sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Um Almoço no Café...



Queres olhar para mim e dizeres-me o que sentes? Olhar para mim um dia e descarrilar todos os sentimentos abafados, todos os desejos reprimidos? Podes fazê-lo. Deves fazê-lo.
Aliás, deixa-me dizer-te que é meu sentimento abafado e desejo reprimido que tu me olhes e encontres no meu centro tudo aquilo que é para os demais invisível, pois acredito que os teus olhos têm um qualquer radar capaz de ver tudo aquilo que em mim existe.
Porque eu, eu amo-te, e sem esse descarrilamento nunca poderei saber se me amas de verdade, tu, quieto como uma coruja sábia, sempre austero e respeitador, nunca dando importância às minhas birras e provocações, e ignorando todas as investidas que tento evidenciar para te trazer a mim.
Deixa-me aconchegar-te nos meus braços de arco-íris, saborear a tua alma e polvilhá-la com as especiarias que o meu mundo comporta, enraivecer-te, contraplacar-te contra a estante desses livros desinteressantes que a tua inércia cultural mantém poeirentos mas que a tua consciência continua a comprar compulsivamente.
Revolta-te. Preciso d sentir que tens vida dentro dessa caixa de ossos ambulante, que sangras por dentro quando alguém te pisa, que sentes realmente uma vontade de possessão e que és animal por milésimos de segundo, quando almoças, no café da esquina, e enquanto o guardanapo limpa os molhos esquecidos ao acaso nos teus lábios, uma mulher se bamboleia…
Não sou mulher de alma firme ou espírito tranquilo, mas acredito que também não o sejas, que também te sintas linha torta de um equador desequilibrado, que anseies por um abraço que embale os teus medos, e que me queiras contigo...
Não estou aqui para te salvar, nem tampouco quero que me salves! Quero, antes, se assim o tiver de ser, que nos afoguemos juntos neste oceano perdido de mentiras e segredos ondeando entre os humanos…
Por isso, espero ainda entrar no café onde almoças e bambolear-me à tua frente, enquanto tu sentes uma vontade avassaladora de me possuíres e, não sabendo como lidar com ela, deixas sair em catadupa tudo o que sentes, sem abafares ou reprimires o desejo de que saiamos do café de mãos dadas, rumo a um sem fim gostosamente desconhecido…



>Mariana Silva

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O Donut de Eros

Hoje, duas pessoas me chamaram "amor": a minha mais-que-tudo e a mulher que me vendeu um donut no café da Trindade.
Isso fez-me questionar acerca do verdadeiro sentido e conotação da palavra "amor", a sua deturpação, a sua repetição, a exaustão da sua musicalidade.
A mulher do café, feia que nem um bode, dá-me o donut a correr, eu agradeço e ela diz-me, numa despedida ao nível de um dramático filme romântico: «Adeus, amor».
Cheguei a questionar-me acerca da identidade daquela mulher. Será a minha verdadeira mãe? Será que, numa noite de bebedeira que já esqueci, me envolvi com aquela mulher e ela apaixonou-se pelos meus incríveis ossos? Não saberei.
A verdade é que a mulher disse "amor" com as mesmas quatro letras com que Camões a chorou, Shakespear a dramatizou para Romeu a gritar; a mulher disse "amor" com a mesma musicalidade concreta com que Eros a criou.
Se este uso exaustivo da palavra "amor" se propaga, que significação terá quando eu a disser? (eu digo, quando eu a disser a alguém que me faz sentir feliz, e não a alguém que me compre um donut...).
Eu corro o risco de ainda ser vivo no dia em que alguém diz "amor" como forma de cumprimento.
Já ouvi dizer "amor" em troca de sexo. Mas em troca de um donut?...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Confissão



