
É a festa da família, das prendas por circunstância mas também das prendas que damos como significado das palavras 'pensei em ti'. Porque é, ou deveria ser, esse o espirito de Natal. Lembrarmo-nos dos que estão quase sempre longe e de quem gostamos tanto; lenbrarmo-nos dos que estão tão perto mas que nem tampouco conhecemos...
E por isso, por esse verdadeiro significado, o Natal deveria mesmo ser quando um homem quisesse...

Boas Festas!

> ao som de 'So this is Xmas - War is Over...'de John Lennon, um homem de convicções e de boas canções...
Para quebrar o gelo, acabar com 'as guerras' e acender as luzes do pinheirinho interior...

sábado, 15 de dezembro de 2007

Dependência Virtual




A ausência foi sentida? Não sei, mas eu senti falta de todos vocês, do teclado rude e das letras meias apagadas, do ecrã pálido a ganhar vida em forma de letras, das palavras a esvoaçarem rumo ao virtual mundo dos textos, a minha vida a ser a vida de todos vós e a vossa vida a ser um pedaço de mim...
No meu último devaneio falei-vos de um cantor que adoro, cujas músicas me envolvem numa doçura estonteante. Agora, falo-vos do pesadelo (!!!) que foi a minha última semana: sem internet.
Ahh pois é, esta nossa geração sem internet já não se aguenta! As linhas que separam real do virtual são tão ténues que sem elas não sabemos o que mais fazer. Dava eu por mim, dez e meia da noite, sentada na cama, a olhar as paredes, os livros (poucos, dada a finitude das aulas...) já separados para o dia seguinte, a toilette já escolhida (que tristeza..!), tudo arrumado, e restava-me a televisão, com os seus inúteis cinquenta canais, onde as galas de Natal da tvi me faziam ter pena de mim mesma.
Uma semana sem computador e, consequentemente, sem internet. Uma semana onde apenas me restou sentar-me no sofá, a explorar os canais, ou de telefone pendurado na orelha, a desabafar com primas, amigas, amigos, sobre a desgraça que então estava a viver! Um descalabro, um drama!
E acreditem que isto, vindo de quem só tem internet há meia dúzia de meses, é muito mau sinal... A dependência aguçada de quem encontra no ecrã espelhado o contacto com o mundo (e se lermos esta frase co espírito de quem nunca mexeu num computador, vamos considerar-nos, a nós próprios, a extrema ridicularidade da geração!), a tamanha felicidade e liberdade de nos sentarmos, envolvidos pelo calor do aquecedor - que o Natal já enregela...- e assolados por ideias de comentários a fazer nos respectivos Hi5, e-mails a responder, blogs para actualizar, pessoas com quem falar...
Porque em cada segundo tudo se transforma, e no mundo virtual a velocidade ganha outro significado. Eu estive uma semana fora e ontem aprendi que SECSY (sexy !!!) se escreve assim.
Esta nossa geração virtualóide, vai de mal a pior... Só nos resta ir com a maré, e mantermo-nos actualizados, para não fazermos má figura !


> Mariana Silva

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Primeiro dia do resto da nossa vida

Dormitavas com a tranquilidade de um bébe despreocupado, de respirar livre e angelical.
Contemplei-te maravilhado, e não pude deixar de sentir orgulho pela tua beleza. Admirei o teu inspirar fresco e o teu expirar que, visto com os olhos de quem ama, parecia quase um beijo. Descortinei uma certa tremideira nas pálpebras quando a minha respiração de batia na cara. Os teus lábios pediam companhia, como a areia lisa de um praia inexplorada, que espera os passos de alguém que a deforme.
Beijei-te levemente a face e suspirei-te qualquer palavra amorosa, na sua amada circunstância. Disseste-me, com a tua doce voz musical, o que eu mais desejo ouvir.
Pedi-te que me desses a mão sem olhares em redor. Pedi-te que me levasses às estrelas do teu céu, ao mar da tua praia, ao luar da tua noite, ao centro do teu mundo.
Acedeste ao meu pedido, num abraço carinhoso e beijos apaixonados.
Partimos daqui ao céu. E não voltaremos.