Vontade de correr, pelo mundo das horas tortas e das pressas desenfreadas, de te encontrar num canto escondido da cidade descampada, de te tocar, de te agarrar a mão quente a contrastar com o meu gelo natural, e poder sussurrar ao mundo – sussurrar sim, que eu nunca fui muito espalhafatosa – que és meu e eu sou tua, que realmente nos entregamos, a medo, nas mãos um do outro que nos completa...
Quero crescer e levar-te comigo no bolso, eu dentro do teu e tu dentro do meu, passearmos-mos, exploradores, dentro um do outro, a amarmo-nos, a conhecermo-nos, a sermos nós com medo de que outro não seja ele, a sermos outros com medo de que o outro seja realmente ele próprio.
Quero poder caminhar com a certeza de que alguém me espera no outro lado da rua, na extremidade da estrada, do lado de lá da tempestade, e que a vela que eu carrego acesa, nas minhas mãos abertas, cautelosas, não se apagará.
Quero certezas incertas e promessas parvas, quero beijos no pescoço e cócegas desses mesmos beijos, quero soluços imparáveis e choros e risos cómicos, e palermices ditas com bebedeiras.
Quero que me prometas o mundo de mãos vazias, e que eu acredite mesmo sabendo que as tuas mãos nunca o poderiam carregar.

Porque não tens tu uma vontade de correr pelo mundo de horas tortas e das pressas desenfreadas, correr para mim, sussurrar-me a mim, amar-me a mim, ser meu e eu ser tua, sermos simplesmente?
Porque não sou eu tudo e ainda mais tudo o resto que tu desejas para ti?

Queria tanto crescer dentro do teu bolso, aprender a ser o que tu desejas, aprender a ser o que tu não desejas, voar sem asas e perceber que não tirei sequer os pés do chão – simplesmente porque não é necessário. Sentar-me à tua frente, querer ter-te mas dizer simplesmente que o desejo de ser salva aumenta a cada noite solitária...

Salva? De mim mesma…

Terei horas, terei pressa? Não devia, mas tenho. Porque vivo neste mundo de horas tortas e pressas desenfreadas, e não no teu bolso, e tu no meu…


Mariana Silva

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Mendigar

Incrível esta história da chuva. Toda-poderosa, rearranja vidas e reformula horários de forma imperiosa. Obriga-nos a correr molhados pelo nosso percurso, encharcados de desculpas forçadas. Purifica-nos a alma com as suas lacrimejais gotículas, lava-nos o corpo das impurezas causadas pela falta de moral e de condição que acaba sempre por ser o rigor pontual, ou a falta dele.
Abrigo-me desta tirana realidade no toldo do teu abraço. Sinto o aquecimento do bater do teu coração, no sangue que te adoro ver a correr nas veias quentes, as labaredes que infundem do teu olhar vivo e flutuante. Refugio-me na passadeira das tuas mãos, mendigo eterno das ruas da tua circustância. Deambulo pelas passeiras que traças com os teus passos, aqueci as gélidas mãos no forno da tua alma, e deitei-me. Aninhei-me no cobertor da tua pele. Recostei-me na almofada da tua língua aconchegadora.
Reconfortei-me em ti e adormeci, ao som da chuva e do sussurar de um beijo teu.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Sem pressa para as palavras...



Ontem vi um poeta.
Podem achar estranho escrever sobre alguém que apenas vimos, e não conhecemos, mas quantas vezes também acontece conhecermos alguém sem o vermos realmente?
Pois entrei eu num café, perdida nos meus pensamentos que, ainda que muitos, ultimamente não têm andado muito profundos - falta de paciência para os desenvolver, creio eu; sentei-me numa mesa ao canto, mais aconchegada, que o frio já enregela os ossos e os problemas, tornando-os mais firmes e insuportáveis, quando deparei com um poeta ao meu lado.
Um poeta, austeramente simpático, chapéu negro, escondendo o cabelo ou a falta dele, óculos grandes, vibrantes, fixados na página, o tempo marcado nas mãos que bailavam com mestria no salão de papel, rugas vincadas nos anos das palavras. Era, deveras, um poeta.
Vê-lo ali, a viver para as folhas em sua frente, fez-me pensar na verdadeira entrega a que a vida nos obriga, ao compromisso diário que, ainda que inconscientemente, temos para connosco e para com outros que nos fazem ser nós. Vê-lo ali fez-me pensar, pretensiosamente, como estarei eu, daqui aos muitos-poucos-muitos anos que a vida me reserva: se estarei eu a viver das folhas e da tinta, se estarei eu ainda a respirar este mais-menos-mais que nao sei explicar e que é tão meu como eu sou dele...
E o poeta continuava ali, compenetrado nas suas palavras, nos seus versos, na sua escrita, e nem mesmo os burburinhos de café, os arrufos dos empregados, as bandejas que passavam, furtivas, de um lado para o outro, a correria da vida a acontecer... Nem mesmo tudo isso alheio a ele o fazia distrair-se, quanto mais alhear-se!, de si mesmo, das suas palavras, dos seus versos, da sua escrita...

Ontem vi um poeta.
Os que me conhecem pessoalmente poderão estranhar este texto dedicado a 'um poeta' que nunca saberá, sei lá eu!, que este texto foi escrito; ainda mais estranharão se considerarem que estou rodeada de 'poetas', de 'amigos poetas', de 'colegas poetas'.
Mas este era um 'estranho poeta', que após considerar terminada a sua tarefa, se levantou, arrumando os papeizinhos numa capa a transportar debaixo do braço, pagou o seu cafézinho e saiu, a passo lento de quem vive extasiadamente sem pressa para as palavras.
Porque este poeta que eu vi, era, antes de poeta, mestre do tempo, das horas mortas e das agonias desmaiadas, cujos ponteiros paravam sempre à mesma hora, naquele café, para que voasse de si a vida, para o ninho de papel...

Foi ontem, hoje? quando?, que eu vi um poeta...



Mariana Silva

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Devaneando... porque é tudo mais um sonho...

Fala-se de sonhos como se nascessemos já com os bolsos recheados deles, como se brotassem em nós abrindo caminho, meio a medo, sem medo, corajosos. E assim o é, de facto.
Abrimos os olhos às circunstâncias, aterrando na vida como se de uma cama fofa se tratasse, ensaiando as sestas para dormir depois o grande sono.
E é sempre tudo mais um outro sonho, bom ou mau, mais uma outra miragem, mais um sorriso, um olhar furtivo, uma palavra simpática, um beijo suave, um sim, um não, um grito, uma gargalhada, um pôr de sol, uma nuvem, um par de mãos dadas, um acordar feliz, uma poça de água, um bom chocolate, a maresia envolvente, um gelado dividido, um amor partilhado, uma chapada em face alheia, um elogio, uma discussão feroz, uma coca-cola, um toque, um livro, uma crítica arrojada, uma lágrima, um bolo de aniversário, um momento, muitos momentos, uma vida, muitas vidas...
E vamos acordando, durante a jornada, batendo com a cabeça na parede ao virarmo-nos para o outro lado, cansados já de dormir para o lado em questão, voltando a virar-nos de seguida, caindo da cama, levantando-nos carrancudos, enterrando a cabeça na almofada fofa...
E vamos crescendo: aprendemos a não errar ou, pior, a como errar de novo; aprendemos a sermos nós ou a sermos outro que escolhamos; aprendemos que o mundo fez as pessoas, assim como foi e é feito por elas, a cada minuto, a cada vida que nasce, a cada vida que parte.. A cada sonho «que brota, a cada pesadelo que se entranha, a cada gesto salvador, a cada condenação de vidas alheias ou da própria.