Diogo Hoffbauer

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Devaneio Canadiano

Esta não é a primeira vez (nem será a última, perdoem-me os entediados pelo tema!) que falo de música aqui no 'devaneio'. Gostava então de partilhar convosco um gosto pessoal, uma paixoneta musical que me assola não ha muito tempo, mas com alguma intensidade!
Os que me conhecem saberão do que falo, e terão até estranhado que não tenha falado antes dela (dele?).
Apelidaram-no já de novo Frank Sinatra, sendo ele poeta de outras vozes, intérprete de músicas de báu. Charmoso, criador de música que renasce das cinzas a par com a sua voz doce e meiga, o canadiano é também ele compositor de grandes êxitos mundiais, "Let me go hooooome... I'm just too far from where you are, I wanna go home.." que terão passado tão despercebidos quanto o próprio, neste nosso Jardim-à-beira-mar-plantado...
Chega de mistérios, porque se que quero realmente promover o senhor mais me vale dizer de uma vez o nome dele! Falo, então, de Michael Bublé, nascido em Vancouver - Canadá, actualmente com 32 anos, comprometido (BOLAS!) e cujo último albúm, Call me Irresponsible, lançado em Maio passado, atingiu tops mundiais nos EUA, na Austrália, em países europeus como Itália e Alemanha e, claro está, na sua terra natal, Canadá.



Este intérprete conta já com três álbuns lançados, a par com um mini-álbum, se assim lhe podemos chamar, com clássicos de Natal. A música que o catapultou para a fama foi o single "Home",composto pelo próprio e que tocou nas rádios durante o ano de 2005, chegando mesmo a ser um dos temas principais da telenovela 'América' dos nossos companheiros brazucas. Este ano o tema que ecoa é "Everything", tema também composto pelo próprio para a actual namorada (BOLAS!)e que seduz muitas jovens ladies de coração palpitante..
O seu estilo Presley-Sinatra faz faísca nos palcos mundiais, a par com a sua humildade, o seu bom-humor e o talento de compositor-intérprete de boa música. Desde jovens adolescentes a avózinhas, avôzinhos!, Bublé cativa, Bublé fideliza, Bublé apaixona.
Confesso que muitos devaneios já ele me provocou (BOLAS!) e que nas suas músicas revivo clássicos esquecidos e até desconhecidos (já que eu não sou do tempo deles...!), revendo nas letras e melodias um romantismo energicamente doce... Desde os ritmos quentes de dança de salão, como sambas ("It Had Better be Tonight"), rumbas ("Tell me quando, quando, quando") e cha-cha-chas ("Sway" e "Save the Last dance for me"), passando por clássicos como "I've got you under my skin" ou "Fever" e "I'm your Man", Bublé é tanto amado como criticado, pois se para uns ele revive o passado, para outros ganha crédito com músicas dos "verdadeiros músicos".
A mim nada disso me interessa. Porque na voz de Bublé é tudo "sweetie pie", como ele próprio canta numa 'réplica', sigo de perto a carreira e ouço fervorosamente os albuns... Pena tenho que o mais próximo de Portugal por onde Bublé passou, na sua Tour Europeia deste Outono, tenha sido Paris..

A ver se converto mais uns quantos leitores do 'devaneio', para o senhor (senhor? tem 32 anos!) saber que há fãs aqui à sua espera, deixo-vos o 'hit' do momento "Everything" , uma minha recente descoberta de um dueto com o brasileito Ivan Lins, na música "Wonderful Tonight" e, o clássico "Let it Snow" - já que o Natal está aí á porta!
A ver se me sai um Bublé no sapatinho... :)


"So la la la la la la la ..."



> Mariana Silva