É tudo uma questão de tempo, de circunstâncias, não tendo o 'sim' e o 'nunca' qualquer valor senão o efémero que lhe damos; é tudo uma questão de percebermos que para dependermos dos outros também alguém terá de depender de nós; é tudo uma questão de percebermos que além de sermos alguém no mundo, temos de viver como se o fossemos de facto, ajudando, sendo ajudado, fazendo progredir, progredindo, plantar para também crescer.


Porque é tudo mais um sonho...


Mariana Silva

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Pré-Paizão

Toda a gente tem um momento decisivo na vida, aquele ponto de viragem dos rotineiros principios existenciais que pululam nomadamente durante as nossas semanas e voltam teimosamente na segunda feira. Eu tive esse momento no dia em que, como que se estivesse escrito nas estrelas, me perdi de amores por uma rapariga amorosa, que desde então me tem preenchido a vida de tal maneira que quase me esqueço que tenho realmente uma vida própria. Esqueço-me porque não necessito de vida própria quando tenho uma vida com ela...
Mas a verdade é que me aguarda - e eu aguardo por ele - um ponto verdadeiramente decisivo no meu percurso: o nascimento do meu primeiro filho.
Eu imagino-me pai. Mas mais que pai imagino-me "pré-pai", um pai "Pré-Natal", que quando o filho ainda for uma sementinha já tem uma bola de futebol para estrear em casa, um guizo que pela altura em que o bebé nascer já nãoo funciona, um baby-grow que já se sabe que não vai servir - um baby-grow que vai decidir o sexo do meu filho, já que, com o azar que não me falha, se comprar cor-de-rosa será menino e os amigos bebés vão-lhe bater no infantário; se comprar azul será menina e jogará futuramente futebol com os meninos.
Imagino-me a acordar às quatro da manhã, com o toque da minha mulher, a apetecer-lhe um chocolate Ferrero em pleno Verão. E vou eu de carro até ao Leste, onde o tempo é frio e o Ferrero não sai do mercado. E sei que vou voltar a casa e a minha mulher não vai comer o chocolate todo, vai deixar metade e vai-lhe apetecer abacate.
Imagino-me a escolher um nome para o filho, de "O Grande Livro dos Nomes" na mão, sublinhando uns, rindo-me doutros, vomitando alguns.
Imagino-me na sala de espera do Hospital - com o azar que eu tenho, será cesariana e eu não poderei assistir - fumando todos os cigarros que tenho evitado ao longo da vida, perdendo uma semana e meia de existência só naquele tempo que estou à espera de notícias. E a parteira vir-me dizer "Já nasceu, é um rapagão!" ou "Já nasceu, é uma linda menina!" e "Estão ambos bem!". E eu corro para o quarto onde repousa o meu rebento, pequenino, frágil, vermelhíssimo, feio como qualquer outro, mas tão especial. "Tem os olhos da mãe", dirão. "Como é que sabem se ainda não os abriu?", responderei. "Herdará o nariz do pai?", perguntarão. "Espero que não", responderei. "E o corpo, será do pai?", insistirão. "Virem essa boca para lá!", implorarei.
Farei planos para ele. "Será um craque a jogar futebol, uma mistura explosiva da impulsão de Cristiano Ronaldo e a técnica de Deco. Será óptimo aluno, empenhado, inteligente e muito educado. Será lindo e terá resmas de raparigas atrás dele, esperemos só que não engravide nenhuma, nem idade tenho para ser filho, quanto mais para ser avô... Conquistará milhares de amigos e simpatizantes pela sua simpatia, bondade, sorriso encantador e íncrivel capacidade que herda do pai de conseguir fazer barulhos com o pulso". Tudo bem que a ordem das prioridades não é exactamente esta, mas que o meu filho será isto tudo e muito mais tenho eu a certeza. Bem, se jogará muito bem à bola, isso tenho que acreditar nas palavras do meu avô que afirma que no seu tempo era um virtuoso da bola e rezar para que os genes desporivos o meu filho os herde dele.
Até lá, aproveito para dormir. E quanto vou sonhar com estes momentos de repouso quando acordar a meio da noite, não com o desejo de abacate da minha mulher, mas com o desejo de algo lactícinio do meu insuportável filho.

Diogo Hoffbauer

sábado, 10 de novembro de 2007

outro textinho para vos deprimir...!

Olho pelo canto do olho, a ver se uma qualquer faisca surge, já entoncedida de tão planeada, desejada, esperada.. Mas não, não vês, não ouves, e pior de tudo, não sentes. O meu tudo, que deposito em tuas mãos, neste momento, é nada, é pó baço de areias longínquas, é vento silencioso de um interior revoltado, e todas as certezas incertas não são nada nesta certeza de ser...
Dá-me vontade de te abanar, de fazer com que sejas mais do que és agora, de fazer-te explodir para me dizeres tudo, tudo isso que o teu olhar não mais diz, baço, perdido, como as areias do deserto que me roubaste...
E tu foges, continuamente, nessa fuga doida de menino perdido, de amante solitário, e eu fico a pensar se és realmente aquele por quem me apaixonei, aquele que aqueceu as noites perdidas do calendário moribundo, aquele que trouxe o mundo nos bolsos e que me deu diamantes em bruto para talharmos os dois, à nossa maneira, ao nosso sabor.. Fico a pensar se serei eu a sombra pesada que te assombra, que assombra o nós que eu queria talhar, qual diamante precioso.. E tu não vês, não ouves e pior, não sentes..
E tudo sempre o mesmo, sempre esta espiral tonta que me entontece, e és sempre tu esse que tal, és sempre tu a sombra de mim, da minha sombra, e tudo gira em torno do nada que é o meu chão...

Vê, ouve, sente.. estou aqui..
E a noite é tão fria...




Mariana Silva

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

poema melancólico, porque também é preciso!



O que dirias,
ao ver as lágrimas que tombam queimando o asfalto, volvendo a terra fria...

O que dirias,
ao tocares a face dos meus medos,
ao sentires-me pulsar em ti,
ao perceberes que os carris prosseguem para o infinito lado a lado...

O que dirias,
entendendo o desespero, o medo,
a pouca vida a tentar sobreviver,
os beijos a ganharem força
para voar em direcção a ti...

O que dirias, diz-me, o que dirias,
se soubesses que te escrevo nas frias noites deste verão eterno,
e que as paredes se encolhem
e me embebedam,
me enlouquecem!

O que dirias se visses o todo de mim que se esconde dos espelhos,
se enfrentasses o monstro de mim que assombra castelos,
se conhecesses o pedaço de mim que anseia plantar estrelas
no céu vazio da escuridão
destas frias noites deste verão eterno...

O que dirias, diz-me, o que dirias,
se soubesses, se sentisses,
que és tu quem pulsa tudo o que resta,
que conquistaste o teu espaço,
que plantaste a tua vida,
o que dirias?

E o que diria eu se tu dissesses finalmente?

Serias ainda tu...?



>Mariana Silva<

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Antigamente...

Hoje lembrei-me de como era ser 'eu' há uns anos atrás. Olhei para mim e vi-me, antigamente, tanto quanto é possivel ser antigo na minha idade.

Lembro-me das preocupaçoes com a hora dos desenhos animados, do Dragon Ball ou da Sailormoon, irritando toda a gente cá de casa, com as minhas urgências infantis. Lembro-me de como não enfiava uma única colher de sopa à boca, como a minha mãe me perseguia paciente, pois era desumano deixar-me sem comer, e muito mais humano era esperar que eu desse uma volta de triciclo entre cada colherada!
Lembro-me do primeiro cd que me ofereceram, pois a minha música era sempre ouvida em cassetes, esse bicho extinto do qual apenas vemos fósseis hoje em dia, e de esse mesmo cd ser o primeiro cd da menina que originou um dos meus primeiros posts, Miss Bitchney Spears.
Lembro-me da primeira peça de teatro em que participei, nervosa, com um fato de joaninha simpática, no qual tinha apenas uma fala, em inglês, dizendo: 'I can't help you, I'm a Ladybug' da forma mais convinente que conseguia, visto estar a falar para um coelho que era mais pequeno do que eu...
As roupas coloridas e desconexadas dos anos 90, que ainda vivem nas fotos e das quais os meus 'filhos' (?) provavelmente se irão rir um dia, se já eu o faço. As dezenas de Barbies, com os seus milhares de acessórios, as suas casas e casotas, carros e carruagens de princesa, os seus maridos, amantes, filhos e animais de estimação... Os filmes da Disney, essa minha colecção escrupulosamente guardada num armário exclusivo, onde moravam os maiores clássicos dos desenhos animados. As histórias que o meu pai contava, a ver se eu adormecia, e eu a corrigi-lo, pobre pai!, a ensinar-lhe a história que eu queria ouvir..E ele, já derrotado, acabava por adormecer primeiro do que eu, entre as cotoveladas e evidentes 'Paaai!' que o atordoavam.
Lembro-me disto e de tanto mais, que um post não chega para dizer de tudo o que me lembro do antigo 'eu'. Mas sérá ele mesmo antigo? Ou serei eu, seremos nós, uma constante lagarta em metamorfose?
Borboleta? Ok, não me importo, se bem que sou mais a favor de joaninhas.. :)
No entanto sei, bem lá no fundo, que nunca abandonarei o casulo...


Mariana Silva

Jesualdo, tira a camisola!

Hoje no jogo do Porto, além de me ter exaltado com os dois golaços com pronúncias árabe e espanhola, e de ter gelado com aquele que soou a francês, reparei num pormenor bastante interessante que é a reacção das pessoas ao facto de que estão a ser filmadas.
Há vários tipos de pessoas neste campo. Em primeiro lugar, queria destacar precisamente aquelas que não dão conta de que têm objectivas a focá-las. Continuam a fumar, a falar, a coçarem-se. E neste caso queria fazer uma observação: cuidado! Eu reparei que nem sempre estou com atenção, quando vou ao Dragão, ao ecrã gigante, onde aparecem as pessoas que são filmadas. Eu sei que me sento sempre na bancada superior, que as câmaras não focam, mas supunhamos que acontece que alguma camera-woman, encantada comigo e com os meus ossos salientes, me foca. Eu tenho portanto que estar atento a essa possibilidade, não vá eu ser apanhado a fazer algo que não será propriamente para ser visto por milhões de pessoas. Não que eu o costume fazer, não costume, mas suponhamos que me apetecia, por acaso, nesse momento. É sempre algo chato.
A ida ao estádio é, portanto, um Big Brother em ponto grande. É um Gigantic Brother. Com a única diferença de que não há expulsões. Quer dizer, há. Mas só para os vinte e dois macacos lá em baixo. E também não há prémio no fim do jogo. Quer dizer, há. Mas só para os vinte e dois macacos lá em baixo. Para os restantes milhares, é a gastar nos bilhetes. Ou no meu caso, ir enfardar-me no McDonalds para ganhar bilhetes e ir à bola com o meu amigo Fábio.
O segundo tipo de pessoas que são filmadas são aquelas que cumprimentam a câmara. São pessoas bem formadas, bem educadas, polite people. Normalmente são mulheres que o fazem, curiosamente. Ou são mulheres bonitas acompanhadas de uma amiga feia que agarram a feia pelos cabelos e obrigam-na a mostrar o reluzente aparelho para todo o mundo com um alegre "olá"; ou é uma mulher feia acompanhada do marido que está ali para ver a bola e já não lhe bastava a maçada de ter uma esposa feia como também é obrigado por ela a mostrar ao mundo que não tem dentes.
Depois há uma terceira categoria: aqueles que levam cartazes e nem sequer estão a ver o jogo. Estão sempre a olhar para o ecrã à espera de aparecerem para poderem elevar o ser cartaz. Mas quando o vão a fazer, já a câmara baixou e eles já perderam a oportunidade. Talvez devessem tentar ir ao wrestling, aí é que elevam cartazes até não se sentir os braços. Contudo, há alguns cartazes que se conseguem vislumbrar: há aqueles que são do género "fulano de tal, dá-me a tua camisola", que me fazem duvidar da masculinidade daqueles que vão ao futebol. Vão para ver a bola ou vão para ver os jogadores? É que, de facto, a rapaziada quer é ver os suadíssimos vinte e dois macacos lá de baixo de tronco nu. Inclusivamente, houve uma que me intrigou: "Raúl Meireles, dá-me a tua camisola!". Meireles? Aquele magricelas? Era a mesma coisa que me dizerem: "Diogo, faz um strip!".
Resumindo: sempre que forem à bola, tenham um olho na bola, outro no ecrã e se precisarem de mais olhos para micar o pacote de pipocas, arranjem-se. Não podem é deixar o ecrã descompensado.

Diogo Hoffbauer

domingo, 4 de novembro de 2007

A primeira viagem rumo a ti

Já me chamaram "grande maluco". Já me chamaram "looool". Já me chamaram "demais". Já me chamaram "altamente". Já me chamaram "idiota". Tudo devido aos textos que supostamente contêm um humor que põe a gente doida. Desde já agradeço os "elogios". Mas eu também sei escrever textos sem uma pinga de humor. E provo-o hoje, com um poema da minha autoria para a rapariga da minha vida e dedicado ao nosso primeiro contacto... Ela sabe quem é, vocês não têm de saber.



Abraço o teu cheiro de uma envolvente melodia de aromas doces. Deixo-me levar, triunfante, confiante, pela corrente dos teus lábios de um tumultuoso mar de palavras imortalmente amorosas. Fito o cheio brilho dos teus olhos de maresia aberta.
Estendem-me uma passadeira à minha chegada à costa. Uma passadeira vermelha de ser desejada, receptiva, louca da espera. Piso-a devagar, saboreando o meu andar, avanço em direcção ao desconhecido. Sem pressas, sem receio mas também com algum nervosismo, tal foi o tempo que durou a viagem. Foi viagem suada, desventurada, duradoura, simultaneamente sofrida e feliz.
Recebe-me o vento do suspirar das tuas palavras e a chuva das lágrimas já derramadas. Escorrego no tempo que já lá vai, corro em direcção ao tempo que vem. De mãos dadas contigo, por uma praia inexplorada nas quais as primeiras pegadas são dadas pelos nossos lábios apaixonados.
Mergulhamos no mar, refrescados do sol que chateia. Beija-mo-nos encharcados de sal e vontade, corremos em risos acompanhados pela música do sussurrar das bocas.
Senti-mo-nos a tremer num terramoto em que o epicentro está nos nossos lábios.
Deixa-mo-nos levar por um buraco negro tão alegre, tão esperado, tão feliz.
Afastam-se os lábios. Fito os teus olhos brilhantes, verdes de jardim estival.
De mãos dadas contigo, ainda sinto o sabor da chiclete que mascas.
Amo-te com as mãos, com a boca, com os olhos, com o coração. Pronto para mais uma viagem.

Diogo Hoffbauer

sábado, 3 de novembro de 2007

O Novo Look da Batata

Como devem ter reparado, desde há uns dias que a Batata tem um novo look. Peço mais uma vez desculpas à Batata pela ausência de um post em sua honra e do esforço que ela fez para ficar mais bonita e aprazível aos leitores, mas a falta de tempo, inspiração, paciência (ou o que lhe quiserem chamar) dominou-me e não deixou executar essa minha obrigação moral.
Mas olhem então bem para a Nova Batatinha que se apresenta, ela que dê uma voltinha para vocês poderem apreciar os pormenores e graciosos detalhes da sua constituição. Sim, porque digam o que disserem, o visual, o look, é tudo nos dias de hoje, e ainda que em termos de interior a Batata estivesse e esteja em alta (!!!), o seu exterior pode e deve ser sempre melhorado. Porque a Batata é vaidosa, porque a Batata merece!
Aproveito desde já para agradecer ao 'Consultor de Imagem' Afonso Reis Cabral, que desde sempre apoiou esta Batata em crescimento, e que agora lhe deu o seu toquezinho de bom gosto, renovando-lhe o look. Sim porque de blogs percebe o ARC, e ele sabe o quão dificil é um blog impôr-se no seu meio, criar raízes, arranjar leitores fidedignos. E é sempre bom para um blog sentir-se cortejado por outros blogs, fazer amigos cibernéticos, arranjar uma vida social.
Por isso, parabéns à Batata pela sua imagem, e nem sequer precisou de ir ao Doutor Preciso de Ajuda para lhe fazerem todas as plásticas e mais algumas.
O que imperou foi a boa vontade e o companheirismo. E o resultado está à vista: a Batata é já o nosso 'spot' de devaneios, tem uma imagem cativante para que outros devaneiem connosco e já travou amizade com o 'Janelar'...

Diria eu que neste mundo de quinze minutos de bom comportamento e brilho, a Batata vai já bem lançada na sua existência de quase duas semanas de devaneios.
Até já a Batata Casada a quer cortejar, esquecida das Barbies plásticas que outrora a assediavam... :)


Mariana Silva

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Nacionalidades

Voltei.
Eu sei que a minha demorada ausência provocou muitos desgostos em milhares de leitores assíduos, e desde já as minhas desculpas. Mas é que realmente não me tem apetecido, e quando há falta de vontade em questões de escrita são raras as vezes em que isto resulta em esterco literário. Para isso, não vale realmente a pena. Para escrever o meu querido e característico esterco literário, faço-o com vontade.
Ora bem, eu hoje vou-vos falar da Rússia. Ambas as batatas têm uma colega russa, chama-se Olena ou Ilhena ou Helena ou Alona, nunca vou saber ao certo, mas também não interessa. Ora esta colega foi quem me contou de uma lei incrível em vigor na Ucrânia, um dos cerca de três milhões países visinhos da Rússia, que decreta o seguinte: se uma pessoa estiver ausente do país mais que 7 anos perde a nacionalidade ucraniana; se algum cidadão estrangeiro estiver a viver na Ucrânia mais que 7 anos, tem de ser só ucraniano. Eu acho que esta lei leva ao extremo o sentido patriótico: eu por exemplo já fui tanto ao Algarve que já era inglês por agora. Alguém ucranino vai às compras no país vizinho, atrasa-se no trânsito, quando chega a casa já é russo. Alguém que vá passar férias a Angola, volta para a Ucrânia e já é preto. Algém vai visitar um familiar à África do Sul e já volta pedófilo. Alguém vem a Portugal e já volta de bigode.
Mas a verdade é que esta lei teria feito o maior sucesso no nosso país. Reparem que se esta espatafúrdia lei estivesse em vigor aqui no nosso Portugal, os McCann por esta altura já eram mais portugueses que o Camões, dado que estiveram cá - curiosamente - até o calor se despedir. Ora isto queria dizer que estariam sobre as nossas leis, e como tal não seriam protegidos pelo governo inglês, porque é certo e sabido que os ingleses não protegem ninguém que não tenha nascido em terras de Sua Majestade. Teria sido de facto mais eficaz.
Acabei por me desviar do tema "Rússia",espero que me desculpem.
Para acabar, uma frase sobre a Rússia:

A Rússia é grande.

Diogo Hoffbauer